No contexto escolar, existe um grupo de estudantes cujo compromisso com a comunidade é essencial: o Grêmio Estudantil. Apesar de ser frequentemente reduzido apenas como um órgão responsável pela organização de eventos e atividades extracurriculares, a verdadeira relevância de um Grêmio Estudantil organizado é o de cumprir um papel político na vida dos estudantes.
Lucas Jagiello | Florianópolis
JUVENTUDE – A representação estudantil serve como um canal direto entre os estudantes e a administração escolar. Ao eleger democraticamente uma chapa ativa, os estudantes ganham uma voz unificada para expressar preocupações, propor melhorias e participar do processo de tomada de decisões dentro da escola. Além disso, essa atuação política desempenha um papel crucial na promoção do engajamento dos estudantes ao organizar eventos, atividades e iniciativas que estimulam os seus colegas a se envolverem com a vida escolar de forma significativa.
Um exemplo a ser dado é a Escola de Educação Básica Professora Lilia Ayroso Oechsler, na cidade de Jaraguá do Sul–SC, que foi palco de uma atuação estudantil combativa. Há quatro anos, através da organização de estudantes, foi possível resgatar a essência do movimento estudantil secundarista nesse espaço. Isso só foi possível a partir de uma gestão de Grêmio estudantil, que proporcionou melhorias estruturais na unidade escolar por meio de eventos como o “Baile de primavera” e a adoção de projetos sociais como o “Galera Curtição Liayo”. Além disso, o Grêmio também cumpriu um papel fundamental no auxílio de estudantes e funcionários com problemas de convivência, encontrados depois de um longo período de isolamento causado pela pandemia do Covid-19.
“Mediante todo apoio dado não apenas pelo administrativo escolar, mas sim pela comunidade, conseguimos ao longo da gestão cumprir metas impressionantes, como o desenvolvimento de projetos voltados tanto para o ensino fundamental, quanto para o ensino médio, a criação e revitalização de novos espaços para os alunos e o resgate de um pedaço da história de nossa cidade, homenageando a patronesse, Prof. Lilia Ayroso Oechsler com um memorial em comemoração aos 90 anos da escola”, afirma Amanda Klebowski, Presidente do Grêmio Estudantil da E.E.B Prof. Lilia Ayroso Oeschler.
Essas ações não apenas fortaleceram os laços entre os estudantes, mas também criaram um senso de pertencimento e responsabilidade dentro da comunidade escolar.
O primeiro contato com a democracia
Para muitos jovens, o primeiro contato com os princípios da democracia não ocorre nos bancos das universidades ou nas urnas eleitorais, mas sim nos corredores das escolas, através do envolvimento no grêmio estudantil. Essa experiência oferece aos estudantes uma oportunidade única de aprender sobre participação cidadã, representação e tomada de decisões coletivas.
Em muitos casos, o processo de eleição para o grêmio representa o primeiro contato com a vida política. A campanha eleitoral, os debates políticos e a votação para o Grêmio são momentos em que os estudantes aprendem sobre a importância do diálogo, da persuasão e do respeito às diferentes opiniões.
Os estudantes que participam têm a oportunidade de compreender que são agentes ativos na política desde cedo. Ao se envolverem nas atividades do grêmio, eles percebem que têm o poder de influenciar as decisões que afetam suas vidas e as de seus colegas. Essa experiência permite entender a importância do engajamento cívico e perceber que suas vozes têm peso e relevância no cenário político, mesmo que em âmbito escolar.
A importância de um grêmio estudantil organizado
“A união faz a força”, o famoso ditado popular, não poderia descrever melhor a luta estudantil. O movimento estudantil brasileiro, moldado por contextos sociais, políticos e culturais, desempenhou um papel crucial durante o período da ditadura militar, em defesa da democracia, dos direitos civis e do retorno ao Estado Democrático de Direitos.
Desde o início do regime militar, os estudantes foram alvo de perseguição e repressão por parte do governo golpista. Muitos líderes estudantis foram presos, torturados e até mesmo mortos por se oporem ao regime. Entre eles, heróis como Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, entre outros.
Lutadores memoráveis, que ao longo dos anos, influenciaram uma nova juventude combativa e organizada, como a UFES (União Florianopolitana dos Estudantes Secundaristas). Essa entidade, que representa todos os estudantes das escolas públicas e privadas dos ensinos fundamental, médio, técnico, supletivos e cursos pré-universitários de Florianópolis, ao longo de 2023, foi responsável por realizar diversas atividades na região metropolitana de Florianópolis.
Não abrindo mão de pautas como, a revogação do Novo Ensino Médio, o combate ao fascismo e às opressões nas escolas e a luta pelo passe livre para toda a juventude, a UFES provou que os movimentos estudantis organizados desempenham um papel vital na construção de sociedades mais justas, inclusivas e democráticas. Em um mundo marcado por desigualdades e injustiças, o movimento estudantil continua sendo uma voz poderosa em defesa dos direitos humanos, da justiça social e da democracia, inspirando esperança e transformação em todas as esferas da sociedade.