O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) pretende abrir um edital para entregar às OSS a gestão do Hospital Estadual de Sumaré, hoje vinculado à Unicamp. Estudantes do curso de Medicina se mobilizam contra a proposta privatista
Leonardo de Paula e Felipe Dias | Campinas (SP)
Neste início de ano, o Hospital Estadual de Sumaré (HES) tornou-se o novo alvo da agenda privatista do governador de São Paulo, o fascista Tarcísio de Freitas (Republicanos). Hoje, o a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é responsável pela administração da unidade. Porém, Tarcísio pretende não renovar o convênio e abrir um chamamento para que as Organizações Sociais da Saúde (OSS) assumam a gestão do hospital, sucateando a saúde da população e lucrando com a precarização dos serviços.
Reconhecido como o melhor hospital público do Brasil em 2022, o HES é uma referência em saúde pública para a população da região metropolitana de Campinas. Por mês realizam-se 1200 internações, 1050 cirurgias e mais de 6,5 mil consultas que atendem o povo do interior de São Paulo. Além de referência no cuidado, o HES cumpre um papel importantíssimo na formação de novos profissionais de saúde pública, uma vez que oferece vagas de estágio para mais de 500 estudantes de Nutrição, Medicina, Farmácia e Enfermagem todos os anos.
Projeto privatista
Como apurado pelo jornal PatoLógico, organizado pelo Centro Acadêmico de Estudantes de Medicina da Unicamp (CAAL), o governo pretende fazer um chamamento público para que as OSS disputem com a universidade, que administra o hospital desde sua inauguração por meio da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp). O problema é claro: esses entes privados não vão ter como objetivo prestar um atendimento digno à população da região, mas sim transferir para bolsos privados o orçamento público.
Segundo Thaisa Freire, estudante de Medicina, redatora do PatoLógico e membro do CAAL, a privatização representa um ataque claro à população. “Estamos recebendo vários relatos de trabalhadores do Hospital Estadual de Sumaré contra a privatização. A presença da Unicamp no HES é fundamental para o desenvolvimento de um atendimento de qualidade à população, pois além de atender, desenvolve pesquisa e um atendimento humanizado. A UNICAMP não prioriza o lucro, prioriza a pesquisa, o atendimento e a qualidade, enquanto as empresas privadas vão priorizar o lucro, por isso o governo do estado nos quer tirar de lá”, ela defende.
Desde que assumiu o mandato, o governador fascista Tarcísio de Freitas pôs em marcha seu plano declarado de entregar todos os bens públicos da população para as mãos de seus aliados entre os empresários de São Paulo. No ano de 2024, o povo paulista se mobilizou contra o edital que previa a privatização do Hospital Geral de Taipas e do Hospital Geral Vila Penteado, ambos de gestão estadual. Como se não bastasse a tentativa de vender o direito à saúde da população, o Governador ainda declarou que ambos os hospitais são só “ossinhos” e que o “filé” é a saúde dos empresários, em claro desrespeito ao trabalho dos profissionais da saúde pública.
Estudantes em luta
![Estudantes de Medicina da UNICAMP se reúnem para pautar os próximos passos da luta contra a privatização do HES. Foto: Felipe Dias](https://averdade.org.br/wp-content/uploads/2025/02/WhatsApp-Image-2025-02-12-at-08.25.03.jpeg)
Os estudantes de medicina da Unicamp, organizados no Movimento Correnteza e em seu Centro Acadêmico, não esperaram a volta às aulas para organizar as lutas contra a privatização do HES. Mesmo em período de férias, entraram em contato com os CAs e atléticas dos cursos de saúde da universidade para organizar uma assembleia geral e definir os próximos passos dessa mobilização.
Isso porque, como defende Sabrina Garcia, presidente do CA de Medicina da Unicamp, a privatização do Hospital Estadual de Sumaré é um ataque à saúde pública, mas também à educação: “O HES é um campo de estágio em que os alunos têm muito carinho, desde a estrutura até o atendimento de qualidade. Como estudantes, nós sabemos bem que o processo de privatização é uma ameaça aos nossos campos de estágio, abrindo espaço para o capital, transformando a saúde em mercadoria”.
“A privatização com as OSS é só a porta de entrada para um pacote neoliberal que leva à precarização do trabalho (inclusive de docentes) e ao sucateamento da saúde em busca de lucro. Tudo isso irá impactar sim nas atividades de ensino, pesquisa e extensão que são ofertadas no HES”, continua Sabrina.
Tarcísio sai, o HES fica
O projeto privatista de Tarcísio deixa claro que seu governo fascista não descansará até vender todos os serviços públicos para os grandes capitalistas. A conta não virá só no bolso, como no caso da venda da Sabesp: se refletirá também no próprio bem-estar da população, que terá que conviver com uma administração que é incapaz de gerir a saúde pública e não tem o menor interesse na vida do povo.
Como denunciado pelo jornal A Verdade em agosto de 2024, “a experiência dos últimos anos em São Paulo já tem mostrado que é impossível ter uma boa gestão com as OSS, que tiram proveito do sucateamento e da terceirização da saúde”. Hoje, o Hospital Estadual de Sumaré oferece 6,5 mil consultas mensais. O histórico de gestão das OSS, que envolve demissões em massa, precarização das condições de trabalho e sucateamento da saúde, põe em dúvida se esse atendimento de excelência continuará sendo uma realidade.
Felipe Dias, militante do Movimento Correnteza, afirma: “Temos nos organizado com diversas entidades e coletivos para lutar contra a privatização do HES. Nosso próximo passo é lotar a Câmara Municpal Campinas no dia 12/03, quando acontecerá uma audiência pública que vai pautar a privatização do hospital. Acreditamos que a pressão em favor da saúde pública que nós, estudantes e trabalhadores, estamos fazendo pode reverter esse processo de privatização”.
*Com informações do PatoLógico, jornal dos estudantes de Medicina da Unicamp