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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

João Batista Drummond e a Chacina da Lapa

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No dia 16 de dezembro de 1976, o aparelho repressor da Ditadura Militar Fascista realizou uma cruel devastação contra o movimento de resistência do nosso país, prendendo, torturando e assassinando três dirigentes do então clandestino PCdoB na Chacina da Lapa, entre eles o meu parente João Batista Franco Drummond.

Bluma Drummond | Redação Goiás


HERÓIS DO POVO – Em 2024, completam-se 60 anos do golpe militar que colocou as Forças Armadas Fascistas diretamente no controle político do Brasil, guiadas pela CIA e servindo aos interesses imperialistas dos Estados Unidos da América. Vários foram os movimentos, partidos e organizações que lutaram contra o regime autoritário, tanto na legalidade quanto na ilegalidade, e a luta por Memória, Verdade e Justiça continua extremamente atual considerando o permanente golpismo do Exército e de setores da burguesia nacional.

Um dos episódios trágicos que acometeu o movimento de resistência contra a Ditadura Militar ficou conhecido como “Chacina da Lapa”, no qual três dirigentes do PCdoB foram presos, torturados e mortos pela repressão em São Paulo nos dias 15 e 16 de dezembro de 1976: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e o meu parente, João Batista Franco Drummond.

Breve biografia e ancestralidade

Nascido no dia 28 de maio de 1942, em Varginha (MG), João Batista vinha de família da classe alta. Estudou no Ginásio Dom Bosco e no Colégio Loyola, em Minas Gerais.

A família mineira Drummond/Drumond descende do clã aristocrata da Escócia, cujo integrante John Drummond decidiu “se aventurar” pela Europa no século XV e acabou se estabelecendo na Ilha da Madeira, domínio português, e casou-se com a aristocracia burguesa de Portugal.

No século XVIII, Antônio João de Freitas Carvalho Drummond trouxe a família para o Brasil. Era um “homem de posse”, ou seja, um escravista senhor de engenho que também se ocupava da mineração. Foi promovido a guarda-mor na década de 1770 e documentos indicam que explorava dezenas de escravizados, além de participar de expedições para a limpeza étnica de povos indígenas para a extração de ouro.

Militância e clandestinidade

João Batista Drummond ingressou no curso de Ciências Econômicas na então Universidade de Minas Gerais (atual UFMG) em 1961, se tornando presidente do Diretório Acadêmico de 1964 a 1965. Foi ativo na construção do 27° e 28° Congressos da UNE e, desde 1963, também participou do movimento camponês no sul de Minas.

Das suas primeiras organizações políticas, participou da Ação Popular (AP), e depois a Ação Popular Marxista-Leninista (APML), sendo responsável pela Secretaria de Organização e membro do Comitê Político.

No final da década de 1960, foi julgado pela Justiça Militar, teve seus direitos políticos cassados por dez anos e foi condenado a 14 anos de prisão, passando a viver na clandestinidade. Entra para o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em 1972, passando a integrar seu Comitê Central em 1974.

A Chacina da Lapa

Em dezembro de 1976, a direção do PCdoB tinha reuniões marcadas em São Paulo. Mesmo após os anos de chumbo do ditador Garrastazu Médici, a repressão contra comunistas, revolucionários e lutadores da democracia continuava brutal, com perseguições, torturas, desaparecimentos e assassinatos. Após a delação do traidor Manoel Jover Telles, os agentes passaram a vigiar a casa 767 na rua Pio XI, aparelho utilizado para reuniões na Lapa.

Noite de 15 de dezembro, reunião encerrada. A saída era feita em duplas, João Batista Drummond e Wladimir Pomar são levados para a Avenida Nove de Julho. O primeiro deveria seguir para Goiás, estado que acompanhou como dirigente da AP. São seguidos pelos militares e capturados pelo II Exército. Foram presos no Departamento de Operações de Informações (DOI). São torturados durante a madrugada do dia 16 e, às quatro horas da manhã, Wladimir ouve uma barulheira e alguém chamando pelo médico com urgência. Seja em uma tentativa de fuga (hipótese pouco plausível, de acordo com relato de seus companheiros), seja por conta da brutalidade da tortura, João Batista morre nas mãos dos agentes fascistas.

Na casa da Pio XI, pelo menos 10 viaturas do Exército e 40 agentes armados com revólveres, carabinas e metralhadoras realizaram a incursão. Foram mortos Pedro Pomar e Ângelo Arroyo. Cinco outros militantes foram presos e torturados: Elza Monnerat, Maria Trindade, Haroldo Lima, Aldo Arantes e Joaquim Celso de Lima.

Repercussão e atualidade

A mídia e os documentos de atestado de óbito foram completamente manipulados para falsificar todos os eventos da Chacina da Lapa. Os jornais anunciaram que os militantes da casa na Pio XI foram mortos em um tiroteio, sendo que as testemunhas afirmaram que apenas um dos lados disparou.

O caso de Drummond é ainda mais absurdo, com imensa divergência nos documentos. O Ministério da Aeronáutica afirmou que morreu em confronto com os agentes de segurança, o Ministério da Marinha relatou que foi um dos mortos na casa 767, mas o IML-SP descreveu sua morte como fruto de um atropelamento no cruzamento da Nove de Julho com a rua Paim, no bairro Bela Vista. Tudo isso, a farsa da ditadura e a brutal perseguição, levou a uma batalha heroica travada por sua viúva, Maria Esther, e pela família enlutada. O atestado de óbito de Drummond foi um dos primeiros a ser retificado, denunciando sua morte como resultado das torturas do Exército.

O corpo de João Batista foi enterrado no Cemitério do Parque da Colina, em Belo Horizonte. Como homenagem, uma rua do bairro Braúna foi batizada com seu nome na capital mineira, e, em 2021, o Diretório Acadêmico da Faculdade de Ciências Econômicas recebeu seu nome para lembrar sua luta.

Em janeiro de 1977, o camarada Enver Hoxha, primeiro-secretário do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia, envia um telegrama comovente para o PCdoB. Destaco o trecho final:

Estamos convencidos que não há violência fascista, terror ou repressão capaz de destruir suas forças ou cortar seus laços com a classe trabalhadora e as profundas raízes que possui entre seu povo. Os camaradas que caíram serão certamente substituídos por centenas e milhares de outros que se levantarão e erguerão para sempre a bandeira da luta revolucionária contra o fascismo interno, contra o imperialismo e o social-imperialismo, contra o revisionismo moderno e a favor da vitória do marxismo-leninismo.

Glória aos heróis caídos na luta por liberdade, independência e socialismo!

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