Entre os dias 18 e 23 de março de 2024 ocorreu no Recife a primeira parte da IV Semana do Audiovisual Negro, homenageando Inaldete Pinheiro, escritora, pesquisadora e mestra em Serviço Social e uma das fundadoras do Movimento Negro em Pernambuco.
Clóvis Maia | Redação PE
CULTURA – A Semana do Audiovisual Negro articula vários coletivos e é formada por oficinas, palestras, rodas de debate e seminários, além de articular público, produtores, artistas de diversas áreas e linguagens e espaços culturais e regionais que vão da capital pernambucana, passando por Camaragibe, região metropolitana até o Sertão do Estado na cidade de Afogados da Ingazeira, cidade histórica de resistência cultural em Pernambuco, tendo em torno do tema da negritude.
O Jornal A Verdade conversou com Richard Soares, que é produtor cultural, músico e atua na área do Audiovisual no sertão do Pajeú e no Recife e foi um dos curadores da mostra deste ano.
A Verdade – Pode nos falar um pouco sobre a IV Semana do Audiovisual Negro?
Richard – A quarta Semana do Audiovisual Negro ela iniciou agora dia 18 de março até o dia 23 com atividades aqui em Recife, com exibições e debates na UFPE e no Cinema do Porto com exibições de curtas, médias e longas lá no Porto Digital e com exibições de video-arts e clips lá no Cais do Sertão. O evento ficou dividido aqui no Recife nesses três lugares, de 18 a 23 de março, e uma sequência de exibições em Camaragibe, do dia 5 ao dia 8 de abril, e depois em Afogados da Ingazeira nos dias 9 e 10 de abril.
Como foi pensada a proposta de exibição, amostra e escolha dessas obras?
Eu fiz parte da curadoria dos curtas. A gente tentou abranger diversos temas, aspectos e pensamentos da própria juventude negra mas também agregar as comunidades indígenas. A gente acredita que esses dois temas têm que estar juntos, sabe? A ideia foi trazer o cinema negro e também o indígena. E não só trazer o cinema em si, inclusive tem esse debate sobre a semana de audiovisual, que é abraçar muito mais. Tentamos trazer as diversas formas de produzir da comunidade negra, da juventude e além. Trazer os grandes nomes na produção, mas também os pequenos. A proposta é exatamente essa: exibir e democratizar o direito à exibição desses filmes.
É um evento grande, organizado em vários espaços e com três regiões. Quantos filmes vocês conseguiram receber?
Conseguimos colocar 70 obras para serem exibidas em cada lugar de exibição. E fazer uma sessão totalmente diferente da outra. Também se pensou um pouco de poder diversificar mais, para que uma pessoa que fosse em duas sessões, ela não veria as mesmas obras. Essa proposta era para que até mesmo os debates pós-filme não ficassem presos de alguma forma. O plano era envolver também o público.
Essa é a quarta edição do evento. Qual a importância dele hoje para o cenário cultural no estado, sobretudo pela importância do tema?
A importância, para mim, de se pensar sobre a Semana do Audiovisual Negro é que ela é a quarta acontecendo e a terceira sendo presencial, teve uma edição online. Sendo a quarta, já tem uma força de onde chega o potencial da semana em levantar mais nomes de produções. Primeiro que, se a gente for pensar, o evento é estadual. É grande. Agrega do litoral até o sertão. Filmes feitos por e para a comunidade negra e indígena. A gente já tá fazendo um caminho contrário fantástico, assim, de luta coletiva, sabe? Porque não é tão fácil desenvolver esses trabalhos. Outra coisa também que eu coloco como muito importante é de poder fazer com que a juventude acompanhe essas produções, tá entendendo? Porque a maioria dos filmes que vieram, no máximo, são de 2022, são produções quentes ainda, produções que não vão chegar a ser exibidas na Globo, SBT, Record, enfim.
Qualquer canal de televisão, e até mesmo na internet, não é tão fácil de se encontrar. Então eu acredito que a Semana Audiovisual Negra vem com esse olhar de democratização das produções e mostrar para o povo que existe uma luta de narrativa, uma contribuição e essa luta antirracista que está acontecendo, porém, a grande mídia, os grandes fazedores da internet não querem que isso chegue à juventude periférica, que seja uma juventude crítica, que seja uma juventude de pensamento, que seja uma juventude que se veja nas telas, não como os culpados, enfim, como as narrativas de sempre já querem colocar. Eu acredito que a importância da semana esteja nesse lugar de evocar que são pessoas negras, estudantes, fazedores de Cultura que estão juntos trabalhando para que o evento aconteça.
O encontro é organizado por diversos coletivos de várias áreas. Pode nos falar um pouco sobre essa articulação?
São muitos braços para organizar o evento, de diferentes lugares, diferentes pensamentos, diferentes construções, mas que estão juntos pela causa de fazer a Semana do Audiovisual Negro existir. A gente consegue um acesso muito grande, quando vai exibir no Cinema do Porto, por exemplo, de lotar a sessão com estudantes e de trazer debates, porque se tem só a sessão e não tem o debate, por exemplo, fica sem sentido. A gente aproveita o momento do debate, do diálogo para estreitar esses contatos, essa forma de conversa, tá entendendo? Para instigar, para continuar gerando uma formação de público, também. E cada coletivo entra nessa construção. O pessoal da música, do cinema, os ilustradores, comunicadores, os roteiristas. Articulado por esses movimentos que atuam no dia a dia com a pauta antirracista, cultural e dentro das comunidades.