“O conceito de ‘multipolaridade’ capitalista é um projeto burguês, que reflete os interesses econômicos e militares insatisfeitos com a ‘unipolaridade’. A teoria revolucionária dos trabalhadores tem nome e sobrenome: internacionalismo proletário.”
Natanael Sarmento | Diretório Nacional da UP
O princípio do internacionalismo proletário é fundamental na teoria científica do comunismo de Marx, Engels e Lênin. É na prática revolucionária que se reafirma este fundamento. Internacionalismo representa a solidariedade e a cooperação, a unidade e a luta de todos os trabalhadores do mundo pelos objetivos comuns, independentemente de nacionalidade. Solidariedade na luta de emancipação dos trabalhadores explorados e oprimidos contra a burguesia capitalista e imperialista. Trabalhadores de qualquer país capitalista, independente de nacionalidade, encontram-se na mesma condição social relativamente à produção e possuem a mesma natureza de classe explorada.
Os comunistas se norteiam pela igualdade e autonomia dos povos e nações. Igualdade fraternal dos partidos comunistas de elevados compromissos e responsabilidades perante os trabalhadores nacionais e de todos os países do mundo. Por isso, é radicalmente anticolonialista, combate qualquer forma de superioridade e exploração entre Estados e nações. Está na linha de frente do combate ao nacionalismo burguês xenofóbico, ideologia fascista utilizada em tempos de crises para deflagrar guerras ou para perseguir imigrantes falsamente acusados de causar desemprego. O internacionalismo dos comunistas é radical na luta contra ideias racistas de superioridade étnica e racial, variações do nazismo serviçal de monopólios capitalistas belicistas e outras ditaduras da burguesia.
A luta internacionalista do proletariado se define nas condições históricas existentes, condições não são escolhidas pelos trabalhadores. Nas mais diferentes de correlações de forças, os comunistas representam a vanguarda da luta emancipatória dos trabalhadores, seguindo a conclamação do Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels: “Proletários de todos os países, uni-vos!”.
Lênin lutou tenazmente os desvios dos socialdemocratas, revisionistas e renegados, em especial, os contrabandos ideológicos no seio da classe operária dos defensores do “nacionalismo” das burguesias imperialistas. Eram os “chauvinistas nacionalistas”, dirigentes socialdemocratas e reformistas que se renderam à ideologia das burguesias nacionais com adesão às guerras imperialistas dos respectivos governos. Lênin defendia a missão histórico-universal da classe operária: transformar revolucionariamente o regime capitalista de exploração, liquidar o poder Estatal burguês e construir o poder dos trabalhadores no socialismo. O internacionalismo proletário representa esse combate em escala global, denunciando o caráter de saque das nações vulneráveis nas guerras imperialistas, desenvolvendo as revoluções de emancipação do proletariado em vez de engrossar o botim capitalista. Para isso, devem-se combinar as lutas locais, regionais, nacionais com as lutas dos trabalhadores e dos povos, mundialmente, a luta geral e a particular no contexto do desenvolvimento da luta revolucionária comum do movimento comunista internacionalista.
Conceitos burgueses
O conceito geopolítico de “unipolaridade” ganhou a voz de arautos do capitalismo contemporâneo, entre outros, Krauthammer e Fukuyama, com o suposto “fim da bipolaridade” das relações internacionais entre URSS e EUA, sob os impactos do fim do “Bloco Socialista” do Leste Europeu, década de 1990.
Para os analistas burgueses, a nova correlação de forças internacionais ficou tão concentrada numa única potência capitalista (os EUA), que passaram a falar em “unilateralidade”. Os norte-americanos lideram o bloco EUA-União Europeia, com quase 30 países, além de seu braço militar, a Otan, que abarca mais países de outras regiões. No caso da Guerra da Ucrânia, as pretensões expansionistas russas se chocaram com os interesses desse bloco hegemônico na região, gerando a atual guerra imperialista.
Contudo, a dominação yankee na aliança imperialista está longe de eliminar as contradições internas. Simplesmente é impossível evitar a busca de lucro e expansão de capitais, os conflitos interimperialistas. A unilateralidade, dialeticamente, existe e não existe. O domador sempre corre o risco de ser devorado pelos leões famintos. A saída do Reino Unido da União Europeia, há exatos cinco anos, expressa bem a contradição dos “aliados capitalistas” dessa pretensa unipolaridade norte-americana. Muito mais contradições existem entre esse bloco e as duas potências econômicas e militares do “Oriente”, China e Rússia. O evidente fenômeno da bipolarização EUA-UE com China-Rússia é um barril de pólvora da guerra nuclear global, açulada pela “guerra comercial” e de áreas de influências.
Já o conceito de “multipolaridade” capitalista é um projeto burguês, que reflete os interesses econômicos e militares insatisfeitos com a “unipolaridade”. A “multipolaridade” renovou forças com o declínio estrutural dos EUA e o avanço econômico e financeiro da China e de outras potências. O Partido Comunista do Proletariado da Itália enumera as características principais do modelo multipolar: 1. Pluralidade de centro de poder – diferentes potências econômicas e militares predominam na política regional ou mundial; 2. Ideologia do equilíbrio de poder, segundo o qual o poder partilhado entre potências evita o domínio unipolar e equilibra as forças; 3. A luta pela hegemonia mundial se concentra no plano cultural e front político. Cada potência com sua identidade cultural, econômica e política disputa influência na geopolítica global; 4. Administração mundial é mais complexa, multifacetada e policêntrica para assegurar o “equilíbrio”. (Unidade e Luta, Revista da CIPOML, 2024)
Ilusão de classe
Teorias do unilateralismo e do multilateralismo das relações internacionais são ideologias da burguesia, interessam às potências econômicas e militares imperialistas. O multilateralismo visa a criar e defender blocos exploradores de países capitalistas. Teoriza que vários centros solucionam as suas contradições, pacificamente. Clara falsificação ideológica, sem aplicação na história.
As contradições interimperialistas não se resolvem na tênue assinatura de acordos e tratados, a História comprova que tais tratados não resistem às crises econômicas, vide 1914-1918 e 1939-1945, que apenas prepararam as duas guerras mundiais que já ocorreram até agora. Essa ideologia danosa objetiva ocultar a impossibilidade de paz duradoura mundial sob o capitalismo. Tenta camuflar as contradições intrínsecas do capital, a reprodução e expansão na base da exploração do trabalho e da guerra de rapina.
As guerras imperialistas são produto do modo de produção capitalista em sua fase superior imperialista, e isso Lênin provou há mais de cem anos. A ideologia dos interesses do proletariado preconiza a abolição da exploração do trabalho, o fim das trocas desiguais visando ao lucro capitalista e à acumulação, o ponto final no colonialismo e neocolonialismo dos povos. A teoria revolucionária tem nome e sobrenome: internacionalismo proletário.
Coerentemente com o princípio internacionalista dos comunistas autênticos, devemos combater desvios das posições autoproclamadas comunistas, que, todavia, fazem apologia ao chamado “socialismo ao modo chinês”, dos arautos da potência econômica e militar asiática de Estado dirigido por um PCCh, mas que, objetivamente, mantém relações comerciais capitalistas e imperialistas, regional e globalmente. Expande os seus domínios e áreas de influência na Ásia, África, América Latina, inclusive no Brasil.
Não cabe aos comunistas defender burguesias e capitalistas, fazer apologia da formação de blocos econômicos capitalistas, como os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), já ampliado com Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito, Etiópia e Irã. A internacionalização do capital de burgueses mandarins, reis, sheiks, czares, presidentes, não expressa o interesse da emancipação dos trabalhadores do mundo. A arapuca ideológica do “atrativo” antiamericano só serve ao oportunismo, pois não debela a exploração capitalista, não traz a paz mundial e em verdade fortalece a corrida armamentista das potências, vide os gastos militares dos EUA, China, Rússia, Alemanha, França, etc.
A História demonstra a ampliação de conflitos armados, o genocídio a céu aberto realizado pelo Estado sionista de Israel em Gaza, a destruição ambiental, guerras regionais e o risco real de guerra global nuclear. Os atuais burgueses, banqueiros e capitalistas chineses, o exército do Estado capitalista russo de Putin não conservam nem a sombra do internacionalismo das Revoluções Socialistas da China e da Rússia, nem muito menos das ações globais da 3ª Internacional Comunista.
Tarefa dos comunistas
A tarefa dos comunistas consiste em desenvolver e organizar a consciência revolucionária do proletariado nacional e internacionalmente, na perspectiva da luta sem trégua de classes antagônicas dos trabalhadores de todo o mundo contra a burguesia e contra qualquer tipo de países imperialistas. O imperialismo é responsável pelas guerras e pela degradação, por milhares de fugitivos de guerras, pela fome e pela enorme desigualdade no mundo.
Neste sentido, para enfrentar e derrotar inimigos tão poderosos, é indispensável fortalecer partidos comunistas revolucionários que travam as lutas pelo poder popular e pelo socialismo em seus países em consonância com a luta de todos os explorados do mundo. Cabe ressaltar a necessidade de restauração da Internacional Comunista, uma poderosa e gigantesca organização mundial do movimento comunista baseado no internacionalismo.
Por isso, saudamos o esforço extraordinário da Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxistas-Leninistas (CIPOML) nos seus 30 anos de existência e luta, celebrados na cidade de Hamburgo, Alemanha, com delegações dos cinco continentes, no final de 2024.
Viva a união de todos os trabalhadores do mundo!
Viva a CIPOML! Viva a Unidade Popular pelo Socialismo!
Matéria publicada na edição impressa nº 305 do jornal A Verdade