Com a pressão da luta estudantil e do DCE, coordenado pelo Movimento Correnteza, políticas de permanência estudantil da UnB passarão de R$500 para R$700 mensais, contemplando 11 mil estudantes pobres
Leo Ribeiro | Brasília (DF)
A luta dos estudantes da Universidade de Brasília (UnB) conquistou um grande aumento dos auxílios socioeconômicos a partir deste mês de outubro. Os auxílios aumentarão de R$ 500 para R$ 700, contemplando 11 mil estudantes. Foi uma vitória histórica para o movimento estudantil da universidade, que organizou a luta pelos aumentos ao longo de todo o ano de 2024.
Hoje, local de estudo e pesquisa para mais de 40 mil estudantes, sendo a maioria oriunda de regiões periféricas do Distrito Federal e seu Entorno, a UnB foi fundada, em 1961, a partir de um projeto de educação integradora e democratizante idealizado por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. Porém, desde sempre, a precariedade dos serviços públicos e o alto custo de vida de Brasília, mostraram-se obstáculos críticos para o acesso dos filhos da classe trabalhadora a esse ambiente de educação de qualidade.
Apesar da ampliação do acesso à UnB, manter-se nela ainda se expressa um forte desafio. Não bastando ter um dos restaurantes universitários mais caros do país, uma Casa do Estudante negligenciada e de depender de uma frágil estrutura de segurança para quem precisa estudar à noite, o estudante da Universidade de Brasília ainda está sujeito a opressões sistêmicas vindas de toda a comunidade acadêmica.
É sob esse contexto hostil que o movimento estudantil da UnB se organizou, no começo do ano, para demandar melhoras nas políticas de permanência estudantil à Reitoria. Em uma assembleia que reuniu o Diretório Central dos Estudantes (DCE), mais de 40 Centros Acadêmicos (CAs) e dezenas de estudantes independentes e organizados em forças políticas, foram tiradas as primeiras diretivas na construção de uma luta robusta para estruturar a UnB.
Foi com o estouro da greve estudantil de 15 cursos, simultâneas às greves dos professores e dos técnicos-administrativos, e plenárias puxadas pelo DCE, com recorde de participação, nos meses de abril e maio, que a Reitoria passou a dar atenção para as demandas dos estudantes. Tão logo, foram organizadas mesas de negociação onde as entidades estudantis tiveram suas demandas ouvidas, mesmo que encontrando resistência, por parte da Reitoria, que argumentou, a todo momento, a impossibilidade de resolução das principais questões apresentadas por falta de orçamento, mesmo com uma recomposição de R$ 6,6 milhões no mês de maio.
Contudo, a luta não se esvaiu, mantendo-se uma constante comunicação com a administração da universidade, que se somava a um trabalho de base contínuo efetuado pelos DCE, CAs e movimentos. “Passamos o ano organizando a luta pela assistência. O aumento dos auxílios socioeconômicos sempre esteve na ordem do dia em nossas agitações nas assembleias, nas reuniões do CEB (Conselho de Entidades de Base), ao longo das greves e nas mesas de negociação com a reitoria”, revela Bárbara Calista, coordenadora-geral do DCE Honestino Guimarães e do Movimento Correnteza, sobre a construção incessante da pauta da permanência.
Após crescente pressão, a Reitoria, nos últimos meses da atual gestão, reconheceu a necessidade de reajustar os valores dos auxílios. Apesar do avanço histórico e do exemplo da força que a organização coletiva na defesa de direitos e da garantia de condições dignas para o povo, as lideranças estudantis reconhecem que esse é só o primeiro passo.
Calista reitera: “Essa é uma vitória importante para os estudantes da nossa universidade, mas é apenas parcial. Para conquistarmos uma política uma política de assistência estudantil à altura de nossas necessidades, é necessário derrubar a política econômica do arcabouço fiscal, que hoje sufoca o orçamento das universidades públicas”.
Matéria publicada na edição impressa nº 300 do jornal A Verdade