O Beco da Cultura e o Cine Teatro Petrolina foram importantes centros culturais em Petrolina, Pernambuco. Espaços dedicados ao incentivo à cultura popular, com realizações de saraus, apresentações musicais e exibição de filmes.
Alysson Monteiro | Petrolina – PE
CULTURA – O Beco da Cultura, um espaço de importância primordial para a cultura de Petrolina, no Sertão pernambucano, foi criado pelo vice-prefeito Simão Durando, na década de 1980, com a visão de valorizar a rica cultura da cidade e proporcionar um local para as suas manifestações culturais. O lugar, originalmente conhecido como Beco 13 de Maio, foi renomeado para Beco da Cultura. Era um espaço dedicado a incentivar a cultura popular, com diversos cartazes de livros de autores locais colados em suas paredes. Todas as sextas-feiras eram realizados saraus com poesias, canções de violeiros e apresentações musicais.
Além de ser um local de entretenimento e expressão artística, o Beco da Cultura também se destacava como um espaço de intenso debate político na cidade.
Próximo dali, em frente à Praça 7 de Setembro (também conhecida como Praça 21 de Setembro), estava outro local de extrema importância para a cultura da cidade: o Cine Teatro Petrolina, fundado na década de 1940. Além da exibição de filmes, era palco para apresentações de cantores famosos.
Um dos episódios mais marcantes envolvendo o Cine Teatro Petrolina ocorreu durante a ditadura militar, quando a população, principalmente os estudantes das escolas EMAAF e Dom Bosco, revoltou-se contra as condições precárias em que o cine teatro operava. O ato de rebelião culminou na depredação do local. “O quebra-quebra só começou quando um estudante, num gesto solitário, se dirigiu ao cartaz ao lado da entrada do cinema e o destruiu totalmente. Ato contínuo, houve a invasão ao cinema. Cadeiras foram quebradas, portas laterais arrancadas, cortinas rasgadas. Uma cena de guerra”, descreve Flávio Cabral, frequentador do local.
A revolta só cessou com a intervenção da Polícia Militar. Cerca de 100 estudantes participaram do ato, alguns foram presos, como o caso do estudante João Evangelista da Gama, que foi aplaudido por seu ato de rebeldia. Poucas semanas depois, o Cine Teatro Petrolina voltou a funcionar, agora em condições adequadas.
No entanto, a despeito de seu papel crucial na história cultural da cidade, ambos os espaços se encontram desativados hoje. o Cine Teatro Petrolina é agora uma igreja evangélica, enquanto o Beco da Cultura se transformou em um local para uso de drogas, abandonado pela gestão atual do prefeito Simão Durando (o filho!), que negligencia completamente o legado cultural e histórico que esses locais representavam para Petrolina.
Esses espaços, hoje considerados patrimônios culturais, representam uma memória social viva, sendo locais que contribuíram para a conscientização da população. Apesar da marginalização daqueles que os frequentavam e se apresentavam neles, o poder público não deu uma real importância aos locais, priorizando o capital e não a uma cultura verdadeiramente popular.