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segunda-feira, 1 de julho de 2024

Trabalhadores da empresa pesqueira Gomes da Costa fazem paralisação em Itajaí (SC)

Trabalhadores da empresa pesqueira Gomes da Costa/Nauterra, em Itajaí/SC, realizaram duas paralisações em menos de um mês por denúncias de descontos indevidos e más condições de trabalho. Empresa é a maior enlatadora de pescados da América Latina.

Redação SC


TRABALHADORES – O jornal A Verdade vem acompanhando as brigadas do Movimento Luta de Classes (MLC) junto aos trabalhadores da empresa pesqueira Gomes da Costa, há dois meses, em Itajaí, no litoral norte de Santa Catarina. Desde o primeiro momento, trabalhadoras e trabalhadores relataram diversos casos de descumprimento das leis trabalhistas. A Gomes da Costa pertence ao grupo Nauterra e é uma das principais empresas do ramo pesqueiro no Brasil. Segundo os trabalhadores, a empresa vem, a cada dia que passa, precarizando as condições de trabalho e cortando benefícios dos trabalhadores.

Na segunda semana acompanhando a rotina da empresa, chegamos por volta das 5h30, horário de troca de turno e de maior circulação. Nesse dia, nossa reportagem conversou com alguns trabalhadores e muitos relataram situações que consideraram abusivas. Utilizamos aqui nomes fictícios para proteger a identidade das pessoas.

Maria, trabalhadora do turno matutino, disse: “eles descontam todo valor do vale-alimentação caso cheguemos 40 minutos atrasados um único dia do mês, não importando o motivo do atraso. A empresa não está nem aí se esse dinheiro tira ou não comida da nossa mesa, é indignante.”

Ataque aos direitos trabalhistas

Os contatos com os trabalhadores foram se intensificando nas semanas seguintes. Além de recebermos novas denúncias de ataques aos direitos trabalhistas, fomos abordados algumas vezes pelos vigias da empresa pesqueira, que tentaram nos coagir a sair da calçada, dizendo que “não poderíamos estar ali”. Na última vez, disseram que não poderíamos conversar com os trabalhadores sem alvará e que chamariam a polícia caso continuássemos. Continuamos e nada aconteceu, até porque trata-se de via pública e do exercício da liberdade de imprensa.

Na verdade, o que aconteceu foi que novas denúncias foram recolhidas, dentre elas, a de que a empresa teria descontado do salário dos trabalhadores que apresentaram atestado médico, o que é ilegal, segundo o Artigo 6º da Lei Nº 605 de 1949.

Na semana seguinte, empregados relataram que a empresa ainda piorou as condições de trabalho cortando os 20% de insalubridade, dizendo que tinha executado melhorias nas instalações, o que não condiz com a realidade, segundo os próprios trabalhadores.

João, trabalhador do noturno, relatou a situação de angústia vivida pelos colegas. “Olha, bem precária a situação. Poderia, por ser uma empresa grande, ser bem melhor. Trabalhamos lá com muita autoclave [equipamento de esterilização que funciona sob intensa pressão gerada por vapor]. Um dia, eles estavam arrumando uma lá e ela estava em teste, ainda bem que ninguém se feriu, mas ela deu um estouro muito forte. Graças a Deus não tinha água quente dentro nem ninguém perto. Se uma só explodir, a fábrica vai ao chão e ninguém escapa dali. Era para receber por periculosidade e nem sequer eles falam do perigo que a gente corre em trabalhar perto daquilo, fora amônia que pode ter vazamento lá dentro e é perigoso”, relata.

Paralisações e organização da classe trabalhadora

No mesmo dia do corte da insalubridade, o MLC recebeu a mensagem de Maria, com uma foto do panfleto e os seguintes dizeres: “Logo hoje que estourou essa bomba aqui dentro da empresa, recebi esse panfleto, estamos indignados que a empresa tirou nossa insalubridade sem nenhum tipo de aviso prévio”.

Além de pagar um salário de miséria aos trabalhadores, que gira em torno de R$ 1.700,00, as denúncias apontam que a empresa corta um adicional que dava um respiro para os trabalhadores e trabalhadoras, que, na sua maioria, têm que sustentar sua família com esse salário e ainda pagar um aluguel exorbitante no 5º metro quadrado mais caro do Brasil.

Essa foi mais uma das denúncias apontadas pelos trabalhadores e, depois disso, houve um movimento espontâneo de paralisação no dia 17 de maio, parando diversos setores.

A empresa alegou que fez melhorias na estrutura fabril para retirar a insalubridade e que, para recompensar aumentaria o valor do vale alimentação. Porém, é sabido que o vale-alimentação não contabiliza para o 13º salário, férias e aposentadoria, ou seja, quem sai perdendo novamente é a classe trabalhadora.

A indignação dos trabalhadores levou a uma nova paralisação, no último dia 3 de junho, desta vez com uma adesão ainda maior. As mídias locais expuseram a situação e logo a população já começou a comentar o seu apoio à paralisação e reclamando de outras questões referentes à situação que a empresa gera na região.

Além de prejudicar os trabalhadores, a população que mora nas proximidades reclama do mau cheiro que ronda a empresa, colocando em xeque a ideia de que não existe necessidade de pagamento de insalubridade. “Se o cheiro é terrível aqui fora, imagina o que os trabalhadores não sofrem lá dentro”, comentou uma moradora do bairro.

Em nota, a Natuterra disse que a paralisação era ilegal e foi “[…] incitada por terceiro totalmente alheio à Natuterra e à relação existente entre a Nauterra, seus colaboradores e o sindicato profissional”. A paralisação, no entanto, iniciou-se devido à indignação dos trabalhadores e trabalhadoras com o descaso da empresa com seu quadro de funcionários, o salário de miséria, o desconto no vale-alimentação em caso de atraso, o desconto de faltas justificadas e a retirada da insalubridade. Esses foram os motivos das paralisações, que tendem a crescer.

Ao jornal A Verdade, o Movimento Luta de Classes afirmou que continua na disposição de continuar ao lado da classe trabalhadora para denunciar, apoiar e ajudar a organizar uma assembleia e uma comissão de negociação para efetivar a luta dos trabalhadores da empresa em conquistas de direitos trabalhistas e da organização da classe trabalhadora na luta pelo socialismo.

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