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segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Mostra de Cinema Árabe destaca filmes dirigidos por mulheres e a importância da causa palestina

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Entre 13 e 17 de agosto, a 5ª Mostra de Cinema Árabe Feminino ocupou o Cinema da Fundação, no Recife, com sessões, debates e sorteio de livros. Colocando no centro a causa palestina e o protagonismo de filmes dirigidos por mulheres árabes, uma afirmação estética e política crucial neste momento.

João Montenegro | Recife – PE


CULTURA – O Recife recebeu, pela primeira vez, a Mostra de Cinema Árabe Feminino. Em sua 5ª edição, o evento, realizado de 13 a 17 de agosto, movimentou o Cinema da Fundação com uma programação que combinou exibições, debates, sorteio de livros e rodas de conversa após as sessões. O encerramento, no histórico Cineteatro São Luiz, levou ao público “Um Estado de Devoção”, documentário dirigido por Carol Mansour e Muna Khalidi. “Quanto mais cidades a gente consegue mostrar esses filmes e criar um processo de formação ao redor deles, melhor”, celebrou a organizadora Carol Almeida, ao sublinhar a importância de descentralizar o circuito. Para ela, trazer o recorte para o Nordeste amplia o acesso “a uma cinematografia de realizadoras do mundo árabe”.

Vozes e vanguardas

Criada em 2019, a Mostra tem o objetivo de ampliar o acesso a filmes dirigidos por mulheres árabes, residentes na região ou na diáspora, e busca romper a visão orientalista da “mulher oprimida” e a presunção de uma região “sem cultura fílmica”, colocando as diretoras no centro do debate, seus contextos de produção e suas propostas estéticas.

A Mostra conta com curadoria das brasileiras Analu Bambirra e Carol Almeida, e da egípcia Alia Ayman. O foco recai sobre narrativas e linguagens não-hegemônicas, entre ficções, documentários e formas experimentais.

“Há um mito persistente de que mulheres árabes não têm autonomia — um discurso que, muitas vezes, se usa para justificar violências”, pontuou Almeida. “Quando olhamos para o cinema, vemos diretoras palestinas, libanesas, sírias, tunisianas, marroquinas, iemenitas na vanguarda da linguagem cinematográfica.”

No contexto do genocídio palestino, acrescenta a organizadora, a curadoria ganha urgência: “Vivemos uma intensificação do processo de limpeza étnica do povo palestino. Trazer essas realizadoras — e filmes que, direta ou indiretamente, falam dessa experiência — é fundamental.”

Encerramento e debate

O filme de fechamento, “Um Estado de Devoção”, acompanha o médico britânico-palestino Ghassan Abu-Sittah após 43 dias sob bombardeio em Gaza, quando ele atuou sem descanso em salas de emergência dos hospitais Al Shifa e Al Ahli. Em registros breves e contundentes, o longa o retrata como uma das faces da resistência palestina, e aponta a defesa da Palestina como força que sustenta seu trabalho humanitário.
Após a sessão final, organizadores, representantes de movimentos sociais e público se reuniram em debate no palco do São Luiz. As falas ressaltaram a defesa da causa palestina e exigiram que o governo Lula rompa relações diplomáticas com o estado genocida de Israel. O clima foi de mobilização e escuta, com depoimentos sobre redes de solidariedade e o papel da cultura na incidência pública.

Sumud: cinema como insistência de vida

Para Carol Almeida, o cinema árabe, em especial da Palestina, pode ter uma função pedagógica e afetiva ao traduzir o conceito palestino de Sumud — a perseverança em criar projetos de vida em meio à destruição. “Querer fazer cinema também faz parte desse projeto de vida”, disse. “O trabalho de diretoras palestinas contemporâneas é movido por uma vontade de vida, a despeito de qualquer projeto de morte.”

A Mostra, reforça a organização, sempre deu atenção especial a realizadoras palestinas e, diante do agravamento das violências, se coloca firmemente como um evento pela libertação da Palestina. Em sintonia, a iniciativa se soma à PABCI (Campanha Palestina para o Boicote Acadêmico e Cultural de Israel) e incentiva que festivais, espaços artísticos e instituições culturais façam o mesmo. O BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) é apontado pela equipe como instrumento de pressão
internacional — “um mínimo que podemos fazer como profissionais da cultura”, dizem.

Programação e próximos passos

Encerrada a etapa recifense, a 5ª Mostra segue viagem: “Estamos indo agora para o Rio de Janeiro, com exibições na capital, em Niterói (Universidade Federal Fluminense) e Duque de Caxias”, adiantou a organizadora. A equipe já planeja as próximas edições, com a meta de expandir o circuito para novas cidades.

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