Classe trabalhadora organiza atos e paralisações no dia 1° de maio. Redução da jornada de trabalho e fim da escala 6×1 estão no centro das reivindicações
Redação
EDITORIAL – A classe trabalhadora brasileira é uma das maiores do mundo, somando, aproximadamente, 107 milhões de pessoas. Destas, 7 milhões são, segundo os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), consideradas desocupadas, ou seja, totalmente desempregadas.
Dos cerca de 100 milhões de trabalhadores que, de alguma forma, exercem atividade remunerada, 40 milhões estão na informalidade, sobrevivendo de toda variedade de bicos ou como camelôs, catadores de material reciclável, carregadores, etc. Somam 6 milhões os trabalhadores domésticos (92%, mulheres); quase 13 milhões são funcionários públicos; e mais de 39 milhões possuem carteira assinada. Do total de trabalhadores, 60% possuem renda de até um salário mínimo (R$ 1.518,00).
Esse é o retrato do Brasil mostrado pela última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo IBGE no final de janeiro.
Mas façamos um exercício de comparação: 47 milhões de trabalhadores e trabalhadoras na informalidade ou desempregados é maior que toda a população da Argentina (45 milhões), da Ucrânia (44 milhões) ou do Canadá (37 milhões), países que figuram entre os 40 mais populosos do mundo. Ou seja, o Brasil possui uma imensa nação de proletários sem direitos, com trabalhos extremamente precarizados e cumprindo jornadas desumanas.
Mesmo aqueles trabalhadores que estão com carteira assinada – como é o caso dos trabalhadores da limpeza urbana (veja matéria abaixo e página 2) –, muitos estão afundados em dívidas no cartão de crédito (para alegria dos banqueiros) e vivendo miseravelmente. Até a Organização Internacional do Trabalho (OIT) está aplicando um novo conceito, “trabalhadores pobres”, referindo-se às pessoas que, mesmo exercendo empregos formais, estão vivendo abaixo da linha da pobreza.
Também entre os servidores públicos (como A Verdade mostra nesta edição nas páginas 6 e 7), muitos estão em estado de mobilização ou de greve para enfrentar a carestia que corrói seus salários, ou ainda se organizando junto ao Movimento Luta de Classes (MLC) para colocar seus sindicatos no rumo da luta.
Fim da escala 6×1
Só neste ano de 2025, ocorreram dois Atos Nacionais pelo Fim da Escala 6×1, convocados pelo MLC e pela Unidade Popular (UP). O primeiro, no dia 19 de março (ver A Verdade nº 310), e o mais recente no dia 23 de abril. Os atos contaram com forte adesão de movimentos sociais e também dos funcionários de shoppings nos 60 municípios onde ocorreram.
No Estado de São Paulo, 14 shoppings foram ocupados com os atos. Na região metropolitana da capital, as três ocupações realizadas somaram cerca de mil pessoas. “A escala 6×1 é muito cansativa. Eu também trabalho em shopping e a gente só trabalha, é muita exploração. Eu acho que essa manifestação aqui é o começo de tudo. A gente que faz girar a economia do país. Se a gente não se juntar, nada muda”, denunciou Camila, que estava no Shopping Bandeiras, em Campinas (SP). No mesmo tom, Mariana, ouvida pela reportagem no Shopping Metrô Tatuapé, afirmou: “Trabalhei cinco anos em shopping, é uma escravidão. A gente tem que fazer de tudo pra acabar com essa escala maldita o mais rápido possível”.
No Nordeste, houve atos em todas as capitais. “Foi muito importante ter feito esse ato contra a escala 6×1 para denunciar a exploração dos trabalhadores, especialmente no setor de serviços. Conseguimos fazer essa denúncia, apesar da truculência das empresas e dos donos dos shoppings, que recai tanto contra os trabalhadores quanto contra essa luta”, avaliou Cassiano Bezerra, diretor da UNE que participou da manifestação em Recife, no Shopping Boa Vista. Em Porto Alegre (RS), uma centena de pessoas ocupou um shopping. Em Santa Catarina e no Paraná também ocorreram manifestações.
Em Brasília (DF), os manifestantes foram abordados com violência pelos seguranças do shopping Conjunto Nacional, que tentaram impedir o ato. No entanto, o apoio de trabalhadores e clientes do espaço fez com que o ato seguisse.
O roteiro se repetiu em outras capitais do país, além de cidades do interior. É o caso do Estado do Rio de Janeiro, onde pelo menos três cidades tiveram shoppings ocupados. Atos ocorreram no Shopping Nova América, na capital, no Caxias Shopping e em um shopping de Cabo Frio. “É bem complicado, ainda mais pra quem tem filho e pra quem estuda. Um dia só não dá pra fazer nada e ainda tem a questão dos lugares que não pagam feriado. Os horários também são muito cansativos, eu saio às 23h30”, afirmou Ingrid, trabalhadora do Caxias Shopping.
Durante os atos, muitos trabalhadores dos shoppings levaram espontaneamente ao jornal A Verdade denúncias de folgas cortadas por seus chefes, o surgimento de problemas de saúde mental e física, horas não pagas, e muitos outros problemas. Há muitos casos em que são obrigados a trabalhar 15 ou 20 dias sem descanso, contando com apenas uma ou duas folgas por mês. Nesses locais de trabalho, a situação se agrava durante feriados prolongados e datas comemorativas, como aconteceu recentemente na Páscoa.
Além da falta de folgas, os trabalhadores da escala 6×1 são submetidos a uma realidade cruel no transporte público. Muitos gastam duas ou até mais horas por dia durante o deslocamento de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Esse cenário, agravado pela privatização dos transportes públicos e os sucessivos aumentos de passagem nos ônibus e trens, torna ainda mais difícil a vida desses trabalhadores.
Por toda essa situação, o proletariado no Brasil e no mundo se mobiliza para enfrentar as consequências da crise do sistema capitalista, que precisa explorar mais e mais para alimentar a sanha de lucros da burguesia. Em torno deste 1º de Maio, Dia Internacional da Classe Trabalhadora, milhões saíram e continuarão a sair às ruas para erguer suas bandeiras históricas: a redução da jornada de trabalho e o socialismo.
Matéria publicada na edição impressa n° 312 de A Verdade