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segunda-feira, 7 de abril de 2025

Valdete Guerra e a luta das mulheres pobres por moradia e pelo socialismo

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Valdete Guerra se orgulhava em ser comunista e defender a causa dos trabalhadores e trabalhadoras, e defendeu o Partido e o MLB até seu último dia de vida. “Com o MLB eu aprendi muitas coisas: uma delas é que é possível transformar essa realidade e viver em um mundo justo”

Alice Morais | Natal (RN)


No dia 8 de março de 1917, no frio da Rússia e perante as duras condições de fome e miséria, 90 mil operárias marcharam com suas crianças debaixo do braço em protesto contra o governo czarista. Esse dia foi determinante para a eclosão da gloriosa Revolução de Outubro, que libertou a classe trabalhadora da exploração do capitalismo, da autocracia da monarquia e transformou a Rússia em um país socialista. Por isso, em homenagem à essas mulheres, essa data é comemorada como dia Internacional da Mulher Trabalhadora. 53 anos depois, neste mesmo dia, nascia uma mulher que carregava este legado de luta não só em seu aniversário, não só em seu nome, mas no que praticava.

Valdete Pereira Guerra nasceu em 8 de março de 1970, na periferia da capital potiguar. Mulher negra, Valdete não teve a oportunidade de terminar a escola, e assim como milhões de mulheres em nosso país, conheceu de perto as dificuldades da classe trabalhadora: a de colocar alimento na mesa, o salário mínimo de fome e o trabalho dentro e fora de casa. Mas, a vida de Valdete mudou quando ela decidiu que não iria apenas aceitar essa realidade cruel, mas que iria lutar por uma nova perspectiva para si e sua família.

Como ela mesma disse, era “apenas” uma simples dona de casa quando conheceu o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), e ingressou no Movimento com o mesmo desejo que têm hoje milhões de brasileiros e brasileiras: ter sua moradia própria.  “Eu era uma simples dona de casa e mãe de seis filhos. Morava em um bairro chamado Felipe Camarão, na zona oeste de Natal. Um dia, fiquei sabendo que havia uma ocupação num terreno no bairro do planalto, próximo de onde eu morava. Então, como vivia no fundo do quintal da casa da minha mãe, não pensei duas vezes. Arrumei o pouco que tinha e fui saber como conseguir um espaço pra fazer um barraco na ocupação”.

Ocupação Leningrado

Em 9 de abril de 2004, O MLB, ainda jovem no Rio Grande do Norte, organizou a maior ocupação do Movimento até então no Norte-Nordeste. A Ocupação homenageava Vladmir Ilitch Ulianov, o Lênin, líder da Revolução de Outubro, e também a cidade que resistiu contra a invasão dos nazistas na União Soviética. Leningrado organizou mais de mil famílias na luta por moradia digna no bairro dos Guarapes, em Natal. Em 2010, tornou-se um conjunto habitacional, e atualmente só não é reconhecido enquanto bairro por decisão política da Prefeitura em não incluir Leningrado no plano diretor.

Valdete integrou a coordenação da Ocupação Leningrado, e se tornou uma das principais lideranças do MLB no Rio Grande do Norte, mostrando uma grande vontade de luta e disposição para transformar a realidade. Mas ela logo percebeu que não bastava apenas lutar pela moradia, que na verdade era necessária uma mudança no sistema de produção para que a vida do povo se transformasse de verdade. “Temos que lutar para conseguir viver com dignidade. Meu marido é soldador, veja bem: nós não temos dinheiro para comprar o portão que ele ajuda a fabricar”, disse.

As palavras de Valdete mostram a realidade em que vivem hoje os trabalhadores: a classe trabalhadora vende sua força de trabalho pois não tem acesso aos meios de produção – as fábricas, as terras, as máquinas, etc. –, os quais estão sobre a propriedade de uma minúscula classe, a burguesia. A burguesia então se apropria dos produtos fabricados pelos operários, e, como o salário pago aos operários é apenas o mínimo necessário para sobreviver, os capitalistas lucram com o trabalho alheio e os trabalhadores não têm acesso ao que produzem. Essa é uma das leis que regem o capitalismo: para que existam ricos, eles exploram o trabalho dos pobres.

Entendendo essa realidade, Valdete se organiza então no Partido Comunista Revolucionário (PCR), e passa a organizar o povo não apenas para lutar pela moradia, mas também lutar pelo fim desse sistema, que é a causa da exploração e falta de direitos da classe trabalhadora. Profunda defensora dos direitos das mulheres, Valdete se orgulhava em ser comunista e defender a causa dos trabalhadores e trabalhadoras, e defendeu o Partido e o MLB até seu último dia de vida. “Com o MLB eu aprendi muitas coisas: uma delas é que é possível transformar essa realidade e viver em um mundo justo”.

Entrada para a imortalidade

Enquanto ainda escrevia sua história em Leningrado, Valdete Guerra descobriu um câncer. Na luta contra o câncer, ela se deparou com o que muitas mulheres hoje também enfrentam: um diagnóstico tardio e a falta de acesso a um tratamento de qualidade. Valdete foi mais uma condenada do pior crime na sociedade capitalista: nascer pobre. Ela nos deixou precocemente, entrou para a imortalidade aos 41 anos, em 2011. Desejou ser enterrada com a camisa do MLB, e recebeu uma homenagem digna de uma revolucionária: sob o caixão estava a bandeira do seu Partido e foi tocada A Internacional, canção da luta dos trabalhadores e explorados de todo o mundo.

“A companheira Valdete sempre se destacou pela coragem e combatividade com a qual enfrentava a luta todos os dias. Uma mulher de fibra, firme com o Partido e com a defesa da Revolução Socialista. Nunca foi de meias palavras e sempre muito verdadeira com o que pensava e sentia. Foi com essa coragem e firmeza que nos comunicou que já tinha dito à família que queria ser sepultada vestindo a camisa do MLB, que fosse entoada “A Internacional” e com a bandeira de seu Partido, o PCR, sobre seu caixão. E assim o fizemos. Tinha centenas de pessoas em seu enterro, o que expressava a importância de Valdete para o povo das Ocupações do MLB. Antes de cantarmos o Hino da Classe Operária alguns camaradas fizeram discursos em sua homenagem e reafirmando a continuidade de sua luta. Foi uma honra e um aprendizado ter convivido com a camarada”, relata Alex Feitosa, militante do MLB no Rio Grande do Norte.

Hoje, Valdete Guerra é homenageada onde sua luta começou: em Natal, no bairro do planalto, próximo à divisa com o Guarapes, está a Ocupação Valdete Guerra, que luta há 4 anos com mais de 70 famílias. A luta de Valdete segue presente em cada mulher que veste a camisa do MLB para lutar por seus direitos, por uma sociedade mais justa e pelo socialismo.

“Aprendi com a vida que a luta não pode parar, e é isso que levo comigo todos os dias”

Valdete Guerra, presente!

Matéria publicada na edição impressa nº 309 do jornal A Verdade

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