Genny Gleizer foi presa aos 17 anos pela polícia do governo Vargas. Foi acusada de ser nociva aos interesses do país e de ser perigosa agitadora da juventude, acabou sendo expulsa sob a ditadura da Lei de Segurança Nacional.
Evelyn Dionízio | Recife – PE
HISTÓRIA – Contemporânea da revolucionária Olga Benario, Genny Gleizer foi presa, aos 17 anos, pela polícia varguista em uma reunião do Congresso da Juventude Proletária, Estudantil e Popular do Brasil, vítima de uma campanha de perseguição contra judeus e comunistas. Acusada de ser nociva aos interesses do país e de ser perigosa agitadora da juventude, foi expulsa sob a ditadura da Lei de Segurança Nacional.
A jovem operária, juntamente com seu pai e irmã, fugia do crescimento do fascismo e das perseguições antissemitas que se espalharam pela Europa. Não à toa, o periódico da fascista Ação Integralista Brasileira (AIB), A Offensiva, foi ferrenho em defender a sua expulsão, sob o risco de pregar o comunismo no Brasil, além de defender a postura das autoridades policiais (acusadas de torturar a jovem no cárcere), já que estariam combatendo o “monstro vermelho”.
Dias depois da prisão de Genny, ocorreu o fechamento da Aliança Nacional Libertadora (ANL), mostrando a perseguição escancarada a organizações progressistas e de militantes que ocorriam na época. Nesse período – e até hoje –, o comunismo era entendido como uma força de oposição ao conceito de democracia, devendo ser combatido. O que ocorre é que a ligação de Genny com tais ideais foram usadas de pretexto para tentar exterminar uma política que apenas busca a melhoria da situação da classe trabalhadora e o fim da sua exploração crescente: o socialismo.
Apesar de diversas instituições (a ANL, o jornal A Manhã, o Congresso da Juventude, a União Feminina do Brasil) se mobilizarem para evitar a expulsão de Genny Gleizer com manifestações, panfletos e denúncias para autoridades do Legislativo, foi decretada sua deportação.
O fato de Genny ser mulher também influenciou no caso. Até os jornais que a defendiam, foram utilizados em sua defesa estereótipos da mulher facilmente manipulável, em que Genny Gleizer estaria engajada politicamente apenas por influência masculina, retirando sua autonomia enquanto pessoa e, portanto, nociva aos interesses do país – leia-se, interesses da burguesia. Para a polícia que trabalhava para sua deportação, o gênero de Genny Gleizer corrobora com a imagem da mulher perigosa quando colocada no ambiente público, devendo ser mantida no lar doméstico.
O caso de Genny, desse modo, serve de parâmetro para entender a época, um período de um governo de repressão e autoritarismo que se estabelecia. O resgate da história da jovem comunista também serve para compreender como a perseguição política a forças mobilizadoras e progressistas acontece no país, com arbitrariedades e ilegalidades, perfeitamente feitas para atender a burguesia nacional e ao imperialismo na manutenção do sistema capitalista.
Em junho de 2024, o Jornal A Verdade denunciou a deportação ilegal do palestino e professor Muslim M. A Abuumar, acusado por forças imperialistas de cumplicidade com grupos de resistência Palestina. Tal deportação demonstra a arbitrariedade e o cunho de perseguição política cometidas pelo Brasil.
Sabe-se que tal caso não é novidade no país. O governo brasileiro já foi cúmplice de diversos casos de perseguição, como o que ocorreu contra Olga Benario, expulsa ainda grávida em 1936 para a Alemanha nazista, sendo vítima do holocausto, com a cooperação do Brasil para o assassinato.
Em carta após sua expulsão, Genny escreve “Em qualquer parte do mundo a que chegar, hei de seguir o exemplo de meus camaradas”, fazendo referência a todos que lutaram pela sua permanência no Brasil, e que “A reação não me assustou. Não deu resultado aos reacionários. Ao contrário, apenas serviu para revoltar-me ainda mais”. Assim, a mulher, operária, jovem, imigrante e judia, seria um símbolo de resistência e um exemplo de luta a ser seguido até hoje.
Referência: ANTÃO, Ana Carolina da Cunha Borges. Gênero, imigração e política: o caso da judia comunista Genny Gleizer no Governo Vargas (1932-1935). 2017.