“Hoje, mais de 16 milhões de pessoas vivem em favelas de todo o país. Esse processo de crescimento das favelas é um reflexo da política de segregação social, racial e econômica do sistema capitalista que vivemos.”
Laís Chaud | Coordenação Nacional do MLB
Hoje mais de 16 milhões de pessoas vivem em favelas em todo país. Se essa área fosse um estado, seria o terceiro mais populoso do Brasil. O aumento de 39% registrado nos últimos anos (em 2010, eram 11,5 milhões de pessoas) expressa, dentre outras coisas, o aprofundamento das contradições e desigualdades políticas, sociais e econômicas.
O processo de crescimento e formação das favelas é antigo, tendo suas origens desde o século 19, principalmente após a Lei de Terras (1850) e a Lei Áurea (1888). Os negros escravizados, tendo sido “libertos”, foram obrigados a se alojarem nas áreas mais afastadas das cidades, pois não houve qualquer intenção para que eles pudessem viver de forma digna enquanto “pessoas livres”. Assim, a forte opressão e exploração se mantiveram presentes.
Ao longo da história, com o desenvolvimento industrial e a urbanização, aconteceu um forte êxodo rural. Ou seja, a mudança, forçada ou não, de famílias moradoras do campo para as cidades em busca de trabalho e melhores condições de vida. Porém, com a discriminação e por falta de recursos para encarar a carestia, essas pessoas foram construindo seus barracos, casas e cortiços nas áreas mais afastadas dos centros comerciais, muitas vezes, em áreas de risco de enchentes e desabamentos.
Esse processo de crescimento das favelas é, portanto, um reflexo da política de segregação social, racial e econômica do sistema capitalista que vivemos. As favelas são ocupações de autoconstrução, feitas de forma desorganizada, pois não conseguem pagar os elevados preços de aluguel. Por isso, vivem de forma precária, sem saneamento básico, transporte de qualidade, postos de saúde e escolas.
Essa realidade poderia ser diferente. Mas, por ser ocupada pelo povo pobre e, em sua grande maioria, por pessoas negras, essas áreas são propositalmente esquecidas e, ao mesmo tempo, atacadas pelo poder público. Além das dificuldades enfrentadas dentro das favelas, morar em regiões afastadas ou em condições precarizadas dificulta a circulação e nega o direito das pessoas à cidade. Esmaga o dia a dia dos trabalhadores, que passam horas dentro de um transporte público caro e precário, para ir e vir de casa para o trabalho, e ainda enfrentam a humilhação e a opressão da polícia.
Como diz Carolina Maria de Jesus, em seu livro Diário de uma favelada – Quarto de Despejo: “De quatro em quatro anos, mudam-se os políticos e não soluciona a fome, que tem sua matriz nas favelas e suas sucursais (filiais) nos lares dos operários”.
Se antes as contas não fechavam, hoje nosso povo está sendo esmagado pelo aumento da carestia da vida. Fazendo alguns cálculos, pelo menos 18% do salário mínimo vai para pagar o transporte público, considerando apenas duas passagens por dia, em uma escala 6×1. Na alimentação vão, pelo menos, mais 53% para comprar uma única cesta básica, que sequer alimenta uma família no mês. Nesse cálculo, sobrariam em torno de R$ 455 para o aluguel. Quem hoje encontra um lugar digno, ou mesmo algum lugar qualquer, para morar por esse valor?
Enquanto os grandes empresários e políticos lucram milhões com a especulação imobiliária, o déficit habitacional registra pelo menos 8 milhões de famílias no nosso país.
Por isso, nossa luta deve ser em defesa da moradia digna, por uma saúde, educação, transporte público de qualidade, que atenda as verdadeiras necessidades do nosso povo trabalhador.
Devemos intensificar nosso trabalho com os operários e as operárias nas portas de fábricas, em quem encontramos as famílias esmagadas pelo preço do aluguel, as mulheres que necessitam de creche para seus filhos, os pais e mães dos jovens que são diariamente assediados pelo tráfico e criminalizados pela polícia. Ou seja, encontramos nosso povo explorado e humilhado por esse sistema e que, por isso, só poderá vir deles a resposta para construção de uma nova sociedade.
Matéria publicada na edição impressa nº 306 do jornal A Verdade