Relatório da Polícia Federal revelou que a tentativa de golpe de Bolsonaro e dos generais teve contribuição de professor da Unicamp, mesma universidade onde um professor tentou esfaquear membros do movimento estudantil em 2023
Pedro Andrade | Campinas (SP)
No último dia 28 de novembro, um relatório da Polícia Federal que desvenda detalhes da tentativa de golpe de Estado perpetrada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelos generais das Forças Armadas revelou a participação do professor Paulo Lício, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na trama golpista.
O relatório conclui a existência de uma ampla organização criminosa com o objetivo de instaurar uma ditadura fascista com Bolsonaro e seus aliados no poder. Essa organização incluía membros do alto escalão das Forças Armadas e os setores mais reacionários do empresariado brasileiro.
Uma das táticas promovidas por Bolsonaro e o presidente de seu partido, Valdemar Costa Neto, foi o uso de relatórios distorcidos para descredibilizar as urnas eleitorais eletrônicas. Um dos golpistas expostos é Paulo Lício de Geus, professor do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O relatório demonstra que Paulo Lício trabalhava para forjar relatórios e análises falsas que questionassem a integridade das urnas eletrônicas. O relatório produzido pelo professor golpista foi usado pelo partido de Bolsonaro dois meses antes da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, e tinha o objetivo claro de tentar dar legalidade ao golpe fascista.
Paulo Lício tinha contato direto tanto com Valdemar Costa Neto – que coordenava quais narrativas falsas o professor deveria dar “sustentação técnica” – quanto com Fernando Cerimedo, blogueiro argentino indiciado por propagar notícias falsas sobre as urnas eletrônicas. Tudo indica que as narrativas propagadas pelo argentino vinham do “Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral”, de que Paulo Lício fazia parte e conversava pessoalmente com Cerimedo.
Além de evidenciar o caráter profissional da organização criminosa de Bolsonaro, o fato relacionado ao golpe marca mais um de muitos outros ataques e manifestações de fascistas na Unicamp.
Fascistas na universidade
O apoio de um professor universitário à tentativa de golpe de Estado não surge como fenômeno isolado, mas como novo marco do avanço do fascismo em nosso país na forma de um movimento orquestrado para aterrorizar, desmobilizar e inviabilizar os espaços de organização da juventude e da classe trabalhadora.
Estudantes da Unicamp que conheciam Paulo Lício reforçaram ao jornal A Verdade o seu caráter extremamente reacionário, com um histórico de ataques a estudantes com notas transfóbicas e racistas enviadas por meio de e-mails institucionais endereçados à comunidade acadêmica.
Apesar das evidências e denúncias, a Unicamp apenas publicou uma nota para a imprensa dizendo que está acompanhando o processo, enquanto ignora os pedidos de abertura de sindicância e tenta abafar o caso. Na mesma universidade, um professor tentou esfaquear um aluno e membro do movimento estudantil durante uma greve estudantil em 2023.
Há alguns anos, os estudantes da Unicamp alertam para o aumento dos ataques fascistas dentro do campus. Há denúncias de ataques armados de grupos fascistas a espaços de lazer dos estudantes, além de pixações racistas e LGBTfóbicas que se espalham pelos institutos da universidade.
A universidade pública e os interesses do povo
Com casos como esse, as universidades públicas, cuja expansão é fruto de um histórico processo de lutas populares, se desviam de sua finalidade enquanto espaço de promoção da ciência e desenvolvimento para o povo e se prestam a ser um espaço usado por golpistas que se valem de sua posição para fomentar ataques fascistas, como fez Paulo Lício enquanto recebia cerca de R$46.000,00 de salário.
O fascismo se organiza no Brasil de forma cada vez mais perigosa e utiliza todos os meios que possui para levar adiante um projeto que condena o povo à superexploração e à miséria, ao mesmo tempo que persegue ainda mais as minorias sociais excluídas.
Por isso, é papel de um movimento estudantil combativo ser capaz de mobilizar amplamente os estudantes para pressionar nos espaços de debate e representação pela expulsão dos fascistas das universidades e pela construção de um projeto de universidade verdadeiramente popular e voltado aos interesses do povo.