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quarta-feira, 25 de junho de 2025

Documentário sobre a história de Jaboatão dos Guararapes (PE) resgata memória cultural da cidade

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João Montenegro
João Montenegro dirige o filme “Tesouros de Jaboatão”, que trás um debate sobre a história da cidade e resgata das origens de nosso país. Fotos: divulgação.

Lançado dia 18 de maio de 2025 no Cine-Teatro Samuel Campelo, o documentário “Tesouros de Jaboatão” resgata a história do município e levanta uma discussão sobre memória histórica e cultural em uma das cidades mais importantes de Pernambuco. O jornal A Verdade entrevistou o diretor do filme, João Montenegro, que fala sobre a importância da obra para a cultura local.

 

Clóvis Maia – Redação Pernambuco

 

Entrevista- Com direção de João Montenegro, pesquisador, produtor cultural e colaborador do Jornal A Verdade, e produção da Bem Viver Produções, o documentário “Tesouros de Jaboatão: revelando a história através das igrejas centenárias”, teve sua estreia no histórico Cine-Teatro Samuel Campelo, no centro de Jaboatão e inaugurado em 1947. O filme resgata a história de 4 igrejas do período colonial brasileiro em Jaboatão para discutir o passado político, religioso e cultural local, a escravidão no município, a resistência popular e a religião. A exibição foi gratuita e contou com a presença dos movimentos sociais e da população jaboatonense, com um debate após a exibição.

O Jornal A Verdade entrevistou o diretor do documentário, João Montenegro, sobre a importância dessa produção para a cultura local e para a produção cinematográfica em Pernambuco.

 

A Verdade- Jaboatão é hoje a terceira cidade mais rica de Pernambuco, no entanto, há poucos espaços culturais e fortalecimento dessas atividades no município, quais os motivos que inspiraram o filme? Há uma necessidade de se abrir mais espaço para a arte a cultura locais?

 

João Montenegro- Jaboatão é uma cidade que em muitos aspectos é esquecida. Em termos de sua história, e até mesmo o brilho é um pouco ofuscado em detrimento das narrativas que permeiam Recife, Olinda e nesse sentido fica parecendo que é uma cidade sem histórias, mas, na verdade é uma cidade de apagamentos como grande parte da história brasileira. E como grande parte da história brasileira é também uma cidade marcada por contradições. Contradições de classe, por contradições na sua própria formação. Nesse sentido, é uma cidade que foi formada durante o período da escravidão e carregou essas marcas na sua história, ao mesmo tempo surge ao redor de engenhos e esses engenhos continham quase todos igrejas. Então desde a origem da cidade, de seus primórdios, havia uma íntima relação entre o poder local, o poder escravocrata e a igreja enquanto instituição, ao mesmo tempo legitimadora e por outro lado apaziguadora das contradições colocadas na ordem do dia pela escravidão.  Jaboatão é uma cidade que cresce em torno da fé e do trabalho escravo. E aí, nesse sentido, esse documentário visa trazer a tona essa memória, mostrar a história daqueles que foram esquecidos, mas não de todo modo, mas sim apresentando essa perspectiva de uma cidade formada pelas contradições para contar um pouco da história da cidade. E contar a história de Jaboatão é contar um pouco da história do país.

Jornal A Verdade- Conta um pouco mais como se deu essa questão da formação da cidade, envolvendo a questão das igrejas.

João Montenegro- A Igreja Católica, nesse aspecto, teve um papel fundamental na formação da identidade brasileira. Então, quando a gente fala de Jaboatão, a gente fala um pouco de qualquer lugar do país, claro, com suas particularidades, mas é uma história que se assemelha muito A história que a gente pode encontrar de norte a sul do Brasil, então é um modo de contar, talvez, pra gente mesmo, a importância do nosso passado, fazer um resgate, mas um resgate crítico, que a gente possa refletir sobre como isso determina, por exemplo, a nossa história hoje. A cabeça pensa onde os pés pisam, e os países onde pisam tem muita história. Jaboatão é uma cidade de muita história Então esse documentário surge acima de tudo como um resgate.

 

Jornal A Verdade- Como foi trabalhar com esse material histórico?

 

João Montenegro- Essas igrejas têm relatos muito marcantes. Uma delas, por exemplo, a igreja Nossa Senhora dos Prazeres, surge a partir da Batalha dos Guararapes, batalha essa que foi fundamental para a criação da identidade nacional brasileira, a criação do próprio exército. Então a pátria nasce um pouco em Jaboatão, como descreve o slogan da própria cidade. Nesse sentido, essas igrejas passam pela história local e também se encravam na história nacional. Todas as quatro igrejas fundadas por senhores de engenho. Isso reflete também um aspecto de classe da igreja no Brasil. Reflete também um papel ideológico de conformação da identidade brasileira e de resignação diante das desigualdades. Ao mesmo tempo, a igreja é, como fala Marx, o coração de um mundo sem coração. Então, é uma expressão da contradição social, ao mesmo tempo que, às vezes, a legitima, por outro lado, remedia. E esse papel também da igreja de remediar, de acolher aos pobres, os menos favorecidos. Tudo isso expressa essa contradição da igreja que, em última instância, está presente na nossa identidade e na nossa trajetória política, social e na constituição desse país.

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