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sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Qual o papel das Forças Armadas na conspiração para dar um golpe fascista no Brasil?

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Ao longo da História, as Forças Armadas realizaram vários golpes militares para reprimir os trabalhadores e manter o poder nas mãos da burguesia. Segundo o inquérito da PF, os comandantes das Forças Armadas se reuniram 14 vezes para discutir o golpe com Bolsonaro após a derrota nas eleições.

Heron Barroso | Redação


Após a publicação do inquérito da Polícia Federal (PF) sobre a conspiração fascista para dar um golpe de Estado e impor uma nova ditadura militar no Brasil, os meios de comunicação da burguesia imediatamente passaram a defender a tese de que a democracia brasileira foi salva pelo Alto Comando das Forças Armadas, que se recusou a participar da trama bolsonarista.

Para eles, os milhões de brasileiros que foram às ruas pedir a saída de Bolsonaro da Presidência, a falta de apoio da imensa maioria da população, o isolamento do ex-capitão dentro e fora do país e a resistência dos movimentos sociais não tiveram nenhuma importância.

Nos jornais, TVs e internet, centenas de manchetes e colunas saudaram a “firmeza” com que os militares supostamente impediram o golpe. O ministro da Defesa José Múcio chegou a afirmar que o golpismo nas Forças Armadas é um caso isolado e não representa a maioria da instituição. “Eu desejo que tudo seja esclarecido para tirar de cima das Forças Armadas a névoa da suspeição”, disse.

Porém, não se trata de suspeição, sr. ministro, mas de fatos. Nada menos que 25 das 37 pessoas indiciadas pela PF são militares, muitos ainda na ativa, entre eles o ex-ministro da Defesa, o ex-comandante da Marinha e outros quatro generais. Como é possível não enxergar aí o envolvimento da cúpula das Forças Armadas na tentativa de golpe?

Essas mesmas Forças Armadas realizaram, ao longo da História, vários golpes militares para reprimir os trabalhadores, manter o poder nas mãos da burguesia e impedir o avanço da revolução socialista em nosso país. Jamais devemos esquecer que foi nos quartéis do Exército, Marinha e Aeronáutica que foram torturados e assassinados centenas de revolucionários, verdadeiros patriotas e democratas, como Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, Sônia Angel e José Carlos da Matta Machado, entre outros.

Mas, ao que parece, o ministro da Defesa e algumas personalidades e organizações que se dizem de esquerda se esqueceram. Por isso, nunca é demais relembrar alguns casos de participação direta das Forças Armadas em golpes e conspirações e qual sua verdadeira função numa sociedade capitalista.

A lista é grande

Em 1899, o Exército “proclamou” a República e nomeou dois generais seguidos como presidentes: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Em 1930, esse mesmo Exército empossa Getúlio Vargas na Presidência e cria o chamado “Estado Novo”, em 1937. Poucos anos depois, em 1945, as Forças Armadas depõem Vargas e “elegem” como presidente o general Eurico Gaspar Dutra. Em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, os militares tentam impedir a posse do vice, João Goulart, que assume, mas é golpeado em 1964 e se exila. De 1964 a 1985, cinco generais são nomeados presidentes do Brasil, durante uma ditadura que assassinou mais de 10 mil pessoas e perseguiu, prendeu, sequestrou, torturou outros milhares.

Mesmo após o fim do regime militar, as Forças Armadas continuaram reprimindo os trabalhadores. Em 1988, no governo Sarney, o Exército interveio para acabar com a greve dos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) por melhores salários e por redução da jornada de trabalho. Foram assassinados três operários e centenas ficaram feridos, no que ficou conhecido como “Massacre de Volta Redonda”.

Em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o Exército reprimiu uma greve na Petrobras, ocupando quatro refinarias, prendendo vários dirigentes sindicais e confiscando o dinheiro dos sindicatos.

Agora que refrescamos a memória do sr. José Múcio e de todos que, como ele, ainda creem no mito do espírito democrático de nossas Forças Armadas, vejamos qual foi o papel dos militares na conspiração para dar o mais novo golpe fascista no Brasil.

O Alto Comando no golpe

Na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro afirmou que seu chefe se reuniu várias vezes com membros do Alto Comando das Forças Armadas para tratar da “minuta do golpe”. Um deles foi o general Estevam Theophilo, então chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, que se colocou à disposição da quartelada. “No final da reunião, foi repassado ao colaborador que o general Theophilo disse que se o presidente Jair Bolsonaro assinasse o decreto, as Forças Armadas iriam cumprir”, afirma trecho da delação de Cid.

Ainda segundo o inquérito da PF, os comandantes das Forças Armadas se reuniram 14 vezes para discutir o golpe com Bolsonaro após a derrota nas eleições. Em quatro desses encontros, estiveram os comandantes das três forças juntos. Em cinco ocasiões, dois compareceram e, em outras cinco, somente um deles estava. Freire Gomes, comandante do Exército, foi o mais assíduo: esteve reunido com Bolsonaro 12 vezes.

Ou seja, desde o início, membros da cúpula das Forças Armadas não apenas sabiam, como estavam participando ativamente da conspiração para matar o presidente eleito e seu vice, sequestrar um ministro do Supremo Tribunal Federal e anular o resultado das eleições, mas nada fizeram. Só admitiram conhecimento do plano terrorista depois que a coisa deu errado e perceberam que poderiam acabar na cadeia.

O próprio general Freire Gomes confessou, em depoimento à PF, que “participou de reuniões no Palácio da Alvorada após o segundo turno e que Bolsonaro apresentou hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e estado de sítio”.

O ex-comandante do Exército jura que tentou convencer Bolsonaro a não ir adiante e que chegou a avisar ao então presidente que, se ele atentasse contra o regime democrático, seria obrigado a prendê-lo.

Ora essa! E por que não prendeu?

A resposta é simples: não prendeu porque a cúpula das Forças Armadas não tem um tantinho assim de honra e dignidade; estão mais preocupados em manter seus privilégios e mordomias. Para esses generais, a democracia é desnecessária, a liberdade do povo atrapalha seus interesses e melhor seria que a ditadura de 1964 nunca tivesse acabado. É por isso que, todos os anos, eles fazem questão de comemorar o aniversário do golpe nos quartéis e nos clubes militares.

Um governo sério teria expulsado todos esses comandantes das Forças Armadas e pedido sua prisão por conspirarem contra a Pátria. Mas os defensores do mito de que o Exército é leal à democracia insistem em não ver mais que uma “névoa de suspeição” em tudo isso…

É preciso muita ingenuidade (ou será mau caráter?) para acreditar que justamente os militares indicados por Bolsonaro para chefiar as Forças Armadas tenham impedido a execução do plano golpista. Ou será que esses senhores também esqueceram que, por quatro anos, Bolsonaro e seus generais atuaram para enfraquecer a democracia no país, atacaram as eleições e ameaçaram diversas vezes acabar com as liberdades democráticas?

Quando, finalmente, o ex-capitão foi derrotado nas eleições de 2022, esses mesmos comandantes permitiram que milhares de fascistas montassem acampamentos em frente aos quartéis. Chegaram mesmo a assinar uma nota pública chamando os acampamentos de “manifestações populares”. Agora está claro que esses acampamentos foram parte fundamental do plano e que, sem eles, dificilmente o 08 de janeiro teria ocorrido.

A quem servem as Forças Armadas?

Mais que uma ingenuidade, a recusa em considerar as Forças Armadas como instrumento fundamental de repressão e dominação da burguesia sobre os trabalhadores e o povo é uma das principais causas do atraso da revolução em nosso país. Os governos do PT, aliás, não mediram esforços em aumentar as verbas e comprar armamentos para tornar o Exército e as polícias ainda mais poderosos e modernos.

A verdade é que, numa sociedade capitalista, como a brasileira, o Exército está a serviço da burguesia, defende os interesses dessa classe e está sempre a postos para defender os interesses e as riquezas dos grandes capitalistas.

Por isso, os comunistas revolucionários, para não se deixarem ser pegos de surpresa, devem ter sempre em mente as palavras do camarada Manoel Lisboa, em seu artigo O Exército burguês pode e deve ser destruído:

“Este exército da burguesia não é amado pelo povo brasileiro. Para destruirmos este exército, temos que formar o nosso próprio exército, o exército do proletariado. Este, sim, será um exército realmente popular, porque será formado por pessoas do povo, por pedreiros, carpinteiros, torneiros, soldadores, serventes, tecelões, estudantes, sapateiros, camponeses, comerciários, etc. Será um Exército Popular e Revolucionário porque defende os verdadeiros interesses do povo e luta por uma sociedade melhor, uma sociedade mais perfeita e mais justa, luta por uma sociedade socialista”.

Matéria publicada na edição nº 304 do Jornal A Verdade

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