UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Trump ameaça nações para esconder grave crise dos EUA

Leia também

Conciliar com Trump e os fascistas do governo dos EUA significa atrasar a luta pela libertação da Palestina, ampliar a dependência da economia brasileira aos monopólios estadunidenses e entregar a classe trabalhadora a uma realidade de exploração sem limites em função do lucro de meia-dúzia de bilionários.

Rafael Freire e Felipe Annunziata | Redação


EDITORIAL Antes mesmo de tomar posse como presidente dos EUA, Donald Trump já iniciou uma série de ameaças a outras nações. Nenhuma surpresa. Quando esteve na Presidência da maior potência imperialista do mundo pela primeira vez, entre 2017 e 2021, não foi diferente. Mas, como diz o ditado popular: “Cão que ladra, não morde”.

No último dia 20 de janeiro, iniciou seu segundo mandato de quatro anos, agora totalmente alinhado com as grandes empresas de comunicação digital do mundo, as chamadas Big Techs. No palco de sua festa estavam perfilados, em destaque, os magnatas da Amazon, Google, Meta, X (Twitter), Apple e até a chinesa TikTok. Não à toa, cada declaração de Trump toma conta hoje, rapidamente, não só do noticiário das redes de comunicação tradicionais (TVs, rádios, jornais), como também das redes digitais. Ou seja, vai poder latir e mentir à vontade.

Trata-se de um poderoso setor da burguesia mundial, com tendência a crescer sua influência na disputa ideológica na sociedade, além de sua riqueza. Para efeito de comparação, Elon Musk (Tesla/X), Jeff Bezos (Amazon) e Mark Zuckerberg (Meta) possuem um patrimônio líquido maior que a soma do valor de mercado das dez maiores empresas do Brasil. Juntos, têm US$ 891 bilhões (mais de R$ 5 trilhões). As empresas Petrobras, Itaú e Vale têm hoje um valor de mercado de R$ 1 trilhão.

Derrotismo

As análises derrotistas são sempre colocadas como se fosse inevitável que Trump consiga impor toda sua agenda reacionária aos EUA e ao mundo. A conclusão é sempre a mesma: não há alternativa a não ser aceitar a “nova” política do imperialismo estadunidense.

Na mídia burguesa, os “analistas” defendem que o Brasil e os demais países devem aceitar o governo de Trump, não opor resistência e tentar negociar com o fascista, pois se tratam de países dependentes do capital ianque. 

Por sua vez, jornalistas, comentaristas e dirigentes políticos ditos progressistas repetem a mesma coisa, mas com um verniz à esquerda. Dizem que, para evitar a volta do fascismo ao governo brasileiro, é preciso conciliar com Trump e seu governo de bilionários. 

Em qualquer um dos casos, jamais provocar a ira do furioso Trump.

Porém, como afirmou de maneira objetiva e certeira, no recente artigo intitulado “Nos EUA, águia ou abutre?”, publicado no site de A Verdade, o companheiro Frei Gilvander (este sim, um verdadeiro analista crítico de esquerda), todo esse falatório de Donald Trump não passa de bravata fascista, de um tipo de imperialismo decadente. Vejamos:

“Pelo discurso colonialista, racista, prepotente e ufanista, e também pelos decretos assinados no mesmo dia da posse, expõe a podridão de um sistema que tenta, desesperadamente, manter sua hegemonia. Por isso, assistimos a algo com rompantes de um imperador, usando em vão o nome de Deus, o que é idolatria (usar o nome de Deus para justificar políticas de morte), se auto-apresentando como imbatível, ao afirmar que ‘inicia agora a era de ouro da América’; ‘construiremos as Forças Armadas mais poderosas do mundo’; ‘vamos invadir o Panamá e retomar o Canal’; ‘vamos terminar o muro que separa os EUA do México’; ‘vamos cobrar impostos dos povos em outros países, impondo tarifas comerciais para que nossos cidadãos paguem menos impostos e possam ter prosperidade, glória e seremos motivo de inveja em todo o mundo’.”

Contradições internas

Para não render muito acerca da “inveja” do restante do mundo em relação aos EUA, vamos citar apenas duas graves contradições internas do país: crescimento da pobreza e das greves de trabalhadores.

Pobreza – Quase 30% de todas as famílias dos EUA relataram que, em 2024, gastaram mais de 95% de sua renda em moradia, alimentação e contas de serviços públicos, segundo o Bank of America Institute.

Em outubro, a então vice-presidenta dos EUA e candidata à Presidência derrotada por Trump, chamou de “salário de pobreza” o salário mínimo norte-americano. Atualmente, o valor mínimo da hora de trabalho é de US$ 7,25 (aproximadamente R$ 43,5/hora).

Já nos últimos dias de 2024, o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Governo dos EUA publicou um relatório oficial em que estimou que, em janeiro daquele ano, havia 771.480 pessoas vivendo em situação de rua no país, 18% a mais do que o identificado em 2023. Com uma inflação persistente e os altos preços dos imóveis, que subiram, em média 20% durante a gestão de Joe Biden e Kamala Harris. Deste total, cerca de 150 mil são crianças e jovens de até 17 anos.

Greves – Os motoristas da Amazon entraram em greve às vésperas do Natal, na maior greve da história da empresa. Os motoristas exigiam vínculo empregatício, salários dignos e o fim do sistema de classificação no estilo Uber, que controla seus horários de trabalho. Em Nova York, motoristas empregados por 20 empresas terceirizadas ganham cerca de US$ 15 por hora, muito abaixo do “salário de pobreza” citado acima.

Também funcionários da rede de alimentos Starbucks entraram em greve no dia 20 de dezembro. Apesar dos US$ 3,76 bilhões em lucros em 2024, a Starbucks não ofereceu nenhum aumento imediato e apenas 1,5% de aumentos futuros. O salário médio na empresa é de US$ 18 por hora.

Tanto Amazon quanto Starbucks são gigantescas corporações globais. A Amazon, com sua vasta força de trabalho em mais de 50 países, domina setores como varejo, logística, tecnologia e entretenimento. A Starbucks, com mais de 360.000 funcionários e presença em 80 países.

Sem nenhuma repercussão na grande mídia brasileira, operários portuários fizeram greve e conquistaram um aumento de 62% nos salários, em outubro passado. Já a greve na Boeing (indústria de aviação) mobilizou 33 mil operários no mesmo período e conquistou um aumento de 35%.

Ainda em 2023, uma greve no setor automobilístico (responsável por 3% do PIB dos EUA) paralisou 350 mil operários, por três meses, arrancando um aumento salarial médio de 25%.

Política anti-imigrante

Na tentativa de intimidar os povos do mundo, o Governo Trump adotou como “primeira medida de impacto” a deportação de imigrantes sem visto, alguns com décadas de moradia e trabalho nos EUA. Há um foco especial para os latinos, incluindo brasileiros.

O primeiro voo de deportados que chegou ao Brasil, no dia 25 de janeiro, trouxe pessoas arrancadas de dentro de suas casas, locais de trabalho e até de serviços de saúde. Alguns foram espancados e enforcados no momento da prisão e durante o voo, feito numa aeronave sem condições para transporte de pessoas, quente e sem direito à alimentação. Quase todos os 88 brasileiros desembarcaram com algemas nas mãos e nos pés, como escravos numa espécie de “navio negreiro”.

“Foi um inferno, uma tortura. Desde que a gente saiu de Luisiana, deu para perceber que o avião estava com algum problema. Mesmo assim, eles forçaram”, disse Sandra Souza, 36 anos. “Eles bateram na gente porque a gente tava com calor e a gente não queria ficar mais preso no avião”, relata Vitor Gustavo da Silva, 21 anos.

Segundo dados do governo do México, somente em 2022, as comunidades latinas foram responsáveis pela produção – em bens e serviços – de US$ 3,6 trilhões do PIB dos EUA (cerca de R$ 21,24 trilhões). Isto significa que, se os latinos fossem um país separado dentro dos Estados Unidos, representariam a quinta maior economia do mundo, à frente de países como o Reino Unido, a França ou mesmo o Brasil.

O imperialismo é invencível?

O medo nunca foi resposta para nada na História. Não foi a saída para encarar a ditadura militar fascista de 1964 ou o governo reacionário de Bolsonaro, em 2022. Tampouco para o povo negro norte-americano que saiu em massa às ruas para dizer “vidas negras importam” e cobrar justiça pelo assassinato de George Floyd, influenciando diretamente na derrota eleitoral de Trump à reeleição, em 2020.

Imaginem se o povo palestino se deixasse apossar por esse sentimento. O que vimos, na verdade, foi uma resistência heroica durante 15 meses e, agora, com o cessar-fogo temporário, declarações e mais declarações de orgulho por terem dobrado a política genocida de Benjamin Netanyahu, Joe Biden e da União Europeia.

Assim como os palestinos mostraram que nem todas as armas do mundo podem acabar com a determinação de um povo pela sua libertação, precisamos levantar mais alto a bandeira anti-imperialista no período que se avizinha. 

Conciliar com Trump e os fascistas do governo dos EUA significa atrasar a luta pela libertação da Palestina, ampliar a dependência da economia brasileira aos monopólios estadunidenses e entregar a classe trabalhadora a uma realidade de exploração sem limites em função do lucro de meia-dúzia de bilionários.

Se, após tantas décadas com o imperialismo estadunidense impondo golpes militares, regimes reacionários, invasões e guerras de rapina, os povos do mundo não se renderam, não será agora que nos renderemos a um bandido como Trump.

Publicado na edição n° 306 do Jornal A Verdade.

More articles

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos