Segundo os estudantes, o professor Paulo Dourado tem um longo histórico de acusações de assédio contra estudantes, além de falas racistas e homofóbicas. Os organizadores do ato também apontaram que todas as acusações têm sido arquivadas pela burocracia da universidade.
Isabella Tanajura e Louise Ferreira | Salvador
EDUCAÇÃO – Nesta quinta-feira (18), o Diretório Acadêmico da Escola de Teatro da UFBA (DAETUFBA) e o Movimento Correnteza organizaram um ato com mais de 50 estudantes que ocupou a sala de aula para denunciar o professor Paulo Dourado, acusado de cometer vários assédios.
Por mais de três horas, a sala de aula foi ocupada com denúncias, palavras e ordem e intervenções artísticas. Paulo Dourado é docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA) há pelo menos 40 anos, tendo, inclusive, ocupado a direção da Escola de Teatro (ETUFBA) entre os anos 1984 e 1988.
São décadas de denúncias de assédio sexual, moral, racismo, misoginia e homofobia dentro de sala de aula. Apesar das denúncias e de ser um caso conhecido por toda a universidade, o cargo de Dourado é mantido enquanto as estudantes trancam a matrícula, o semestre e a universidade.
Estudantes presentes no ato reivindicaram que os processos sejam reabertos por conta da reincidência dos casos. Além disso, pedem à direção da universidade a exoneração de Dourado. Em momentos anteriores, a universidade simplesmente o afastou das disciplinas obrigatórias que lecionava, mantendo-o nas disciplinas optativas ou em disciplinas de em outros institutos.
“Sabe-se que ele [Paulo Dourado] causa esse mau-estar com os estudantes daqui, por que ofertam a disciplina dele como obrigatória para os calouros? Sabendo disso, a ponto de que nós, veteranos, não pegamos optativas com ele e, quem pega, tranca”, questionou Rafael Silva Fontes, integrante do DA de Teatro.
O ato apenas chegou ao fim quando, com a presença de Luiz Cláudio Cajaiba Soares, atual diretor da ETUFBA, os estudantes conseguiram o compromisso de participar de uma comissão a ser recebida pela ouvidoria da UFBA. Os estudantes participarão da reabertura de processos administrativos de denúncias formalizadas desde 2022 que foram arquivadas pela universidade. O DAETUFBA, representação estudantil dentro da Escola de Teatro, está recolhendo e encaminhando mais denúncias de outros casos relativos à Paulo Dourado.
Através da luta dos estudantes organizados, foi possível conquistar o afastamento de Dourado das aulas durante o 1º semestre deste ano.
Universidade sem assédio
O ato em repúdio ao assédio dentro da universidades repercutiu em toda a UFBA e em diversos veículos de mídia em Salvador. Estudantes de outros institutos, como a Faculdade de Comunicação (Facom), relataram que se sentirem estimuladas a denunciar outros assediadores. Novas denúncias contra Paulo Dourado também têm surgido, tanto pelas estudantes da Escola de Teatro quanto nos comentários das publicações das redes digitais divulgando o ato.
O DAETUFBA, junto com o Movimento de Mulheres Olga Benario, foi recebido na Reitoria ontem e, além de exigir a reabertura do processo administrativo por assédio, também foi pautada a criação de uma comissão dentro da ouvidoria da universidade para receber esse tipo de caso. Nesta comissão, participariam apenas mulheres, com a representação de professoras, técnicas-administrativas e estudantes da UFBA.
Não só a representação estudantil da Escola de Teatro organizou o ato, mas também o Centro Acadêmico do Bacharelado Interdisciplinar de Humanidades (CABIH) esteve presente.
Fica claro que a universidade não é espaço para assediadores. Para conseguir que a educação seja inclusiva e possibilite a formação de mais mulheres, devemos lutar contra o assédio. Está mais do que na hora de inverter o jogo: os assediadores saem e as estudantes ficam.