Mulheres organizaram atos no último dia 8 de março pelo fim da violência, da fome, das guerras imperialistas e da Escala 6×1. Prisão para Bolsonaro e punição dos generais fascistas também esteve na pauta.
Alice Morais | Movimento de Mulheres Olga Benario
No último dia 8 de março, milhares de mulheres foram às ruas em todo o país para denunciar a exploração e as violências que as mulheres ainda sofrem hoje. Os atos aconteceram em diversas capitais e cidades do interior, mostrando a combatividade e a disposição das mulheres para a luta.
“Nós conseguimos fazer um vitorioso 8 de Março, relembrando a luta das mulheres trabalhadoras pela destruição do sistema capitalista, e também por direitos para que a gente avance”, relata Samara Martins, vice-presidente da Unidade Popular.
O Movimento de Mulheres Olga Benario esteve nas ruas construindo atos em 22 estados do país para denunciar o alto custo de vida, as violências que as mulheres ainda sofrem diariamente, as guerras imperialistas que têm assolado o mundo, sobretudo na Palestina, pedir diminuição da jornada de trabalho e prisão para Bolsonaro e os generais golpistas.
8 de março é dia de luta
A sensação que a burguesia, e até mesmo partidos da social-democracia, quer colocar para as mulheres no dia 8 de março é que, agora, não há mais razão pela qual lutar, que as mulheres já vivem bem, e que os direitos já concedidos às mulheres, como o voto e a Lei Maria da Penha — direitos esses que, inclusive, foram conquistados através da luta organizada — são o melhor que elas podem ter. Então o propósito do dia 8 de março seria apenas festejar essa vitória.
Na verdade, a crise do sistema capitalista somente precariza cada vez mais a vida das mulheres: elas ainda recebem 22% a menos que os homens pelo mesmo trabalho, e são elas as responsáveis por 48% dos lares brasileiros (Dieese). O aumento do salário (já absorvido pela inflação) não consegue acompanhar a alta nos preços dos alimentos. Nesse sentido, 60 milhões de pessoas passam fome em nosso país, em sua maioria mulheres e suas crianças.
“A fome se agrava no Brasil. E nós estamos aqui para dizer que não vamos morrer de fome enquanto o agronegócio embolsa milhões de reais de dinheiro público que está sendo revertido em planos para poder financiar esse genocídio contra o nosso povo. É absurdo que as mulheres sofram sem poder comprar um litro de leite, uma dúzia de ovos”, denuncia Vivan Mendes, presidenta estadual da Unidade Popular no ato do 8 de Março em São Paulo (SP).
Mais: somente em 2024, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) registrou 2,5 mil ações judiciais de violência contra a mulher por dia. O número de mulheres feridas por armas de fogo cresceu 42% nos últimos três anos; três em cada dez casos relatam já ter sofrido agressão prévia. As mulheres sentem cotidianamente a falta de políticas de combate a violência: em nosso país, há apenas 60 delegacias de atendimento à mulher (Deam) que funcionam 24 horas. São necessárias mais políticas de acolhimento e combate à violência contra as mulheres. Nesse sentido, o Movimento Olga Benario organiza as ocupações de mulheres, que são espaços para acolher mulheres em situação de violência, e sobretudo fazer a denúncia de que hoje o Estado brasileiro não têm feito o que pode pela vida das mulheres.
“No Paraná, fizemos o grandioso feito de colocar mais de 100 pessoas na rua com nosso movimento neste 8 de Março. Além das denúncias contra a carestia, pela prisão dos fascistas, fizemos a denúncia sobre o Paraná ter sido o estado que subiu de 3° para 2° lugar de estado que tem mais feminicídios tentados e consumados no país. Isso ao mesmo tempo em que a polícia e a Prefeitura faziam o despejo da nossa ocupação, a Casa Rose Nunes, e não temos resposta. A desocupação foi violenta, e não tem nenhuma perspectiva de novo espaço de acolhimento ou combate a violência”, denuncia Tayná Miessa, militante do Movimento Olga Benario em Curitiba.
“Na nossa intervenção do 8 de Março, em Mossoró (RN), senti que o Movimento Olga será a ponta de ponta de lança a organização de um movimento de mulheres realmente combativo, que faça as lutas. Hoje, no interior do estado nosso movimento é vanguarda, e mesmo outros movimentos e organizações sendo mais antigos na cidade, fomos muito bem recebidas com nossa intervenção pelas trabalhadoras,” conta Rebeca Canário, militante do Movimento na cidade.
Em Cajamar (SP), Vitória Regina de Sousa, de apenas 17 anos, desaparecida desde o dia 26 de fevereiro enquanto voltava do trabalho, foi encontrada morta no dia 5 de março. O caso de Vitória, infelizmente, ainda expressa uma realidade das mulheres brasileiras: enquanto voltava para casa, ela trocava mensagens de texto com sua amiga, expressando o medo que sentia ao perceber que estava sendo seguida por um grupo de homens. “Mesmo com o aumento da violência contra as mulheres no estado e na cidade de São Paulo, o governo de Tarcísio de Freitas congelou 96% do orçamento destinado às políticas para mulheres. Isso quer dizer que os serviços destinados ao acolhimento de mulheres estão sendo sucateados”, denuncia Nicole Ramos, do Movimento de Mulheres Olga Benario no ato do 8 de Março em SP.
Por tudo isso, se as mulheres desejam ser verdadeiramente livres, não podem se deixar enganar: é impossível viver livre da violência, da fome, das guerras, da ameaça do fascismo no sistema capitalista. A alternativa para as trabalhadoras é a destruição desse sistema pelas suas próprias mãos, e construir em seu lugar o socialismo, onde as mulheres terão uma igualdade verdadeira aos homens e serão, de fato, libertas.
No dia 8 de março é preciso organizar atos de rua cada vez maiores e mais massivos, denunciar a violência contra as mulheres e a real causa dessa opressão. É necessário convencer mais trabalhadoras que só a luta coletiva pelo socialismo é capaz de transformar a realidade.