O 25 de julho é um dia que faz referência à luta das mulheres negras, afro-latinas e caribenhas contra a exploração e a opressão capitalista. No Brasil, marca-se também 2014, o Dia Nacional da Rainha Negra e Líder Quilombola, Tereza de Benguela.
Indira Xavier | Redação
A poesia escrita por Assata Shakur¹ (disponível abaixo), ilustra a tradição de luta e busca por liberdade que o povo negro no Brasil e em todo mundo constroem há séculos, em particular as mulheres. Desde que o capitalismo jogou seus tentáculos sob a humanidade, seu único objetivo é escravizar e explorar os povos com o propósito de acumular riquezas.
A realidade é que a história de toda a humanidade é a luta entre os que defendem a vida e a felicidade e, por isso, constroem com seu trabalho todas as riquezas do mundo contra um punhado de parasitas, que não produzem nada a mais além de guerras, miséria, fome e desesperança.
O 25 de julho é um dia que faz referência à luta das mulheres negras, afro-latinas e caribenhas. No Brasil, ele é, desde 2014, o Dia Nacional da Rainha Negra e Líder Quilombola, Tereza de Benguela.
O Brasil é o país que possui a maior população negra fora de África (50,7%). No entanto, mesmo compondo a maioria do povo, é a parcela que mais sofre por todas as mazelas que o capitalismo impõe à classe trabalhadora: pobreza, fome, violência, desemprego, falta de acesso à moradia, saúde e educação. Sendo as mulheres a maioria da população brasileira, é também a maioria entre os negros, somando-se, assim, ao quadro geral outras violências de gênero.
Portanto, a luta das mulheres negras é fundamental para fazer enfrentamento à exploração e à opressão capitalistas, que segue, em pleno século XXI tratando as mulheres negras e afro-latinas como a “…carne mais barata do mercado…”, como bem denunciou Elza Soares.
São milhares de casos de violências, agressões, impunidades, que são noticiadas e vivenciadas todos os dias como forma de mostrar ao povo que eles, os ricos e governos fascistas a serviço do capital, podem tudo. Já nós, negras e negros, restam as balas com destino, as prisões inumanas e toda a má sorte.
No entanto, não podemos jamais esquecer as milhares de mulheres negras que, com seu sangue e suor, construíram a tradição de lutar por liberdade e justiça social. Justiça essa que só será realizada quando o nosso povo puser abaixo o verdadeiro responsável por todo o racismo, sexismo e exploração que imperam até os dias atuais, o sistema capitalista.
Sigamos a tradição!
A Tradição – Assata Shakur
Siga ela agora.
Siga-a.
Siga ela agora.
Siga-a.
Siga a tradição.
Existiram Pessoas Negras desde o começo dos tempos
que a seguiram.
Em Gana e Mali e Timbukutu
nós a seguimos.
Seguimos a tradição.
Nós nos escondemos no arbusto
quando os senhores de engenho vieram
empunhando lanças.
E no tempo certo,
pulamos fora e perfuramos o sangue vital
dos pretensos senhores.
Nós a seguimos.
Nos navios negreiros,
nos vomitando em oceanos.
Rasgando as gargantas dos nossos captores.
Nós tomamos seus chicotes.
E seus navios.
Sangue fluiu no Atlântico-
e não foi só o nosso.
Nós a seguimos.
Nós alimentamos Missy com tortas de maçã arsênicas.
Roubamos os machados do barracão.
Fomos lá e cortamos fora a cabeça dos senhores.
Nós corremos. Nós lutamos.
Nós organizamos uma estrada de ferro.
Por debaixo da terra.
Nós a seguimos.
Nos jornais. Nas reuniões.
Nas discussões e nas lutas de rua.
Nós a seguimos.
Nos contos contados às crianças.
Nos cânticos e cantigas.
Nos poemas e canções de blues
e gritos dos saxofones.
Nós a seguimos.
Nas salas de aula. Nas igrejas.
Nos tribunais. Nas prisões.
Nós a seguimos.
Nos palanques e piquetes.
Nas filas da assistência social, filas do desemprego.
Nossas vidas em jogo,
Nós a seguimos.
Nas manifestações e cultos coletivos.
Nas marchas e travamento de ruas.
Nós a seguimos.
Nas noites frias de Missouri
Espingardas enferrujadas contra multidões de pessoas.
Nas ruas em chamas do Brooklyn.
Jogando pedras contra rifles,
Nós a seguimos.
Contra jatos d’água e buldogues.
Contra cassetetes e balas.
Contra tanques e gás de pimenta.
Agulhas e forcas.
Bombas e controle de natalidade.
Nós a seguimos.
Em Selma e San Juan.
Moçambique. Mississipi.
No Brasil e em Boston,
Nós a seguimos.
Entre as mentiras e os vendidos.
Os erros e a loucura.
Entre a dor e a fome e a frustração,
Nós a seguimos.
Seguimos a tradição.
Seguimos uma forte tradição.
Seguimos uma orgulhosa tradição.
Seguimos a tradição Negra.
Siga-a.
Transmita para suas crianças.
Transmita.
Siga-a.
Siga ela agora.
Siga-a
PARA A LIBERDADE!
¹: Assata Shakur, militante do Partido Panteras Negras.
Matéria publicada na edição nº 295 do Jornal A Verdade