Após o dia 20 de dezembro, quando os trabalhadores viram que o pagamento do 13º salário não iria ser encaminhado pela prefeitura e a empresa, decidiram cruzar os braços e parar a coleta de lixo no município. Logo após quatro dias de greve ficou explícita a importância da categoria: as ruas de Paulista ficaram cobertas de lixo.
Wildally Souza | São Paulo
TRABALHADOR UNIDO – Desde a última sexta-feira (20), data limite para o pagamento do 13º salário, trabalhadores da limpeza urbana de Paulista (PE), na Região Metropolitana de Recife (RMR), entraram em greve contra o atraso do pagamento e por melhores condições de trabalho.
De acordo com a denúncia, a prefeitura de Paulista, governada por Yves Ribeiro (MDB), estava com uma dívida de mais de R$ 25 milhões com a empresa I9 Paulista Gestão de Resíduos, responsável pela terceirização da limpeza na cidade. A dívida é referente às parcelas de agosto, setembro, outubro e novembro do contrato, que totalizam R$ 13 milhões. Esse valor ainda é somado à uma dívida anterior de R$ 12 milhões contraída também pela prefeitura.
Após o dia 20 de dezembro, quando os trabalhadores viram que o pagamento do 13º salário não iria ser encaminhado pela prefeitura e a empresa, decidiram cruzar os braços e parar a coleta de lixo no município. Logo após quatro dias de greve ficou explícita a importância da categoria. As ruas de Paulista ficaram cobertas de lixo, principalmente a avenida Vice-prefeito José Rodrigues da Costa Filho, no bairro de Jardim Paulista Baixo e a Feira Livre de Paratibe, que às vésperas do Natal diversos moradores faziam compras de fim de ano.
O problema da terceirização
De acordo com um dossiê elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 2015, a terceirização impacta diretamente as condições de vida dos trabalhadores, que sem alternativa de trabalho, recorrem a essa política empresarial para poder sobreviver, se alimentar e dar teto pros seus filhos. Os trabalhadores terceirizados recebem salários 24,7% menores do que efetivados, além disso cumprem jornadas muito maiores de trabalho – culpa da informalidade – permanecem no emprego pela metade do tempo (2,6 anos contra 5,8), possuem baixíssimas taxas de sindicalização e sofrem mais acidentes de trabalho, principalmente nos que são fatais.
Além disso, as estatísticas do IBGE indicam que o percentual de trabalhadoras e trabalhadores terceirizados subiu de 18,9% em 2017 para 25% em 2020.
Tudo isso não é por acaso, mas faz parte da política de precarização dos trabalhadores e operários por parte dos patrões muito ricos, que movidos pela ganância assumem o risco de vida dos trabalhadores com o objetivo declarado de reduzir custos e aumentar suas já bilionárias contas em bancos internacionais.
Os patrões até tentam enganar o povo com uma “historinha pra boi dormir”, que a terceirização cria novos empregos, mas a verdade é outra: diariamente as empresas responsáveis pelas terceirizações no Brasil demitem trabalhadores sem motivo algum, isso quando não são demissões em massa. Aqueles que dependem da terceirização para colocar o pão nas suas mesas já acordam com medo do atraso no pagamento, da retirada de benefícios e do desemprego.
Segundo José Alexandre da Silva, do Sindicato da Limpeza Urbana em Pernambuco (Sindlimp-PE), “a limpeza urbana é uma categoria muito perseguida, muito sofrida. Agora, imagina ficar sem receber em pleno fim de ano? É um absurdo! Os patrões enchendo o bolso de dinheiro, fazendo o seu réveillon, viajando e a categoria sofrendo. E essa não é a primeira vez. É no tempo de Carnaval, Ano Novo, São João. No carnaval mesmo, no galo da madrugada aqui em Recife, são milhões de foliões, começa no sábado, quando é no domingo de manhã nem parece que teve o galo. Tudo limpinho. Ninguém nem lembra que teve ali o gari pra fazer a varrição, a coleta. Seis da manhã e tá tudo limpo. Aí, na hora de pagar o trabalhador tem prefeito que se dá ao luxo de negar. Aí só vê o gari quando tem uma paralisação dessa. E a categoria tá certa. Me diga quando foi que o trabalhador conseguiu alguma coisa sem luta?”
A terceirização aprofunda a exploração dos operários, intensificando a precarização e sobretudo reduzindo o número de empregos necessários, uma vez que reduzem e eliminam postos de trabalhos já existentes, estratégicos e necessários para a economia do país. Uma comprovação disso é a onda de demissões em massa que ocorreram logo após a aprovação da Lei da Terceirização, em 2017, logo após o golpe institucional de 2016.
A força da classe trabalhadora e as greves
Estudos recentes do Dieese indicam que 56% das greve realizadas em 2022 e 56% em 2023 envolveram ou trabalhadores terceirizados que atuam no serviço público ou trabalhadores que atuam em concessionárias privadas de serviços públicos (transporte coletivo, varrição e coleta de lixo).
Em todas as paralisações foi constatado que 52% em 2022 e 59% em 2023 protestavam contra atrasos no pagamento dos salários e outras irregularidades trabalhistas.
A greve dos garis de Paulista comprova ainda mais esses dados e demonstra a força e importância dos trabalhadores e operários da limpeza urbana. Lembremos da greve dos garis na França em 2023 que deixou seis milhões de toneladas de lixo acumuladas nas principais avenidas de Paris e foi decisiva e essencial para o desgaste do governo Macron e a eleição do Bloco de Esquerda Nova Frente Popular (NFP), no país europeu.
Mais uma vez, apesar da grande mídia burguesa, xenofóbica e racista não noticiar os acontecimentos do norte e nordeste, muito menos as mobilizações operárias na região, os garis de Paulistas demonstraram para as empresas e os patrões e entusiastas fascistas das terceirizações que a classe trabalhadora não se rende e que só com luta que conquista.
No final do dia 24, vésperas de Natal, um comunicado da prefeitura de Paulista noticiava que após 4 dias de greve o 13º dos trabalhadores iria começar a ser pago. Os trabalhadores, que encerraram a greve no início da manhã do dia 25, agora se organizam para novas mobilizações por melhorias das condições de trabalho e valorização e regulamentação dos postos de trabalho.