O Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) sofre risco de ser fechado por conta da falta de infraestrutura e de orçamento. A instituição, que guarda importantes acervos da história do estado do Rio de Janeiro e do Brasil, como documentos fundamentais para a luta por Memória, Verdade e Justiça, sofre com problemas estruturais em seu prédio sede, com grande risco de incêndio e desabamento. Confira a Nota Pública em Defesa do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) abaixo.
No último dia 7 de janeiro (terça-feira), veio a público o anúncio do fechamento do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ). A decisão foi tomada pelo então diretor da instituição, Victor Travancas, que denunciou as condições precárias de funcionamento do prédio do APERJ, correndo risco de desabamento e/ou incêndio.
Sem avaliar o estado do prédio, o governador Claudio Castro reabriu APERJ para funcionamento normal no dia seguinte, 8 de janeiro. No mesmo dia, a jornalista Juliana Dal Piva mostrou a situação estrutural do APERJ com fotos, no portal de notícias ICL. Segundo a jornalista: “Salas com piso totalmente quebrado, buracos no chão, rachaduras em pilares e fiação elétrica exposta e sem renovação. Esses são apenas alguns dos principais problemas do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, o Aperj, que foram expostos pelo agora ex-diretor Victor Travancas”.
Além dos problemas estruturais, Victor Travancas denunciou a existência de 26 funcionários fantasmas trabalhando no APERJ. Fundado em 25 de agosto de 1931, Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro possui um acervo com cerca de 37 mil itens (37.000), contando com publicações técnicas de arquivos e bibliotecas, anais e anuários de órgãos públicos estaduais e federais, mensagens e relatórios de governo, Diários Oficiais do Estado do Rio de Janeiro (Executivo), legislação estadual e federal (Leis do Brasil, Província e Estado do Rio de Janeiro), genealogias, biografias e um número relevante de livros, periódicos e folhetos sobre a História Política Nacional e História Fluminense.
Em um levantamento de novembro de 2024, segundo matéria do portal Diário do Rio de 8 de janeiro de 2025, apurou-se que APERJ guarda 39 fundos documentais e 25 coleções particulares. Entre esse material, encontra-se o fundo Polícias Políticas, que contém a documentação do antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), quando a cidade do Rio de Janeiro ainda era Capital Federal e quando foi estado da Guanabara, e do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS) do antigo estado do Rio de Janeiro.
A partir da documentação do fundo Polícias Políticas, foi possível produzir o Relatório Final da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RIO), concluído e entregue no dia 10 de dezembro de 2015, e que se encontra guardado e preservado no APERJ.
Esse acervo é inestimável para a realização e a concretização da justiça de transição no Brasil. A preservação da memória política, social e cultural, a divulgação da verdade e a reparação de suas vítimas só são possíveis com a preservação do APERJ em boas condições.
Além do rico acervo do APERJ, as péssimas condições do prédio colocam em risco a integridade física de trabalhadores e pesquisadores, jornalistas, visitantes etc. cariocas, fluminenses, brasileiros e estrangeiros da instituição. A possibilidade de um desabamento e/ou de um incêndio pode levar as pessoas que lá estiverem trabalhando, pesquisando, conhecendo, visitando etc. à morte ou a graves problemas de saúde, que podem tornar-se crônicos.
Nós, Coletivo RJ por Memória, Verdade, Justiça e Reparação, coletivo Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça e outras entidades de Direitos Humanos, especialmente no campo da Memória, Verdade, Justiça e Reparação, exigimos do governador Claudio Castro medidas urgentes que garantam a segurança e a preservação do acervo do APERJ.
É premente agir com celeridade para evitar que a tragédia ocorrida com Museu Nacional se repita. No dia 2 de setembro de 2018, um incêndio arruinou Museu Nacional, destruindo boa parte de seu acervo científico-cultural em poucas horas.
O impacto negativo causado pela catástrofe ocorrida no Museu Nacional à ciência e à cultura do Brasil, em particular, e do mundo, em geral, é incalculável. Muitas informações e objetos do acervo da instituição foram perdidos irreparavelmente.
Assim como na tragédia do Museu Nacional, APERJ encontra-se em risco devido à negligência do Estado, responsável pela guarda e pela preservação do patrimônio histórico-cultural do Brasil e da cidade e do estado do Rio de Janeiro.
É preciso agir no presente para preservar a nossa história e garantir nosso futuro, em um país mais democrático e mais rico histórica, cultural e cientificamente.
Entidades:
Coletivo RJ por Memória, Verdade, Justiça e Reparação
Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça
Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia