As doenças relacionadas ao trabalho ou doenças ocupacionais são muito mais comuns do que muita gente imagina. Elas estão relacionadas principalmente ao ritmo de trabalho e alto nível de exigência dos patrões na obtenção de resultados e tem como principal característica seu caráter lento e silencioso, que se desenvolve ao longo dos anos, dificultando a identificação de sua relação direta com o trabalho. “Algumas doenças só aparecem após 10 ou 15 anos de trabalho e acabam fazendo tamanho estrago que, muitas vezes, a pessoa não tem condições de voltar ao trabalho”, afirmou o médico do trabalho Eduardo Jesuíno em entrevista ao site iBahia.
Mas somente a partir da década de 1970 é que as doenças ocupacionais passaram a ser reconhecidas, devido principalmente ao aumento dos distúrbios relacionados aos agentes físicos, químicos e térmicos associados ao crescimento da indústria no Brasil.
O advento dos computadores e da informática nas empresas a partir da década de 1980 criou um novo cenário para os profissionais, trazendo consigo o aumento dos riscos ergonômicos e de postura, ampliando o leque de doenças ocupacionais mais prevalentes. Com a exigência do aumento constante da produtividade no capitalismo, cresce o assédio moral e más condições de trabalho, as doenças psicossociais ganharam destaque. A ansiedade, por exemplo, vem aumentando a cada ano: em 2009, 14% dos profissionais apresentavam a doença; em 2011, esse percentual cresceu para 18%.
Outra patologia psicossocial que tem crescido é a Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, que é causada pelo estresse constante gerado por uma rotina desgastante e condições inadequadas de trabalho. Na síndrome, o trabalhador passa a apresentar esgotamento físico e mental, podendo, inclusive, desenvolver comportamentos agressivos e de extrema ansiedade.
O neurologista Omar Sayed explica a relação entre as doenças psicossociais e o trabalho: “Profissionais de diversas áreas que enfrentam dupla jornada, ou atividades de muita pressão psicológica, correm o risco maior de desenvolver o transtorno, como aconteceu com o copiloto que provocou o acidente aéreo no mês passado1. Os principais sintomas são irritabilidade, dificuldades de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo, baixa autoestima, dor de cabeça, cansaço, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrintestinais”¹.
Porém, o grande vilão dos trabalhadores continua sendo a LER/Dort (lesão por esforço repetitivo e doença osteomuscular relacionada ao trabalho). “Desde funcionários que precisam carregar muito peso no serviço a pessoas que passam horas em frente ao computador em postura inadequada, todos são suscetíveis”, diz o especialista Jarbas Simas, presidente da Sociedade Brasileira de Perícias Médicas. “Estresse, ansiedade e tensão, que compõem a depressão, podem ‘escolher’ como ponto de choque as costas”, explica. Outros problemas que entram na lista das doenças ocupacionais mais comuns são a surdez temporária ou definitiva, a catarata, o câncer de pele relacionado à exposição contínua ao sol e produtos químicos, e doenças pulmonares relacionadas à aspiração de poeiras e gases tóxicos.
Pesquisas e estudos são claros na relação entre o aumento das doenças ocupacionais e o estilo de trabalho que tem prevalecido na nossa sociedade. Produtividade cada vez mais elevada, baixos salários, alta carga horária, excesso de horas extras, ambientes inadequados de trabalho e assédio moral são as causas principais do adoecimento do trabalhador. E todas essas características são inerentes ao sistema econômico em que vivemos, que visa ao lucro acima do bem-estar da população. Assim, por maiores que sejam as conquistas trabalhistas, elas nunca serão suficientes para libertar realmente a classe trabalhadora. Essa liberdade real só será alcançada com o fim da exploração do homem pelo homem, o fim da propriedade privada dos meios de produção, ou seja, com o socialismo. Por isso, cabe a nós, trabalhadores e trabalhadoras conscientes, organizarmos a luta pela mudança da sociedade em que vivemos.
¹Na entrevista, o neurologista Omar Sayed se refere ao acidente envolvendo a aeronave da Germanwings que caiu em março de 2015 nos Alpes franceses. Segundo investigação da Promotoria francesa, a queda da aeronave teria sido causada pelo copiloto Andreas Lubitz, de 28 anos, que teria se recusado a abrir a porta para o piloto, que havia deixado a cabine, e teria deliberadamente derrubado o avião.
Ludmila Outtes, Recife