Não é possível falar do livro “O ministro Che, testemunho de um colaborador”, sem falar de seu autor, Tirso W. Saenz. O livro de Tirso é um testemunho de alguém que virou revolucionário e conheceu a Revolução e participou ativamente da construção do socialismo em Cuba. Além disso, traz outra parte, pouco conhecida e divulgada, da história de Che, que é seu papel na construção do socialismo em Cuba, o Che como ministro.
Gregorio Motta Gould | Salvador
SOCIALISMO – Não é possível falar do livro “O ministro Che, testemunho de um colaborador”, sem falar de seu autor, Tirso W. Saenz. Ele nos deixou aos 92 anos, após participar do lançamento do seu livro junto com a militância da União da Juventude Rebelião (UJR), no dia 29 de fevereiro deste ano. Engenheiro em Cuba quando aconteceu a Revolução, em 1959, Tirso se engajou na consolidação do processo revolucionário e se transformou em um revolucionário, sendo vice-ministro de Che Guevara no Ministério da Indústria.
A ausência nos entristece, mas, se existe uma melhor forma de um revolucionário se despedir da vida, é do jeito que fez Tirso. Com mais de 90 anos, lançando a segunda edição de seu livro, agora pelas Edições Manoel Lisboa, nos braços da juventude revolucionária e trabalhando para que sua experiência sirva para a formação de novos combatentes revolucionários para dar vida ao sonho de Che de construir uma América Latina livre e socialista.
O livro de Tirso é um testemunho de alguém que virou revolucionário e conheceu a Revolução e participou ativamente da construção do socialismo em Cuba. Além disso, traz outra parte, pouco conhecida e divulgada, da história de Che, que é seu papel na construção do socialismo em Cuba, o Che como ministro.
A Revolução é um movimento de massas
São vários os relatos no livro que mostram como o processo de construção do socialismo faz das tarefas e necessidades concretas da Revolução um momento propício para o envolvimento das massas. Isso fica ainda mais claro no “Capítulo 2 – Minha incorporação à Revolução Cubana”, a partir da própria história de Tirso e no “Capítulo – A organização do Ministério e o impulso à produção”, que mostra como Che defendia a criação de mecanismos que envolvessem os trabalhadores nas decisões, na busca de soluções de problemas apresentados e no próprio compromisso com a produção.
Che, simplicidade revolucionária
Em vários momentos, Tirso demonstra como Che se comportava sempre como revolucionário de vanguarda, mesmo em questões que, para outros, poderiam ser vistas como algo meramente técnico. Em uma sociedade dividida em classes, sempre teremos o antagonismo entre os interesses da classe trabalhadora e da burguesia. Uma revolução que subestime isso e tente tratar questões econômicas ou outras como questões “neutras”, ou “sem ideologia”, tende a reproduzir a ideologia burguesa, ainda mais forte na sociedade no primeiro momento de uma revolução socialista.
Isso fica evidente quando Tirso relata a Che uma conversa com o vice-ministro de Indústrias da Polônia, em que esse diz: “Nos assuntos de desenvolvimento não necessitamos falar de Marx nem Lênin, aqui o importante é o dinheiro”, ao que Che exclama: “Estão fodidos! Um país em que não prevalece os princípios morais, sem falar nos ideológicos, não se pode chamar de país socialista”.
O revolucionário é um instrumento da revolução, um soldado nessa guerra revolucionária e se ele ocupa um cargo de importância no Partido ou no Estado, deve se utilizar disso para servir aos interesses coletivos da classe operária e do povo, e de maneira nenhuma se utilizar disso para ter privilégios.
Um livro atual
Além do valor histórico, o livro evidencia como um revolucionário deve agir frente aos problemas concretos da Revolução em seu país; como devemos nos relacionar com o povo e incluí-lo na luta revolucionária; como um comunista deve ter abnegação diante de suas tarefas. Isso fica claro quando Tirso relata como Che ouvia com atenção os outros companheiros do Ministério. Num determinado momento, ele escolheu Alberto Mora para ser seu assessor, mesmo divergindo dele em temas importantes em artigos publicados pelos dois na Revista “Nuestra Indústria Econômica”, pois, assim, poderia debater mais esses temas controversos e, a partir do contraditório, tomar as melhores medidas.
A seguir, algumas opiniões de militantes da UJR sobre este importante livro de Tirso W. Saenz:
“Me marcou a forma de como Tirso, que era apenas um engenheiro e que havia pensado em sair do país, foi arrastado para dentro da Revolução. E ele não foi o único, a Revolução é uma coisa que arrasta.”
Vit Louise, da Coordenação Nacional da UJR (BA)
“Uma das coisas mais marcantes foi o momento em que o motorista do Che, por estar com o Che em uma missão revolucionária, passa direto do pedágio sem pagarem, e, quando Che percebe, pede que ele volte e pague o pedágio. Ou quando Che chega em lugar e vão fazer uma refeição, em um período de escassez de comida e Che recebe um prato cheio de comida e percebe que seu prato era diferente dos demais, devolve o prato e pede para que receba um igual.”
Bruna Freire, diretora da Ubes e militante da UJR (PA)
“O livro mostra que, mesmo as questões ‘puramente econômicas’, possuem um caráter profundamente ideológico, vinculado a uma ideologia de classe. Portanto, é preciso manter-se intransigentemente no campo do proletariado, mesmo nas tarefas ‘menos’ políticas.”
Cauã Antunes, da Coordenação Nacional da UJR (RS)
“O livro aborda diversos problemas, que parece que estavam lá em Cuba, mas que acontecem também no nosso dia a dia, no nosso cotidiano da militância e apresenta a forma de solucionar, como se portar diante deles. Enfim, a atualidade de como podemos utilizar os exemplos que aparecem no livro na nossa militância cotidiana.”
Kate Oliveira, Coordenação Nacional da UJR (RJ)
Matéria publicada na edição nº290 do Jornal A Verdade.