A suspensão dos serviços ambulatoriais e eletivos nas maternidades públicas de Goiânia expõe a crise provocada pelo atraso de repasses financeiros da prefeitura.
Isabelle dos Santos Ferreira | Goiânia – GO
SAÚDE – No dia 27 de agosto de 2024, a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) comunicou ao secretário de saúde, Wilson Modesto Pollara, a suspensão das unidades de maternidades públicas de Goiânia pelas quais é responsável. Devido ao não repasse financeiro por parte da prefeitura, os serviços ambulatoriais e eletivos se tornaram insustentáveis, limitando as atividades a serviços essenciais e urgentes.
Atualmente, o cenário na maternidade Dona Íris assemelha-se ao do ano passado, pois o 13º salário dos funcionários ainda não foi pago, as visitas estão suspensas há mais de 20 dias e a unidade atende apenas casos urgentes. Pacientes e acompanhantes também relatam falta de insumos e materiais, como roupas de cama, inadequados para uso.
Descaso com as unidades de saúde
Com a falta de renda para manter a o pleno funcionamento das unidades, junta-se o não pagamento dos salários dos funcionários de saúde pública e terceirizados, impossibilitando o exercício de seus ofícios. Tendo seus direitos desrespeitados, o trabalho é redobrado com turnos mais longos, aumentando o estresse e cansaço típicos dessas profissões. Para piorar, a insegurança financeira assombra os profissionais sobrecarregados pela insalubridade das maternidades.
Desde 2024, os casos de atendimentos mal realizados vêm crescendo de forma incontrolável, mostrando que o desleixo financeiro do Estado de Goiás com os centros de saúde pública é pago com o suor e sofrimento dos funcionários e da população em vulnerabilidade social.
A maioria das pessoas gestantes dependem exclusivamente dessas maternidades durante toda a gestação. Com a falta de estrutura para englobar o fluxo de consultas, exames, partos, cirurgias, etc., a limitação a casos urgentes e a suspensão de visitas, como no caso da Maternidade Dona Íris, comprometem a vida de inúmeras gestantes, em especial crianças e adolescentes, que acabam por só conseguir atendimento após chegarem a extrema urgência.
As suspensões e a inacessibilidade não atingem apenas a situação das gestantes, mas também de pessoas com deficiências ou doenças que atingem o útero, vulva, ovários e demais regiões que exigem atendimento ginecológico especializado. A superlotação devido a incapacidade de adesão dos inúmeros pacientes gera filas de espera absurdamente longas, novamente pondo em risco inúmeras vidas.
Pelo direito a maternidades públicas
O atual cenário das maternidades públicas no Estado de Goiás fere os direitos e ameaça a vida das pessoas com útero que dependem de tais serviços. Em contrapartida, ironicamente, a lei nº 22.537/2024 (conhecida como “Campanha de Conscientização Antiaborto”), de autoria do ex-deputado corrupto Fred Rodrigues (Gustavo Rodrigues de Cunha), foi sancionada pelo fascista Ronaldo Caiado (União Brasil) no dia 11 de janeiro de 2024. Entre outras medidas misóginas e inconstitucionais, a sua principal e mais absurda é obrigar a pessoa gestante a escutar os batimentos cardíacos do feto ao realizar o aborto.
Mesmo com a degradação das maternidades e demais unidades de saúde pública, Fred comemora a vitória reacionária em suas redes sociais, atribuindo como um avanço a dita segurança de “crianças no ventre”. Ou seja, como se não bastasse o atendimento precário, a falta de insumos e filas de espera superlotadas, aqueles que carregam uma gestação fruto de estupro ou com risco, as pessoas gestantes ainda estão passíveis de violência obstétrica legalizada. Em suma, todo esse cenário não passa de uma consequência do poder centrado em uma oligarquia latifundiária reacionária e misógina que reina na região Centro-Oeste.
Em fevereiro, o Movimento de Mulheres Olga Benário iniciou a Campanha Nacional pelo Direito à Creche. Atualmente, mais de 9 mil crianças goianas se encontram na fila de espera por vagas, visto que inúmeras mães abdicam do trabalho para cuidarem de seus filhos, o que agrava o nível de insegurança social das casas brasileiras. Por isso, o Movimento e a Unidade Popular lutam no combate à violência e pela plena eficácia dos direitos básicos das mulheres e pessoas com útero.
Matéria publicada na edição impressa nº309 do jornal A Verdade