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quarta-feira, 30 de julho de 2025

Notas para a história do PCR – 1ª parte

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Pelo motivo dos 59 anos de fundação (1966) e 30 anos de reorganização (1995)   

“A luta interior dá vigor e vitalidade ao Partido: o Partido reforça-se depurando-se”  (Carta de Lassale a Marx, em 24 de junho de 1852)

Edival Nunes Cajá | Comitê Central do PCR


PARTIDO – O movimento comunista nasceu, desenvolveu-se e conquistou gigantescas vitórias enquanto seguiu praticando, sem reservas, o elevado princípio comunista da luta interna no interior do Partido e da III Internacional. Esta luta está documentada de forma magistral nas obras de Lênin “Que fazer?” e “A revolução proletária e o renegado Kautsky”.

A nossa luta, a luta dos comunistas revolucionários, para ser vitoriosa na sociedade terá de vencer também a luta política e ideológica nas nossas próprias fileiras contra as manifestações do reformismo, revisionismo, liquidacionismo e do oportunismo de direita e de esquerda. Para vencê-la, Lênin teve de combater e derrotar estas concepções então defendidas por Martov, no 2º Congresso do POSDR (1903), e por Kautsky, na II Internacional (1913), na luta pela construção do Partido e da revolução proletária, enquanto teve de fazer avançar a luta para derrubar o governo antipovo do Czar, a burguesia e os latifundiários da Rússia.

No Brasil, no início dos anos 1960, Manoel Lisboa, como marxista-leninista, ergueu a bandeira vermelha da revolução proletária socialista nas fileiras do PCB até 1962, quando se deu o esgotamento da luta interna contra o reformismo, o revisionismo, o liquidacionismo, e juntou-se a Amaro Luiz de Carvalho, Diógenes Arruda, Maurício Grabois, Carlos Danielli, Valmir Costa, Lincoln Oest e Selma Bandeira para a reorganização do Partido, uma vez que o CC não foi capaz de corrigir aquele desastroso rumo, de fazer autocrítica e de manter a unidade do Partido. Por isso, surgiu o PCdoB em 1962.

Recuperada a coesão interna, Manoel se dedicou ao desenvolvimento do trabalho de massas em Alagoas, como a forma mais consequente de combater a extrema-direita, de enfrentar o fascismo e as forças golpistas, fazendo avançar o Partido e a luta de massas, bem como sua combatividade, sua consciência política, preparando, assim, as condições subjetivas para possibilitar o triunfo da revolução popular no auge daquela situação pré-revolucionária.

Documentos históricos e depoimentos de quem viveu aqueles turbulentos dias podem comprovar o crescente ascenso do movimento de massas e do desgaste político das classes dominantes, em consequência de vitoriosos enfrentamentos de massas, desde as eleições presidenciais de 1960 até 1º de abril de 1964. O ápice do acirramento da luta de classes faz crescer as greves econômicas e políticas, os conflitos e mortes, principalmente no campo, como o covarde assassinato do líder das Ligas Camponesas da Paraíba, João Pedro Teixeira, em 02 abril de 1962, e a brutal execução de cinco camponeses cortadores de cana da usina Estreliana, no Município de Ribeirão (PE), em janeiro de 1963, quando reivindicavam seu 13º salário. Este caso foi encerrado sem ninguém ser preso, o que estimulou a greve geral de cerca de 250 mil trabalhadores da cana e das usinas, no final daquele ano.

Nas capitais e grandes cidades, eclodiam greves e passeatas dos operários sob a liderança do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e dos estudantes liderados pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileiras dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

O Governo dos EUA articula os representantes políticos dos grandes monopólios nacionais e estrangeiros, o Exército Brasileiro, a imprensa, a Igreja e o Congresso Nacional para derrubar o governo do presidente João Goulart por meio de um golpe militar. É dia 1º de abril de 1964. O golpe de Estado está consumado. O governo Jango é derrubado, sem a resistência do seu dispositivo militar. O governo retira-se do campo de batalha sem se entrincheirar, sem lutar.

Os militares que defendiam a legalidade, que queriam resistir, foram presos. A greve geral convocada pelo CGT para a defesa do governo, fracassou, com a prisão de seus líderes. A maioria dos dirigentes das Ligas Camponeses foi presa ou assassinada sob torturas. As lideranças estudantis foram presas, com intervenção do Exército nas universidades. Os parlamentares de esquerda foram cassados e professores, como Paulo Freire e Josué de Castro, exilados.

Somente em agosto de 1964, o CC do PCdoB lança o seu primeiro panfleto contra a ditadura propondo criar “uma frente ampla, com toda a população brasileira contra o imperialismo norte-americano”. Manoel Lisboa, indignado e decepcionado, chegou à dolorosa conclusão de que o PCdoB também não tinha capacidade para comandar a revolução brasileira. Com urgência, mas sem perder a serenidade, procura Amaro Luiz de Carvalho para uma avaliação dos últimos fatos, a omissão da direção do Partido, a amplidão da frente. Decidem procurar o CC, prevendo uma nova luta interna quanto ao rumo da luta pela derrubada da ditadura e da revolução no Brasil.

Naquela reunião, no Rio de Janeiro, foram apresentadas as seguintes propostas para sanear o imobilismo e o isolamento: fazer a autocrítica da ausência da direção na região Nordeste e do não enfrentamento ao golpe; deslocamento de um quadro do CC para a região; a retomada do jornal do CC, com uma cota regular para a região ou a autorização e as condições materiais para a fazer um jornal como órgão central da direção do Partido no Nordeste. No entanto, a situação ficou mais grave ainda quando o CC anunciou ter chegado a uma definição quanto à região prioritária para iniciar a resistência à ditadura militar e desenvolver a revolução popular. Sendo assim, a concentração dos quadros e dos recursos deveria ser para essa região, a região da selva amazônica.

A partir desta reunião, desenvolve-se uma dura luta interna, que se estende desde agosto de 1964 até maio de 1966, quando aquela crise amadurece e leva Manoel, Amaro Luiz de Carvalho, Valmir Costa, Selma Bandeira, entre outros camaradas, a convocar um congresso para fundar um novo Partido verdadeiramente comunista e revolucionário, capaz de organizar as massas proletárias para fazer a revolução brasileira, guiando-se pelos princípios do marxismo-leninismo.

“O conteúdo político do oportunismo e do social-chauvinismo é o mesmo: a colaboração de classe, a renúncia à ditadura do proletariado, a renúncia às ações revolucionárias, o reconhecimento, sem reservas, da legalidade burguesa, a falta de confiança no proletariado, a confiança na burguesia.” Lênin – Obras Completas, t. 27. janeiro de 1916).

O 1º Congresso do PCR aconteceu sob rígidas normas da clandestinidade, em Recife, uma cidade praticamente sitiada pelo Exército, em maio de 1966, com a presença de nove delegados, onde se discutiu e aprovou o nome do Partido, a Carta de 12 Pontos e a profissionalização de seus três principais dirigentes, com dois principais objetivos: organizar as massas proletárias nos seus sindicatos e num verdadeiro partido comunista revolucionário para derrubar a ditadura militar e para construir um Governo Revolucionário, que defendesse a soberania nacional, rompesse todos os contratos leoninos da ditadura e expulsasse o imperialismo, com o objetivo de pôr fim ao regime de exploração do homem pelo homem e praticar a solidariedade com os povos em luta contra o imperialismo.

Com audácia e ousadia nas lutas pela derrubada da ditadura, os comunistas revolucionários logo conquistaram o respeito e a admiração do proletariado consciente, dos camponeses e dos estudantes das grandes cidades do Nordeste, pela coragem política, coesão ideológica e disciplina férrea, forjadas na luta e na vontade única de fazer a revolução popular no Brasil.

Essa admiração era também decorrente da constante agitação política, com ações de propaganda revolucionária inovadoras, impactantes, ousadas. Como exemplo, é justo relatar a experiência realizada em 7 de setembro de 1970, o ano de maior euforia da ditadura, com a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo do México. Haja ufanismo com o objetivo de enebriar as massas e abafar o grito dos torturados!

A direção do Partido designou um destacamento armado para tomar de assalto o maior caminhão-furgão da Companhia de Industrialização de Leite de Pernambuco (Cilpe), que saía do portão da fábrica, no término da madrugada, carregado de sacos de leite pasteurizado para abastecer as grandes padarias do centro da cidade. O motorista, ao ser rendido, aceitou o redirecionamento da carga para ser distribuída nas duas maiores favelas de Recife, Coelhos e Coque, onde cada família recebeu dois sacos de leite e um panfleto do PCR explicando o motivo daquela ação de expropriação. Como o Partido tinha trabalho político naquelas duas comunidades, foi possível ter rapidez e segurança na distribuição, acompanhar a repercussão e capitalizar o resultado favorável.

Com crescente influência na classe operária urbana, nos operários agrícolas dos canaviais e na intelectualidade progressista, a ditadura militar decidiu estabelecer operações de cerco e aniquilamento do PCR, por meio do seu feroz aparato de repressão política instalado em São Paulo para atuar com o IV Exército em Pernambuco. Foram três covardes ataques, “Operações” que partiram do topo da cadeia de comando da repressão política, tendo à frente o general ditador-presidente da República, Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), passando pelo ministro do Exército à Operação Bandeirantes (Oban), depois, DOI-Codi, e Ernesto Geisel (1974-1979), que deu sequência ao criminoso objetivo de eliminar o PCR, realizando a primeira Operação de novembro 1969 a agosto de 1971, a segunda, de fevereiro de 1973 a agosto de 1974, e a terceira de 1º de abril ao final de junho de 1978.

Todas essas três tentativas foram em vão. Manoel Lisboa havia formado um Partido indestrutível, de tipo bolchevique, para fazer a revolução no Brasil. O trabalho clandestino do Partido respondia a cada ataque da ditadura com ações revolucionárias junto à massa, panfletagens na porta das grandes fábricas, nas universidades, com bombas-panfletos nas paradas e terminais de ônibus e grandes pichações nos muros e paredes: ABAIXO A DITADURA MILITAR! VIVA A REVOLUÇÃO! O PCR VIVE E LUTA!

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

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