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sábado, 15 de março de 2025

Forças Armadas devem ser responsabilizadas pelo golpe de Bolsonaro

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Generais do Alto Comando fizeram de tudo para que o ex-capitão chegasse à Presidência da República, deram sustentação ao seu governo e participaram da conspiração para dar um golpe de Estado e impor nova ditadura militar no Brasil. Não podem ficar impunes.

Heron Barroso | Redação


EDITORIAL – Passados mais de dois anos desde o 08 de janeiro de 2023, Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas foram, enfim, denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) por conspirarem para dar um golpe de Estado, anular o resultado das eleições de 2022 e impor uma nova ditadura militar fascista no Brasil.

A maioria dos acusados são militares de alta patente, entre eles, os generais Braga Netto, Augusto Heleno, Estevam Theophilo, Mário Fernandes e Nilton Rodrigues, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos. Com tantos oficiais graduados assim, fica difícil acreditar que as Forças Armadas não soubessem desde o início da trama golpista. Mas, apesar disso – e contra todas as evidências – o procurador-geral da República, Paulo Gonet, responsabilizou apenas individualmente os militares envolvidos, livrando a barra da instituição.

Não há dúvidas de que processar e punir o ex-capitão e seus cúmplices é, por si só, um duro golpe contra o fascismo. Mas isso não pode servir de justificativa para que as Forças Armadas passem, mais uma vez, impunes e que nada seja feito para impedir que continuem conspirando contra as liberdades democráticas conquistadas com tanta luta pelo povo brasileiro. Esse erro já foi cometido no passado, e agora estamos pagando seu preço.

O golpe era militar

Não é possível separar Bolsonaro das Forças Armadas. Durante os quatro anos em que foi presidente, os generais deram sustentação ao seu governo. Os militares ocuparam mais de sete mil cargos, comandaram ministérios e estatais, apoiaram o negacionismo na pandemia, foram omissos com a destruição da Amazônia e não passaram um dia sequer sem fazer ameaças de que não iriam reconhecer o resultado das eleições caso seu candidato não fosse o vitorioso.

Quando, finalmente, o ex-capitão foi derrotado nas eleições de 2022, a cúpula das Forças Armadas começou a organizar o plano para dar um golpe de Estado, como provaram as investigações da Polícia Federal. Ao todo, foram realizadas 14 reuniões entre o então presidente e os comandantes das Forças Armadas para discutir o golpe. Em quatro desses encontros, estiveram os comandantes das três forças juntos (Exército, Marinha e Aeronáutica). O general Freire Gomes, então comandante do Exército, esteve reunido com Bolsonaro 12 vezes.

Como parte do plano para desacreditar o resultado da votação, em novembro de 2022, após o segundo turno das eleições, o Ministério da Defesa entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um relatório sobre as urnas eletrônicas, feito pelas Forças Armadas, que não encontrou nenhum sinal de fraude no processo eleitoral. Na época, o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, divulgou nota onde afirmava que, embora o relatório não tivesse achado nenhuma irregularidade no sistema de votação, ele não havia eliminado a possibilidade de que fraudes pudessem ser cometidas.

Essa armação, segundo depoimento à Justiça dado pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonado, o tenente-coronel Mauro Cid, “se deu exclusivamente pela determinação e insistência” do então presidente Jair Bolsonaro. Segundo a PGR, o objetivo do ex-capitão era “evitar que a mensagem final sobre o processo eleitoral fosse positiva”.

No dia seguinte à divulgação da nota sobre o relatório de fiscalização das urnas, bandos fascistas pedindo intervenção militar começaram a se reunir em frente aos quartéis, com a permissão e apoio das Forças Armadas. Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica chegaram mesmo a assinar uma nota pública chamando esses acampamentos de “manifestações populares”. Mais uma vez, segundo a PGR, a nota foi escrita por ordem de Bolsonaro. O então presidente sabia que “a mensagem seria recebida por seus apoiadores como sinal de concordância das Forças Armadas aos acampamentos espalhados pelo país”.

Diante de tantas evidências, como ainda duvidar do envolvimento das Forças Armadas no planejamento e execução do golpe, que previa, entre outras coisas, matar o presidente eleito e seu vice, sequestrar um ministro do STF e anular o resultado das eleições?

Essas mesmas Forças Armadas realizaram ao longo da História vários golpes militares e foram responsáveis pela tortura e assassinato de centenas de revolucionários, verdadeiros patriotas e democratas, como Manoel Lisboa, Manoel Aleixo, Rubens Paiva, Sônia Angel e Anatália Alves, entre tantos outros.

Foi apenas depois que esse novo golpe deu errado e que perceberam que poderiam acabar na cadeia, que seus comandantes admitiram conhecimento do plano terrorista.

O ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, jura que tentou convencer Bolsonaro a não ir adiante e que chegou, inclusive, a avisar ao então presidente que, se ele atentasse contra o regime democrático, seria obrigado a prendê-lo. Ora essa! E por que não prendeu? Quem ele quer enganar com essa conversa pra boi dormir?

Os fascistas e seus defensores dizem agora que são vítimas de perseguição política e que não há mais liberdade no Brasil. Vão em caravana aos Estados Unidos beijar a mão de seu amo Trump e pedir que interceda por eles. Temem, como o diabo foge da cruz, passar o resto dos seus dias na cadeia.

Bem, senhores fascistas, como estamos em época de Carnaval, deixemos que a grande Beth Carvalho lhes responda: “Chora, não vou ligar / Não vou ligar / Chegou a hora, vais me pagar / Pode chorar, pode chorar / Mas chora!”.

Além de golpista, ladrão

Voltando às Forças Armadas brasileiras… Sua dignidade é tão pequena que elas se prestaram ao papel de servir de contrabandista do ex-capitão no esquema criminoso de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro montado pelo fascista Jair Bolsonaro.

Segundo a Operação “Lucas 12:2” (“Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido”), Bolsonaro desviou joias e outros bens de valor recebidos em viagens oficiais e os vendeu ilegalmente fora do país.

O principal operador do esquema era o ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid. Em depoimento, ele confirmou que pelo menos R$ 1 milhão foi arrecadado e entregue em mãos ao ex-presidente.

A certeza da impunidade era tão grande que os envolvidos falavam abertamente da falcatrua em trocas de mensagens. Numa delas, o também coronel Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, explica para seu colega que o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica havia informado ser necessário aviso prévio para a venda de bens destinados ao acervo privado do ex-presidente. Cid, então, lamenta: “Só dá pena pq estamos falando de 120 mil dólares. Hahaaahaahah” (sic).

Agora que a casa caiu, Mauro Cid se faz de arrependido. “Tem gente que não perdeu nada. Eu não. Perdi tudo que eu tinha. A família está vendendo os imóveis. Eu não tenho minha carreira mais”, disse durante depoimento.

Em um dos áudios interceptados pela Polícia Federal, Cid reclamava que “todos se deram bem, ficaram milionários”, referindo-se a Bolsonaro e aos militares envolvidos nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado. “Não vou dizer que me senti abandonado de alguma forma. Mas, obviamente, eu tava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix, aqueles negócios todos. Falo também dos generais porque todo mundo que tá envolvido tá na reserva. Todo mundo envolvido na investigação está na casa dos seus 60 anos, seus 70 anos, atingiu todos os seus objetivos de vida e, no meu caso, não. Eu não. Eu perdi tudo”.

Cadeia para Bolsonaro!

Não podemos ter pena de fascista! Eles enchem a boca para falar em pátria e família, mas a pátria deles é a corrupção, são as chacinas nas favelas, o orçamento secreto, é atacar as eleições, matar os povos indígenas, roubar joias e decretar sigilo de 100 anos sobre tudo isso.

Enquanto o Brasil foi governado por essa corja, milhões de famílias amargaram a falta de moradia digna, o povo sofreu sem remédios e assistência médica e 33 milhões de brasileiros ficaram sem ter o que comer todos os dias.

Precisamos ir às ruas exigir a prisão imediata de Bolsonaro e de seus generais fascistas e que medidas firmes sejam tomadas para impedir que os golpistas continuem atuando livremente, começando por colocar na reserva o Alto Comando das Forças Armadas, desmilitarizar as polícias, confiscar os bens dos empresários que financiaram o golpe e fechar seus canais de mentiras na internet.

Somente com coragem e sem conciliação, a luta contra o fascismo será decidida a favor da classe trabalhadora. Nesse dia, cantaremos novamente “Eu vou festejar, vou festejar! / O teu sofrer, o teu penar”.


Matéria publicada no jornal A Verdade impresso edição nº308

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