Após três anos de resistência, famílias da Ocupação Anita Garibaldi e dos núcleos de base do MLB tiveram uma importante vitória em sua luta por moradia, arrancando do governo de Santa Catarina a doação de um terreno para a construção de um projeto do Minha Casa Minha Vida – Entidades
Wilson Majé | Florianópolis (SC)
Há três anos, famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) resistem aos ataques e ao descaso do Governo de Santa Catarina na Ocupação Anita Garibaldi, na capital Florianópolis. As comunidades de Monte Cristo e Alto Pantanal, compostas por trabalhadores que impulsionam a economia da capital em empregos informais – já que a falta de oportunidades formais também afeta essas famílias –, enfrentam uma realidade difícil.
Elas estão à mercê de aluguéis abusivos, lidam com a ausência de escolas, com esgoto a céu aberto, violência policial e escassez de alimentos. Florianópolis está no ranking em 3º lugar entre as capitais com o aluguel mais caro do Brasil e ocupa também o 2º lugar entre as cestas básicas mais caras.
Após uma longa trajetória de luta e formação dos militantes, com reuniões nos bairros e avançando nas reivindicações contra os descasos em nossas comunidades, as famílias foram se unindo e acreditando que apenas com a luta poderíamos conquistar nossos direitos.
Ao longo desses três anos, denunciamos o Plano Diretor da cidade por desrespeitar os direitos urbanos e colaboramos com outras frentes, como a organização da Marcha da Consciência Negra, dos atos pelo Fora Bolsonaro e mobilizações em defesa da saúde pública e gratuita.
Denunciamos as violências policiais em diversas comunidades e expandimos nossas atividades para cidades como Palhoça, São José e Itajaí. Organizamos o Natal Sem Fome em nossa cidade com mais de 50 famílias, e nossa ocupação Anita Garibaldi tem se tornado uma referência na luta pelos direitos dos moradores de ocupações e comunidades.
Sem recuar, mantivemos nossa força e dedicação na organização e ampliamos nossos cadastros para mais de 300 famílias em todo o estado. Após um mês realizando ocupações semanais na Secretaria de Assistência Social, Mulher e Família (SAS), conquistamos uma importante vitória: a doação de um terreno do Estado de Santa Catarina, que será utilizado para acolher as famílias organizadas no MLB, permitindo nossa inscrição na próxima portaria do Programa Minha Casa, Minha Vida – Entidades.
Hoje, no Brasil, existem mais de 8 milhões de famílias sem teto, mesmo com a Constituição assegurando a moradia como um direito de todo cidadão brasileiro. Enquanto isso, há 11 milhões de imóveis vazios no país. Essa realidade é resultado de mais de 500 anos de exploração por parte das elites, sustentada pelo sistema capitalista.
Em nossa segunda reunião com a Secretária de Assistência Social, Seu Dinarte, morador da comunidade Monte Cristo há mais de 40 anos, tirou do bolso sua carteirinha de cadastramento na Companhia de Habitação (Cohab). Ele aguarda há mais de 30 anos para ser chamado e receber sua moradia. Revoltado com as promessas não cumpridas da Cohab, ele se uniu ao MLB e à luta popular para conquistar sua casa própria.
Dona Vera, por sua vez, chegou às reuniões do núcleo de bairro buscando uma saída para o aluguel. Com problemas de saúde, ela já não consegue arcar com o aluguel, as demais despesas e a compra de alimentos de qualidade. O alto custo dos medicamentos tornou essa realidade ainda mais difícil. Nas reuniões do MLB, encontrou força e esperança na luta pela moradia digna e contra a fome.
Luta e organização
MLB não descansará enquanto houver um só terreno abandonado e uma só mesa sem pão, enquanto nossa sociedade for movida pelos interesses dos grandes poderosos, gerando fome e miséria do povo pobre e trabalhador.
Em sua obra, Lenin já alertava: “Sem teoria revolucionária, não pode haver movimento revolucionário”. Por isso, continuamos nos reunindo e fortalecendo nossos núcleos de base, realizando estudos, promovendo brigadas do jornal A Verdade e apresentando nossa luta bairro a bairro, através da agitação, dos panfletos e das demais atividades, pois sabemos que só com a organização das massas será possível avançar.
Nossa luta é pelo direito à moradia digna, por uma alimentação saudável e, acima de tudo, pelo fim do sistema capitalista e pela construção da sociedade mais justa para o nosso povo, a sociedade socialista.
Matéria publicada na edição nº 300 do jornal A Verdade