Há cem anos nascia Patrice Lumumba, que liderou a conquista da independência do Congo. Conheça a história de sua luta revolucionária e pan-africanista contra o colonialismo europeu e seus crimes
José Levino
No ano de 1480, quando a expedição expansionista portuguesa, comandada por Diogo Cão, chegou ao estuário do rio Congo, havia na África Central o Reino do Congo, que, segundo a opinião dos colonizadores, era bem-organizado e eficiente. Fora resultado, assim como os reinos do Mali, Daomé e outros, da união de várias tribos, depois de séculos de lutas e diálogos. Tanto esforço para os imperialistas europeus jogarem tudo por terra, fracionando, provocando guerras fratricidas, escravizando, sequestrando, mutilando, praticando genocídio em nome de “Deus e da Civilização”.
Fora isso, apesar de o Congo ser rico em minérios, florestas e animais portadores de marfim (os elefantes), os outros países da Europa não haviam se interessado muito em promover outras ações na região, cujo acesso não era fácil, dado o grande número de corredeiras existentes.
Mas, em 1870, o tráfico de escravos estava em declínio, graças ao avanço do capitalismo na Europa, o qual precisava instalar fábricas e ampliar o mercado nos países dominados. Rapidamente, os capitalistas financiam expedições para encontrar áreas de acesso mais fácil, encontrando a Leste do continente africano. O rei da Bélgica, Leopoldo II, parte na frente na estratégia de ocupação, mas outros países também investem na ocupação.
Para evitar uma guerra entre países europeus, quebrando a unidade do capital imperialista, a Alemanha convoca uma conferência sobre a partilha da África, que durou de 15 de novembro de 1884 a 26 de fevereiro de 1885. No final, a conferência firmou alguns acordos: respeito ao território ocupado por cada país da Europa, assegurando a liberdade de comércio e trânsito de mercadorias (incluídas as pessoas escravizadas e traficadas); solução de conflitos por meio da diplomacia.
A partilha foi sendo formalizada por meio de acordos bilaterais. O Congo foi dividido em dois: Congo Brazaville (hoje República do Congo), sob o domínio da França, e Congo Kinshasa (hoje República Democrática do Congo), sob domínio da Bélgica. De fato, até 1908, o Kinshasa foi uma propriedade particular de Leopoldo II. Este implantou um regime de terror com trabalho forçado para extração da borracha consumida pela indústria europeia; plantações de produtos de interesse dos europeus (café, cacau, tabaco, baunilha); extração de minérios; degradação da natureza com destruição indiscriminada da fauna e da flora; aniquilação com a morte ou mutilação dos revoltosos e “desobedientes”; ataques diretos e promoção de provocações em vista da reimplantação do ódio entre tribos de origens diversas; um genocídio a céu aberto, que levou à completa dizimação de povos. Em 1908, o Congo deixou de ser propriedade privada do rei e passou a pertencer ao país (Bélgica). Sabem o que mudou para o povo congolês? Acertou quem pensou em absolutamente nada.
Luta pela independência
No ano de 1480, quando a expedição expansionista portuguesa, comandada por Diogo Cão, chegou ao estuário do rio Congo, havia na África Central o Reino do Congo, que, segundo a opinião dos colonizadores, era bem-organizado e eficiente. Fora resultado, assim como os reinos do Mali, Daomé e outros, da união de várias tribos, depois de séculos de lutas e diálogos. Tanto esforço para os imperialistas europeus jogarem tudo por terra, fracionando, provocando guerras fratricidas, escravizando, sequestrando, mutilando, praticando genocídio em nome de “Deus e da Civilização”.
Fora isso, apesar de o Congo ser rico em minérios, florestas e animais portadores de marfim (os elefantes), os outros países da Europa não haviam se interessado muito em promover outras ações na região, cujo acesso não era fácil, dado o grande número de corredeiras existentes.
Mas, em 1870, o tráfico de escravos estava em declínio, graças ao avanço do capitalismo na Europa, o qual precisava instalar fábricas e ampliar o mercado nos países dominados. Rapidamente, os capitalistas financiam expedições para encontrar áreas de acesso mais fácil, encontrando a Leste do continente africano. O rei da Bélgica, Leopoldo II, parte na frente na estratégia de ocupação, mas outros países também investem na ocupação.
Para evitar uma guerra entre países europeus, quebrando a unidade do capital imperialista, a Alemanha convoca uma conferência sobre a partilha da África, que durou de 15 de novembro de 1884 a 26 de fevereiro de 1885. No final, a conferência firmou alguns acordos: respeito ao território ocupado por cada país da Europa, assegurando a liberdade de comércio e trânsito de mercadorias (incluídas as pessoas escravizadas e traficadas); solução de conflitos por meio da diplomacia.
A partilha foi sendo formalizada por meio de acordos bilaterais. O Congo foi dividido em dois: Congo Brazaville (hoje República do Congo), sob o domínio da França, e Congo Kinshasa (hoje República Democrática do Congo), sob domínio da Bélgica. De fato, até 1908, o Kinshasa foi uma propriedade particular de Leopoldo II. Este implantou um regime de terror com trabalho forçado para extração da borracha consumida pela indústria europeia; plantações de produtos de interesse dos europeus (café, cacau, tabaco, baunilha); extração de minérios; degradação da natureza com destruição indiscriminada da fauna e da flora; aniquilação com a morte ou mutilação dos revoltosos e “desobedientes”; ataques diretos e promoção de provocações em vista da reimplantação do ódio entre tribos de origens diversas; um genocídio a céu aberto, que levou à completa dizimação de povos. Em 1908, o Congo deixou de ser propriedade privada do rei e passou a pertencer ao país (Bélgica). Sabem o que mudou para o povo congolês? Acertou quem pensou em absolutamente nada.
Golpe de Estado
O apelo à unidade nacional não se concretizou, visto que o empresariado separatista (federalista), com apoio externo, principalmente dos Estados Unidos, por intermédio da Central de Inteligência (CIA), passou a conspirar abertamente, promovendo ataques contra o governo. A Bélgica interveio diretamente com tropas enviadas para apoiar o golpe perpetrado por Moisés Tshombe, que declarou a independência da Província do Catanga, onde se concentravam os minérios mais cobiçados pelas empresas capitalistas. Tropas enviadas pela própria ONU, a pedido de Lumumba, para assegurar a paz, agiram em apoio aos separatistas.
Diante do cerco, Lumumba buscou apoio soviético. O governo soviético se comprometeu com o envio de armas e suprimentos, mas era tarde. Foi deposto por um golpe de Estado comandado pelo coronel Mobutu, que governou por 32 anos, com um regime ditatorial completamente subserviente aos interesses das potências capitalistas.
Deposto, Lumumba foi preso em setembro de 1960. Conseguiu fugir da prisão, mas foi capturado, sequestrado em dezembro e executado secretamente, sem julgamento, em 17 de janeiro de 1961 por um grupo comandado por Moisés Tshombe, no qual policiais belgas estavam presentes. Um desses policiais confessou a participação e disse que o corpo de Lumumba foi queimado em ácido. Guardou um dente de lembrança, o qual foi posteriormente entregue à justiça belga. O governo da Bélgica o devolveu para a família em 2022, que providenciou o funeral em cerimônia pública com o que sobrou dos restos mortais do líder congolês. Disse sua filha, Juliana Lumumba: “é uma forma de fazer justiça a milhões de pessoas que foram brutalmente mortas antes da independência, até hoje”.
Os conflitos na RDC nos dias atuais estão relatados no jornal A Verdade, nº 308, página 9, na matéria “Saque imperialista leva guerra civil ao Congo”. A situação se agrava a cada dia. Entretanto, mantém-se vivo o espírito de luta e resistência de Patrice Lumumba e sua certeza manifestada em carta à esposa, enviada da prisão, na qual declarou: “…O dia virá quando a história falar. Mas não será a história que será ensinada em Bruxelas, Paris, Washington ou nas Nações Unidas. Será a história que será ensinada nos países que terão se libertado dos colonialistas e de seus fantoches. A África irá escrever sua própria história e, tanto no Norte quanto no Sul, será uma história de glória e dignidade. Não chores por mim”.
Matéria publicada na edição impressa nº 310 do jornal A Verdade