No dia 05 de junho de 2020, o jovem Giovanne Gabriel foi sequestardo por quatro policiais militares; seu corpo foi encontrado após nove dias. Família exige justiça por Giovanne Gabriel e punição máxima aos policiais acusados.
Redação RN
No dia 05 de junho de 2020, o jovem Giovanne Gabriel decidiu fazer uma surpresa a sua namorada, que estava fazendo aniversário. Ele saiu de sua casa no bairro Guarapes, localizado na Zona Oeste de Natal (RN) e se deslocou até Parnamirim, município da Região Metropolitana da capital. No meio do caminho, foi surpreendido por quatro policiais militares, que o sequestraram.
Imediatamente ao saber do sumiço, os familiares e a comunidade do Guarapes se mobilizaram por respostas. Foram diversos atos, mobilizações, campanhas nas redes digitais e panfletagens, exigindo saber o paradeiro de Gabriel. O Estado ofereceu quase nenhum apoio, precisando que os próprios familiares e a comunidade realizassem as buscas pelo jovem. Após nove dias, seu corpo foi encontrado em São José de Mipibu, cidade a 38 km de Natal e 20 km de Parnamirim.
Houve diversos atos de rua e mobilizações massivas exigindo justiça. Diante da pressão do povo organizado, a governadora do Estado, Fátima Bezerra, ligou para a mãe de Gabriel, Priscila Souza, dizendo que determinou todo o empenho nas investigações. A mobilização popular obteve o segundo avanço, que foi a identificação dos policiais militares Paulinelle Sidney Campos Silva, Bertoni Vieira Alves, Valdemi Almeida de Andrade e Anderson Adjan Barbosa de Sousa, como possíveis responsáveis por sequestrar, assassinar e ocultar o cadáver de Giovanne Gabriel. Assim, começou uma nova etapa da luta: colocar esses carrascos na cadeia.
A família de Gabriel teve que lutar para que Gabriel não fosse esquecido, para que houvesse justiça pela sua morte, para que esses policiais fossem condenados por seus crimes, tudo isso enquanto enfrentava o luto de perder um filho no início de sua vida.
Com o intuito de não parar essa mobilização, a Unidade Popular (UP), o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e o Coletivo Negro Valdete Guerra realizaram, em junho de 2022, um festival de cultura popular nomeado “Festival Giovanne Gabriel”. O festival ocorreu novamente em 2023, contando com diversos artistas da cena hip hop de Natal e com o apoio de outros movimentos sociais e sindicatos. O sonho de Gabriel era ser cantor de rap. Ele compunha, editava e cantava suas próprias músicas.
Em junho de 2023, ocorreu mais um ato cobrando celeridade. O ato ocorreu em frente ao Tribunal de Justiça do RN. Na ocasião, foi entregue uma carta aberta que continha um depoimento escrito por Priscila, mãe de Gabriel, que dizia: “Meu filho GABRIEL tinha muitos sonhos e projetos de vida. Meu filho era estudante aplicado e esforçado e fazia muitos planos para seu futuro e dizia que ia me ajudar e formar uma família com muito amor e carinho. Todos os dias e todas as noites, não paro de pensar no meu filho e de como ele estaria feliz e contente ao meu lado e de toda a família. Por não mais poder ter meu filho ao meu lado, quero somente JUSTIÇA para que essas pessoas que mataram meu filho GABRIEL respondam e sejam condenados pelo que fizeram e para que outras mães não sofram nem chorem as mortes dos seus filhos, provocadas por quem deveria nos proteger, e não nos matar”.
Júri Popular
As Polícias Militares matam 18 pessoas por dia em nosso país. Para a classe burguesa, é melhor que o povo da periferia morra. Logo, o interesse dessa classe é não punir aqueles que derramam esse sangue. Por isso que, mesmo com os nomes dos acusados revelados, houve toda uma movimentação por parte dos milicianos e dos fascistas para adiar o julgamento do caso Gabriel. Por várias vezes, o júri popular foi adiado na véspera da data marcada.
A Justiça burguesa, porém, decidiu seguir o protocolo da impunidade e determinou que os policiais respondessem em liberdade. E a luta se concentrou para que o caso fosse levado a júri popular, finalmente alcançando este objetivo no ano de 2024. Se não fosse toda a mobilização da comunidade, o caso não estaria no estágio em que se encontra.
Durante quatro anos, toda a comunidade sentiu a raiva, a tristeza, a desesperança e a inquietação que milhões de mães negras sofrem diariamente nesse país. O caso de Gabriel é mais um sintoma de um sistema apodrecido, que carrega os resquícios da escravização do povo preto e da Ditadura Militar de 1964.
O júri popular está agora marcado para ocorrer entre os dias 04 até 07 de junho, na 1° Vara Criminal de Parnamirim. Os movimentos sociais organizaram um ato na porta do prédio para exigir “Justiça por Gabriel” e punição máxima aos policiais acusados
Matéria publicada na edição nº 293 do Jornal A Verdade