No estado de São Paulo, mais de 736 mil mulheres são operárias. Apesar da presença expressiva na indústria, elas ainda recebem salários 14,7% menores que os homens e sofrem com maior insegurança em seus empregos
Larissa Mayumi
Em São Paulo, o estado mais populoso do Brasil, as mulheres são 51% da população de 44 milhões de habitantes, chegando a 23 milhões de pessoas, de acordo com dados da Fundação Seade de 2023. Além disso, São Paulo conta com 3 milhões de operários, a maior concentração do país. Entre eles, 1 a cada 4 é mulher, representando 736 mil operárias, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). A força dessas mulheres foi provada ao longo da história, sendo determinantes em inúmeras greves e protestos que conquistaram direitos para toda a classe trabalhadora.
Nas fábricas, a maior parte do que é produzido vai para o bolso dos ricos, enquanto a classe operária sofre com os baixos salários e o aumento da exploração e miséria. Em média, o salário de operárias é 14,7% menor que o salário dos homens na indústria, também de acordo com a FIESP. Essa situação só se sustenta a partir das ameaça de demissão e assédios constantes impostos pelos patrões contra as mulheres.
A operária da costura Paula atua em um ramo da indústria onde estão a maioria das operárias mulheres e denuncia: “Meu salário não é compatível com o desempenho do meu trabalho. Não só eu, mas todas as costureiras não são bem remuneradas, é quase um trabalho escravo! É um trabalho árduo”. A situação piora ao se considerar que a capital paulista apresenta a cesta básica mais cara do Brasil, com um custo médio de R$ 786, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).
Além da exploração que vivem nas fábricas, com longas jornadas de trabalho mal remuneradas, 11,3 milhões de mães em todo o país têm de cuidar de seus filhos sozinhas e passam seus poucos dias de folga também trabalhando. “Quando não estou no emprego, ainda cuido de casa e fico com meu filho”, afirma Luzia*, também do ramo da indústria têxtil. Ainda acrescenta Paula: “Nas minhas folgas fico dentro de casa, é o que dá.”
Os sindicatos deveriam ser espaços fundamentais para organizar a luta das operárias em defesa de seus direitos. Apesar disso, não é assim que muitos sindicatos tem atuado. “Se a gente quiser lutar por um salário maior e pelos nossos benefícios adquiridos, nós sofremos pressão, porque a maioria fica com medo de reivindicar os direitos e ser mandada embora”, afirma Paula.
Além disso, ainda há muitos desafios para as mulheres em várias categorias. Conforme indica Clara*, metalúrgica e diretora de seu sindicato: “A luta organizada das mulheres trabalhadoras está avançando, mas ainda temos muitos desafios. Mesmo com os avanços, as mulheres ainda ganham menos que os homens, tem menos chances de ocupar cargos de liderança e enfrentam dificuldades para conciliar o trabalho fora de casa com as tarefas domésticas e os cuidados com a saúde”.
Apesar dos desafios, não faltam exemplos de lutas das mulheres operárias na nossa história. A primeira greve geral do Brasil, em 1917, foi desencadeada pelas mulheres de uma fábrica têxtil em São Paulo. Historicamente, as operárias do ABC Paulista também foram vanguarda na construção de mobilizações por creches para suas crianças.
No mundo, a luta das operárias já conquistou uma sociedade onde havia lavanderias coletivas, creches nas fábricas e escritórios, intervalos no trabalho para as mães irem à creche amamentar e uma jornadade trabalho reduzida para 6 horas: a sociedade socialista. Era, principalmente, uma sociedade onde as mulheres operárias, junto aos demais operários, tomavam as decisões sobre a produção e onde ela servia para o bem-estar dos trabalhadores, e não para o lucro de uma minoria. Os exemplos demonstram que só lutando por uma sociedade socialista as mulheres, especialmente as operárias, poderão conquistar seus direitos e sua libertação.
*Nomes fictícios para preservar a identidade das entrevistadas