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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Enchentes no Rio Grande do Sul escancaram racismo

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Formas racistas de opressão e dominação no capitalismo foram escancaradas pelas enchentes no Rio Grande do Sul: negros gaúchos estiveram entre os mais afetados pela tragédia, já que sua exclusão os leva a moradias mais precárias e vulneráveis às chuvas

Kayênah Manicongo | Porto Alegre (RS)


Um a cada cinco gaúchos é negro, e a concentração desta população em bairros periféricos, popularmente chamados de “vilas”, resulta em perdas constantes nas enchentes que frequentemente afetam o Rio Grande do Sul.

O destaque na televisão destas famílias entre as mais afetadas pelas últimas enchentes impressionou o presidente da República: “Eu não tinha noção que no Rio Grande do Sul tinha tantos negros”.

Essa fala não é isolada. Construiu-se socialmente uma visão de que não há pessoas negras no sul do país. O apagamento contribui para perpetuar a violência contra esta população, que carece de direitos básicos.

Ao falar sobre as enchentes em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo (MDB) culpou a “ocupação irregular” de territórios, responsabilizando a própria população, em vez de assumir sua negligência.

Foi uma de suas tentativas de usar argumentos “técnicos” para a desigualdade racial demarcada pela divisão geográfica que existe na capital gaúcha. Modernizando, deste modo, o racismo. Expulsam e impedem a população mais pobre de acessar espaços dignos, depois a responsabilizam por ocupar “espaços inadequados”, sem nenhuma citação à falta de medidas concretas para proteger os bairros com maior concentração de pessoas negras.

“A gente que mora nas periferias e nas favelas nota que nos deixaram para escanteio. A gente já era deixado de lado, mas, com essa questão da última enchente, se agravou mais ainda”, afirma Taís Soares, moradora do morro Santana. Recentemente, no bairro do Sarandi, foi organizado um protesto após a inércia da Prefeitura em limpar o lixo das enchentes.

O Observatório das Metrópoles de Porto Alegre elaborou mapas demonstrando como regiões com concentração racial de pessoas negras foram atingidas por esta cheia. Foi deste modo que concluíram que, “de acordo com o mapa, as áreas que mais sofreram com as enchentes apresentam uma concentração expressiva de população negra, geralmente acima da média dos municípios”.

Para além da capital, as famílias mais pobres de Eldorado do Sul, cidade brutalmente afetada pelas enchentes, tiveram que lidar com a terceira cheia do Guaíba em menos de um ano. Mas a grande comoção geral apenas foi percebida após as águas atingirem o centro da capital. Esta é uma das faces do racismo ambiental.

Sem o protesto das famílias organizadas no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), a Prefeitura de Eldorado nem teria iniciado a limpeza das ruas, mesmo após um mês do início da enchente. Foi preciso levar parte do lixo para a porta da Secretaria de Habitação para lembrar que o povo estava convivendo com o descaso.

Nacionalmente, esta enchente histórica causou muita comoção. Mas a saída para a população gaúcha é a organização. Neste sentido, a Unidade Popular (UP) tem organizado brigadas de solidariedade, junto com o MLB, e tem construído mutirões para ajudar e organizar famílias afetadas. Já o Movimento de Mulheres Olga Benario, manteve por semanas o abrigo para mulheres e crianças na capital gaúcha.

A política da negligência

O racismo ambiental afeta as comunidades indígenas e quilombolas. Em uma das declarações que repercutiram negativamente, o governador Eduardo Leite, ao ser questionado sobre a ausência de assistência aos quilombos, afirmou que “o poder público não tem a estrutura suficiente para atender em todas as pontas”.

Não é novidade que não há preocupação devida para estas comunidades. No ano de 2021, a Frente Quilombola RS encaminhou representação ao Ministério Público Federal após Eduardo Leite e Sebastião Melo não listarem inicialmente a população quilombola na primeira fase da vacinação contra o coronavírus.

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