Na madrugada do Dia da Consciência Negra, dois homens invadiram a Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus, em Santo André (SP). Em resposta, o Movimento de Mulheres Olga Benario convoca um ato às 14h na Prefeitura da cidade para a quinta-feira (21/11)
Guilherme Arruda, Felipe Gomes e Michi | Santo André (SP)
Na madrugada da quarta-feira (20/11), a Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus sofreu um ataque em sua sede, em Santo André (SP). O crime, perpetrado no Dia da Consciência Negra, foi denunciado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario como uma agressão fascista contra uma casa que acolhe mulheres vítimas de violência desde 2021 e contra a atuação dos movimentos sociais na cidade.
Em imagens capturadas por uma câmera de segurança, dois homens investiram de ré com um carro contra a entrada da Casa Carolina, arrombando o portão e quebrando um relógio de água. No vídeo, disponível nas redes do jornal A Verdade, é possível ver o momento em que o carro invadiu o imóvel. Poucos segundos depois, um dos invasores sai de dentro da casa, o que demonstra que a intenção era forçar a entrada na Casa Carolina.
“O que aconteceu hoje foi uma violência política! Em pleno Dia da Consciência Negra e na mesma semana do Dia Internacional Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, que será no dia 25/11, um agressor de mulheres foi para cima do nosso portão com um carro, com a intenção de nos atacar”, denuncia Sofia Del Fiol, que é coordenadora da Casa Carolina.
A Casa acolhe mulheres em situação de violência. Por isso, uma das principais hipóteses do Movimento é que a invasão foi promovida por um dos agressores de mulheres atendidas.
Insuficiência da ação do Estado
A polícia foi acionada ainda na madrugada para atender à denúncia, e as coordenadoras da Casa foram à Delegacia de Santo André na tarde do dia 20/11 para fazer um boletim de ocorrência. Porém, para o Movimento, o decorrer desse processo demonstra a insufiência da atuação do poder público.
“O Estado não atende adequadamente as vítimas de violência contra as mulheres. Nós levamos à Delegacia todas as informações do caso, imagens, placa e documento do carro, e mesmo assim eles disseram que não poderiam fazer nada, por ser feriado. As mulheres só sofrem violência em horário comercial?”, questiona Larissa Mayumi, da Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário.
Solidariedade à Casa Carolina
Na mesma tarde, o Movimento de Mulheres Olga Benario convocou uma plenária em defesa da Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus. Dezenas de pessoas compareceram, entre apoiadores, moradores do bairro e militantes. No evento, as coordenadoras do Movimento expuseram o que aconteceu e foi feito um debate que culminou com a convocação de uma manifestação para o dia seguinte.
A concentração da manifestação será a partir das 14h desta quinta-feira (21/11), na frente da Prefeitura de Santo André, e já conta com a participação do Movimento de Mulheres Olga Benario, da União da Juventude Rebelião (UJR), Movimento Luta de Classes (MLC) e do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).
O ato foi marcado na Prefeitura de Santo André porque o espaço onde a Casa Carolina funciona foi cedido pelo Poder Municipal, e o Movimento de Mulheres Olga Benario destaca que é obrigação do Estado garantir as condições para que o serviço de atendimento às mulheres funcione e siga salvando vidas.
“A Casa é uma parceria do movimento com a Prefeitura, e, portanto, ela também precisa se responsabilizar pela segurança e manutenção da Casa. Hoje, nós desenvolvemos o trabalho apenas com voluntárias da equipe técnica e apoiadoras da luta”, explica Natália Pires, coordenadora da Casa Carolina.
A luta das mulheres da Casa Carolina
A Casa Carolina Maria de Jesus é uma das 23 ocupações do Movimento de Mulheres Olga Benario no Brasil, que acolhe pessoas em situação de violência doméstica e luta pela defesa dos direitos das mulheres, da juventude e dos trabalhadores. Fruto da extensa luta das mulheres do ABC Paulista, a ocupação é um dos primeiros centros de acolhimento da região e organiza oficinas e palestras, além de apoio direto às vítimas, ajudando na denúncia e acompanhando seu processo. A existência da Casa é de extrema importância para a mobilização feminista na cidade e para a denúncia da sociedade patriarcal no país.
Em vídeo publicado na página oficial da Casa Carolina Maria de Jesus, a coordenadora Natália Pires pede apoio financeiro: “A nossa casa precisa ter o seu portão de volta no lugar, precisamos reforçar a nossa segurança. Precisamos consertar o nosso portão e colocar câmeras aqui.” Para contribuir na manutenção do espaço, doações são aceitas na chave Pix: [email protected].
Além disso, apesar de ser uma casa cedida pela Prefeitura, as ações da Casa Carolina são organizadas de forma completamente independente, e ela resiste sem financiamento público e empresarial. A contribuição periódica para o trabalho de acolhimento pode ser realizado pelo link do Apoia-se: apoia.se/pelavidadasmulheres.
SERVIÇO
Ato em defesa da Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus
Quando: Quinta-feira, 21/11, às 14h
Onde: Praça IV Centenário, s/n, Centro, Santo André/SP
CONHEÇA AS REDES DA CASA CAROLINA
Instagram: https://www.instagram.com/casacarolina.abc/