O sistema capitalista, que coloca o lucro acima da vida, adoece a juventude. No Brasil, apenas 24,2% dos jovens de 18 a 24 anos ingressaram em uma universidade, e desse percentual, 70% precisam trabalhar e estudar para complementar a renda.
Bia Faria | UJR Sergipe
JUVENTUDE – De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), um bilhão de pessoas ao redor do mundo vivem com algum tipo de transtorno mental diagnosticado. É impossível debater o autocuidado e a priorização da saúde sem apontar o dedo para quem realmente contribui para que fatores como o uso excessivo das redes sociais, o sedentarismo e a má alimentação possam causar um impacto tão negativo na mente das pessoas.
O relatório da OMS apresenta ainda que 14% dos adolescente sofrem com algum problema de saúde mental e que 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade. Mas qual a relação entre essa intensificação dos problemas de saúde mental e a juventude? A realidade é que o capitalismo tira a perspectiva de vida das pessoas a nível individual e, principalmente, coletivo.
No Brasil, temos um cenário onde apenas 24,2% dos jovens de 18 a 24 anos ingressaram em uma universidade, e desse percentual, 70% precisam trabalhar e estudar para complementar a renda. Ter um diploma significa ter melhores condições de achar trabalho, mas nem metade dos jovens brasileiros têm a possibilidade de entrar em uma universidade, quanto mais finalizar um curso de graduação.
Dentro de um sistema onde estudar é visto como um privilégio ao invés de ser um direito, grande parte dos estudantes não pode apenas estudar. Para continuar estudando é preciso trabalhar para garantir o transporte, a alimentação, o aluguel e a mensalidade, nos casos de estudantes de ensino privado. Esses aspectos ficam explícitos nos altos índices de evasão dentro das universidades brasileiras. Devido às dificuldades concretas do cotidiano da juventude, ir para uma universidade significa ter mais custo do que o possível para viver.
Essa falta de perspectiva de vida se intensifica mais ainda quando partimos para o mercado de trabalho. De toda a população empregada, 39,1% está em um trabalho informal e 36,63% ganha apenas um salário mínimo. Para além disso, cerca de 14 milhões de jovens entre 14 e 24 anos trabalham para complementar a renda nas suas casas. Falar sobre autocuidado, sobre uso das redes sociais e sedentarismo, é encarar o problema de forma idealista se não tocarmos no seu principal responsável: o sistema capitalista.
Além de todos os aspectos individuais, é essencial compreender como os fatores sociais, ambientais, climáticos e políticos afetam a realidade da juventude no século 21. Os dados em relação à quantidade de famílias que passam por situação de insegurança alimentar, que moram na rua ou mal conseguem pagar aluguel, o aumento dos desastres ambientais e climáticos ocasionados pelo aquecimento global e pela devastação ambiental, tudo isso surge como uma grande onda de desânimo e de desesperança para quem já tem muito pouco.
Ter que escutar absurdos ditos por políticos de direita e ver a repressão contra aqueles que se movimentam para mudar a realidade, afeta a perspectiva de vida da juventude. Em um mundo que pouco se importa se você vai estar vivo no dia seguinte, contanto que você produza e continue sendo explorado.
A saúde mental no capitalismo
Os transtornos de saúde mental só passaram a ser reconhecidos como um problema social a partir de meados do século 19. A depressão e a ansiedade estão associados a outras condições de saúde e ligados à intensificação das contradições do sistema capitalista.
Por isso, quando debatemos a importância do acompanhamento profissional, do exercício físico, da redução de danos no uso de drogas, da necessidade da diminuição do uso de redes sociais e dos hábitos de saúde e do autocuidado, é essencial tratar da relação disso com a manutenção da perspectiva de vida e enxergar as soluções para os problemas apresentados a partir do ponto de vista revolucionário.
É preciso trazer o exemplo de Olga Benario, que no campo de concentração em Lichtenburg, convenceu as outras presas a estudar filosofia marxista e se exercitar todos os dias. É importante pensar no convívio com outras pessoas que também enxergam e escolhem lutar pela perspectiva revolucionária, nas melhorias concretas dos problemas criados pelo capitalismo, no estudo e na manutenção dessa luta cotidiana, além de ter a compreensão de que quem está bem nesse sistema podre são aqueles que lucram com a exploração. Não existe resposta simples para o problema da saúde mental, mas como diz a letra da música “Incêndios”, da banda El Efecto, “Não há solução dentro do teu conforto”.