Desde a privatização de linhas do metrô de SP população enfrenta atrasos diários, ar-condicionado desligado, obras inacabadas e falhas frequentes.
Ana Clara e Sergio Henrique | São Paulo
BRASIL – Desde 2018, com a privatização da Linha 5 – Lilás, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o Governo de São Paulo intensificou a entrega do transporte público à iniciativa privada. Em 2021, as Linhas 8 – Diamante e 9 – Esmeralda também foram concedidas à empresa ViaMobilidade por um valor muito menor do que elas realmente valem.
A ViaMobilidade, do grupo CCR, também administra a futura Linha 17 – Ouro opera a Linha 4 – Amarela por meio da concessionária ViaQuatro. A empresa é um grande monopólio de infraestrutura, com concessões no Brasil e no mundo, incluindo rodovias e aeroportos. Com um patrimônio superior a R$ 7 bilhões, a CCR está ligada à empreiteira Camargo Corrêa, condenada por corrupção e crimes relacionados.
Desde a privatização, a população enfrenta atrasos diários, ar-condicionado desligado, obras inacabadas e falhas frequentes. A Linha 8, por exemplo, tem 14 vezes mais falhas do que todas as linhas operadas pela CPTM, e, até dezembro de 2024, as multas por irregularidades somavam mais de R$ 966 milhões. No entanto, o Governo do Estado abriu mão desse valor, permitindo que a empresa, em troca, realizasse obras sem prazo para conclusão. A realidade é que utilizar essas linhas são uma humilhação diária para a população.
Morte por descaso
Nas últimas semanas, o resultado das privatizações chegou a um ponto ainda mais absurdo, matando um trabalhador na Linha 5 – Lilás. Lourivaldo Nepomuceno, pai de três filhos e que faria 36 anos no dia 11 de maio, morreu tragicamente, no último dia 05, ao ficar preso entre a porta do trem e a plataforma. Este fato só aconteceu porque a concessionária, desde a privatização da linha, em 2018, não realizou os investimentos necessários para garantir a segurança dos passageiros e trabalhadores. Enquanto as estações administradas pelo Metrô São Paulo receberam a instalação de sensores de presença, a Linha 5, que deveria ter recebido a mesma atenção, foi negligenciada, sem qualquer atualização ou melhoria significativa.
No dia seguinte (06/05), manifestantes e movimentos sociais se reuniram na estação do Campo Limpo, onde a morte ocorreu, para denunciar as privatizações. “Quem é cidadão e morador aqui do Capão Redondo e do Campo Limpo não tem como não se indignar com uma situação como essa. O que aconteceu com esse rapaz, que tem família, que é um trabalhador, é um crime. Não pode passar impune”, cobrou Nilton, professor da rede municipal que passava pelo local.
A ViaMobilidade não investiu um centavo na manutenção da Linha 5 desde sua privatização, e a responsabilidade por essa morte é, portanto, da concessionária e de quem entregou a operação da linha a uma empresa privada que só visa ao lucro, e não à segurança e à integridade dos trabalhadores e passageiros.
Por isso, é hora de transformarmos a indignação em mobilização. Só a luta popular pode barrar esse projeto de destruição do transporte público. A reestatização das linhas de trem e metrô em São Paulo é uma necessidade urgente, não apenas uma bandeira.
Matéria publicada na edição 313 do Jornal A Verdade.