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domingo, 8 de dezembro de 2024

Trabalhadores da Braskem do ABC Paulista fazem paralisações por piso salarial

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Com greve no ABC Paulista, operários denunciam prática abusiva da Braskem. A petroquímica terceiriza funções essenciais para empresas que pagam salários diferentes pelo mesmo serviço, gerando desigualdades entre os trabalhadores

Larissa Mayumi e Júlia Campos | Santo André (SP)


Na quinta-feira (14/11), trabalhadores das empresas terceirizadas que prestam serviço à unidade do ABC Paulista da Braskem, em São Paulo, realizaram uma forte paralisação em defesa de um piso salarial, denunciando as duras condições de trabalho na petroquímica. Entrevistado pelo jornal A Verdade, um trabalhador da manutenção que preferiu não se identificar explica as razões da nova greve, que vem na sequência de outras paralisações na empresa: “Somos contratados por uma empresa para prestar serviço para a Braskem. Aí, quando entra outra empresa para prestar o mesmo serviço por um custo menor, essa empresa quer contratar a gente com salário mais baixo”.

De acordo com uma recente reportagem da Folha de São Paulo, a Braskem lidera o ranking de empresas que mais receberam incentivos fiscais do governo. De janeiro a agosto deste ano, a empresa declarou que recebeu R$2,27 bilhões em dinheiro público. Apesar disso, trabalhadores terceirizados por empresas como Tecnosonda, CascaDura, Primer, Chiarelli, Tenente e Manserv são contratados pela Braskem com salários baixos e vínculos trabalhistas precários para realizar serviços fundamentais para o funcionamento da produção, como sonda, manutenção de máquinas, montagem de caldeiras, andaimes e vários outros trabalhos. Seus contratos podem ser quebrados a qualquer momento e, exatamente por conta desse regime de trabalho, os salários estão sempre diminuindo e a exploração aumentando.

Em sua paralisação, os trabalhadores defenderam que sejam instituídos salários iguais para quem faz a mesma função não só entre os funcionários diretos da Braskem, mas também para os terceirizados que prestam serviço para a empresa. “Aqui, cada um ganha diferente do outro, mesmo tendo o mesmo trabalho”, denunciou um trabalhador que exerce a função de torneiro mecânico e que também preferiu não se identificar. Ele acrescenta: “Além disso, ainda somos obrigados a fazer hora extra. Se não fizer, corre o risco de ser mandado embora”.

Outra denúncia realizada pelos trabalhadores é o excesso de trabalho que as empresas têm cobrado, conforme relata um trabalhador da CascaDura: “Eles mudam nosso horário, querem cortar as horas extras e custos, fazer a gente trabalhar no sábado e domingo. É o único dia que temos para ficar com a família, é o dia que tenho para ficar com meu filho”.

Apesar da exploração, os trabalhadores da Braskem têm sido firmes em apontar a greve como o caminho para enfrentar seus problemas no local de trabalho. Nos últimos meses, a categoria realizou diversas paralisações no ABC Paulista. Na semana passada, a paralisação contou com mais de 600 pessoas, denunciando o aumento de acidentes no trabalho e lembrando a morte de um trabalhador na explosão de um tanque no ano passado. O operário morto havia acabado de se tornar pai. As mobilizações também denunciam o crime ambiental promovido pela empresa em Alagoas, que deixou mais de 60 mil pessoas desalojadas.

Condições insalubres

O piso salarial não é a única bandeira levantada pelos trabalhadores da Braskem nas recentes paralisações: eles também denunciam a falta de reajustes, os riscos do trabalho insalubre, as restrições às greves e a dificuldade de aposentar.

Enquanto os políticos da burguesia recebem rios de dinheiro dos grandes bilionários para seguir aprovando medidas neoliberais e contrárias aos interesses dos trabalhadores, como denunciou a edição nº 302 do jornal A Verdade, amplos setores do povo vivem sem nenhum reajuste em seus salários desde a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência. “Essa nossa luta pelo reajuste salarial já tem 5 anos, e as coisas aumentaram muito nesse último período. O quilo do contrafilé tá 60 reais, ninguém mais consegue comprar carne vermelha com o salário que a gente ganha de 2 mil reais”, diz um trabalhador da manutenção. E complementa: “Queria ver o patrão viver com o salário que ele paga para gente, só assim ele vai entender o que é passar nosso sufoco”.

A insalubridade do trabalho também torna ainda mais duras as condições na Braskem. “A gente aceita trabalhar aqui porque tem um Vale Alimentação bom e um salário que fica mais aceitável porque pagam a insalubridade. Mesmo assim, estamos vendendo a nossa saúde e quase nada retorna para nós”, aponta um trabalhador das caldeiras. “Até para a gente se aposentar aqui é difícil, você já sai com sequelas do trabalho e ainda tem que contratar um advogado para conseguir dar entrada na aposentadoria, porque se não, não sai”, ele adiciona.

Frente a esse cenário de precarização, os trabalhadores denunciam que a reivindicação de seus direitos se torna mais difícil devido às limitações da legislação sindical, de que as empresas se aproveitam. “Se a gente fizer a greve agora, vamos ter que pagar as horas nas nossas férias de fim de ano”, aponta um funcionário da Manserv. “Para não acumular no banco de horas, a greve precisa passar por um juiz para que ela decida se é legal ou não”, complementa um operário da manutenção.

A despeito das dificuldades, a combatividade dos operários da petroquímica Braskem é um exemplo para os trabalhadores do ABC Paulista e de todo o país. Como vem agitando o Movimento Luta de Classes em suas ações de solidariedade à luta na empresa, as greves continuam sendo a melhor arma dos trabalhadores para conquistar melhores salários, derrubar as terceirizações, revogar a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência, acabar com a escala 6×1 e conquistar uma sociedade socialista.

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