Nos últimos dois anos na Faixa de Gaza, o povo palestino sofre o maior genocídio do século 21, resultando, até agora em mais de 80 mil mortes oficiais. O genocídio foi suspenso, mas o colonialismo de Israel não terá um fim enquanto perdurar o sistema imperialista-capitalista.
Felipe Annunziata | Redação
EDITORIAL – De cima dos escombros de Gaza, um povo que não abriu mão do seu território e do direito à autodeterminação ergue a sua bandeira. Nos últimos dois anos, os palestinos passaram pela maior atrocidade que o imperialismo cometeu neste século até agora, mas nunca abaixaram a sua bandeira preta, branca, verde e vermelha, que hoje também é levantada pelos povos de todo o mundo.
“Esta é a bandeira da honra e da dignidade! Esta é bandeira da Palestina!”, afirma um morador de Gaza que tenta voltar para casa depois do acordo de cessar-fogo. E completa: “Apesar do que Trump fez contra nós, apesar de tudo que o canalha do Netanyahu fez contra nós, para nos expulsar de Gaza, não há uma casa de pé, mesmo se eles nos cortarem em pedacinhos, não vamos sair de Gaza, nem um único centímetro! Eles tentaram nos expulsar, mas é impossível!”.
O acordo de cessar-fogo entre a resistência palestina, os EUA e Israel entrou em vigor, oficialmente, no dia 10 de outubro, mas ainda não está consolidado e já conta com vários descumprimentos por parte dos sionistas.
Mesmo com o alívio inicial que a implementação do acordo garante, com a entrada de ajuda humanitária para aplacar a fome generalizada da população de cerca de 2 milhões de habitantes, não está garantido que os sionistas cumprirão o combinado.
Apesar disso, é uma conquista dos povos do mundo para barrar a limpeza étnica na Faixa de Gaza, uma grande vitória da luta anti-imperialista, pois encerrou um período de dois anos de fome, bombardeios, fuzilamentos e sequestros contínuos.
Maior genocídio do século 21
Os números oficiais, reconhecidos pelo Ministério da Saúde de Gaza e pela ONU, dão conta de que mais de 80 mil palestinos foram mortos, além de 160 mil feridos. Pelo menos 10 mil pessoas estão desaparecidas entre os escombros provocados pelas bombas de Israel. Esses números, no entanto, estão muito longe de refletirem a realidade completa do genocídio.
Um estudo da revista Lancet aponta que a matança pode ter vitimado mais de 360 mil pessoas, ou cerca de 17% da população de Gaza antes dos ataques. Nesta conta estão incluídos, além das vítimas diretas dos bombardeios, as pessoas que morreram desnutridas ou de doenças infecciosas causadas pelo bloqueio total de Israel à entrada de ajuda humanitária.
Nas ruas destruídas, o resultado do genocídio começa a ficar mais evidente. No sábado (11/10), a Defesa Civil de Gaza e um hospital recuperaram 178 corpos nos escombros durante as primeiras horas do cessar-fogo. “Chegamos na nossa região. Ela foi exterminada. Não sabemos para onde vamos depois disso. Não pudemos pegar os móveis, roupas nem nada, nem mesmo as roupas de inverno. Nada sobrou”, afirmou Ahmed al-Brim a uma agência internacional de notícias.
Tudo o que se vê em Gaza hoje é a destruição realizada por Israel. O regime sionista se utilizou de várias táticas para assassinar palestinos em escala industrial, assim como os nazistas fizeram na 2ª Guerra Mundial. Além da fome generalizada, os sionistas destruíram a rede de água potável e esgoto de Gaza, toda a região agricultável também foi ocupada e destruída. De acordo com a ONU, 80% das edificações do enclave palestino foram destruídas ou danificadas.
Raja Salmi, uma palestina que tenta voltar para casa, resumiu assim a situação: “Caminhamos por horas e cada parada era repleta de medo e ansiedade por minha casa. Ela não existe mais. É só uma pilha de escombros. Fiquei ali de pé e chorei. Todas as memórias agora são apenas pó”.
A luta pelo cessar-fogo
O genocídio foi suspenso, mas o colonialismo de Israel não terá um fim enquanto perdurarem suas causas: o sistema imperialista-capitalista, que tem naquela região um grande interesse econômico, militar e geopolítico. Como resultado da solidariedade internacional da classe trabalhadora e da resistência inquebrantável do povo palestino, o imperialismo estadunidense foi forçado a fazer Israel sentar para negociar um cessar-fogo.
Na Europa, milhões de trabalhadores fizeram greves e manifestações contra a cumplicidade de seus governos com o regime israelense. A situação chegou a tal ponto que as greves gerais na Itália ameaçaram o governo da neofascista de Giorgia Meloni. Vários outros governos tentaram acalmar suas populações e se viram obrigados a reconhecer o Estado Palestino. Foram os casos de França, Canadá, Austrália, Reino Unido, Portugal, Espanha, Noruega e Irlanda.
Alguns países da África e de Ásia também viram gigantescas manifestações de solidariedade. Ou seja, os povos do mundo isolaram o regime neonazista de Benjamin Netanyahu, que, na tentativa de anexar a Faixa de Gaza a Israel, mentiu descaradamente dizendo que “o objetivo da guerra era destruir o Hamas”.
Nos EUA, de acordo com uma pesquisa do jornal New York Times, pela primeira vez na história, os estadunidenses apoiam mais a Palestina do que Israel. O jornal faz essa pesquisa regularmente desde 1998.
No Brasil, a luta em defesa da Palestina também garantiu avanços importantes, que fizeram recuar a máquina de propaganda sionista. Universidades públicas romperam relações com Israel, como a Unicamp e as Universidades Federais Fluminense e do Ceará.
Nas ruas, favelas, praças e redes digitais, a ampla campanha de denúncias dos crimes de Israel demonstrou que a maioria do povo brasileiro é contra a política de morte, mesmo com a cobertura tendenciosa em favor do regime sionista por parte da mídia burguesa e de muitas igrejas.
Fora Israel de Gaza!
Apesar dessas vitórias, não podemos confiar no imperialismo em nada, especialmente quando o assunto é a “paz mundial”. A trégua prevê a troca de todos os prisioneiros de guerra israelenses por quase dois mil presos políticos palestinos, entre eles Omar Bsais, preso há mais de 24 anos nas masmorras israelenses. A emoção das famílias palestinas é indescritível. No entanto, Israel mantém em campos de tortura mais de 11 mil palestinos, dentre eles, centenas de mulheres e crianças.
Na manhã do dia 13/10, a resistência palestina entregou à Cruz Vermelha Internacional 20 prisioneiros que passaram os últimos dois anos em Gaza. Mesmo assim, as tropas israelenses não se retirarão por completo da Faixa de Gaza. Mais da metade desse território palestino continuará ocupado. Portanto, esta situação impõe a necessidade de continuar a pressão internacional pelo direito à plena autodeterminação do povo palestino sobre suas terras.
O futuro se constrói agora
Para celebrar a suspensão da matança de crianças em Gaza, A Verdade colheu mensagens de solidariedade de quem, mesmo com poucos anos de vida, já aprendeu algumas lições de consciência política.
“Bom, pra ser sincero, eu não acompanhei muito as notícias sobre o que estava acontecendo, e agora vejo que isso foi uma decisão errada, pois eu vivo nesse mundo e o que acontece é preciso saber. Israel cometeu um genocídio contra a Palestina, matando principalmente mulheres e crianças. Essas pessoas estão sofrendo graças à ganância dos líderes israelenses, líderes esses que, enquanto destroem e matam milhares de pessoas, pensam no lucro que eles terão ao reformar a cidade, pois estão mais preocupados com dinheiro e poder do que com a chacina que cometeram.”
Gabriel Xavier, 13 anos, Belo Horizonte (MG)
“Ver as crianças palestinas sofrendo esses bombardeios foi muito triste. Deve ser muito triste não poder brincar e viver com medo constante. A situação de Gaza é horrível, com milhares de crianças mortas ou feridas. Eu desejo que essas crianças tenham esperança de que isso vai mudar, que o país tenha um cessar-fogo de verdade e a paz.”
Larissa Ramos, 10 anos, Carpina (PE)
“Eu vi os bombardeios pela TV. Isso tinha que acabar mesmo porque muitas pessoas morreram, e os hospitais estão totalmente destruídos. Espero que agora tenha acabado e que as crianças palestinas possam voltar a brincar e a estudar.”
Miguel Escarião, 10 anos, João Pessoa (PB)
Editorial publicado na edição impressa nº323 do jornal A Verdade