Democracia burguesa é sinônimo de corrupção e enganação dos eleitores

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A cada dia, novas denúncias de corrupção deixam claro que os atuais partidos políticos não passam de marionetes da classe capitalista, e que a democracia no capitalismo é uma grande ilusão.

De fato, somente uma grande empresa privada, a Odebrecht, revelou por meio de seus donos e executivos que tinha total domínio sobre cinco ex-presidentes da República (Fernando Collor, José Sarney, FHC, Lula e Dilma), sobre o atual presidente em exercício Michel Temer, sobre nove governadores (Marconi Perillo (PSDB-GO), Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Flávio Dino (PCdoB-MA), Tião Viana (PT-AC), Renan Filho (PMDB-AL), Paulo Hartung (PMDB-ES), Beto Richa (PSDB-PR) Marcelo Miranda (PMDB-TO, Robinson Maria (PSD RN), João Colombo (PSD SC); sobre os atuais e ex-presidentes da Câmara e do Senado – deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eduardo Câmara (PMDB-RJ), sobre os senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Renan Calheiros (PMDB-AL), sete ministros do atual governo e mais de 100 parlamentares de 26 partidos.

Todos eles receberam milhões em propina para suas campanhas eleitorais; em troca, entregaram obras públicas superfaturadas para a Odebrecht, editaram Medidas Provisórias e leis para favorecer  a empresa.

Vejamos algumas dessas revelações

Dois diretores da Odebrecht – Marcio Faria e Rogério Araújo – afirmaram em depoimentos a Justiça que tiveram uma reunião no escritório de Michel Temer, em São Paulo, na qual acertaram o pagamento de R$ 40 milhões ao PMDB. O encontro ocorreu no dia 15 de julho de 2010 e o dinheiro era referente um “pedágio” de 5% sobre contrato de US$ 825 milhões entre a Odebrecht e a Petrobras.

Marcelo Odebrecht, dono da empresa e presidente até sua prisão, declarou que passou em 2014 via caixa dois, R$ 130 milhões para a campanha eleitoral do PT, R$ 7 milhões para o PCdoB, R$ 5 milhões para o PDT e R$ 5 milhões para o PRB.

O dono da Odebrecht afirmou ainda que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) recebeu R$ 50 milhões da sua empresa e da empreiteira Andrade Gutierrez em troca das obras de construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia. A propina foi acertada em 2008, quando Aécio Neves era governador de Minas Gerais e parte desse dinheiro foi depositado em contas em Cingapura, país situado no sudeste da Ásia. A Odebrecht repassou mais R$ 5,2 milhões para Aécio Neves entre 2007 e 2009 pela participação da empresa nas obras da Cidade Administrativa.

O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral recebeu um total de R$ 58 milhões da Odebrecht para superfaturar as obras da Linha 4 do metrô e do PAC do Alemão.

Essas obras pagas com o dinheiro público eram superfaturadas, ou seja, tinham seus valores multiplicados para aumentar o lucro da empresa privada e desses enormes lucros se retiravam alguns milhões para os partidos burgueses e seus políticos.

A obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí (RJ), por exemplo, foi projetada para ter um custo de US$ 6,1 bilhões (R$ 19 bilhões). Após mudanças no projeto, os custos saltaram para US$ 30,5 bilhões (R$ 95,1 bilhões) e, podem, ainda, chegar a US$ 47,7 bilhões (R$ 148,8 bilhões) já que até hoje a obra não foi concluída.

Segundo José de Carvalho Filho, ex-funcionário da Odebrecht, o governador do Maranhão, Flavio Dino, do PCdoB, recebeu quando era deputado federal, R$ 400 mil para defender em plenário um projeto de lei que beneficiava a construtora.

Por outro lado, a empresa se juntou a outras empresas para formar cartéis e dividirem esse roubo que faziam do dinheiro público.

Este é o caso da construção do novo Maracanã para a inesquecível Copa do Mundo de 2014. Para essa obra, as empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Delta Engenharia formaram um cartel e em combinação com o governador do Rio e o Tribunal de Contas do Estado (TCE), elevaram o orçamento original de R$ 700 milhões para R$ 1,2 bilhão (um superfaturamento de R$ 211 milhões).  Para fraudar essa licitação, as três empresas pagaram R$ 7,3 milhões para o ex-governador Sérgio Cabral e conselheiros do TCE.

No total, a Odebrecht passou R$ 396 milhões de propina para o PMDB e, entre 2008 e 2015, cerca de R$ 300 milhões para o PT.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) recebeu R$ 10,3 milhões em recursos de caixa dois para sua campanha ao governo do estado, em 2014 e Luiz Fernando Pezão (PMDB) recebeu R$ 20,3 milhões também em caixa dois para a campanha ao governo do Rio em 2014.

Em nove anos, de 2006 a 2014, a empresa confessou ter distribuído US$ 3,39 bilhões (R$ 10,7 bilhões) em propinas aos atuais partidos políticos existentes no país.

Todos esses bilhões dos cofres públicos que foram para essas empresas privadas e acabaram nos bolsos e nas contas bancárias dos seus donos e de suas famílias poderiam ter sido usados para pagar os salários atrasados dos aposentados, dos funcionários públicos, e realizar investimentos na Saúde, em moradia popular ou na Educação, se vivêssemos numa sociedade sem a propriedade privada dos meios de produção.

Porém, não é só a Odebrecht a única empresa capitalista que financia os partidos burgueses e controla os governantes. Tampouco esse fenômeno ocorre apenas no Brasil; trata-se de uma característica de todos os países de economia capitalista.

A Siemens, multinacional alemã, gastou US$ 1,4 bilhão em propinaspara subornar funcionários públicos e políticos em dezenas de países, como EUA, China, Israel, Nigéria, Brasil, Argentina, Venezuela, entre outros. O modelo é o mesmo que vemos em nosso país: notas fiscais falsas foram criadas para permitir pagamentos mediante falsos contratos de consultoria para identificar serviços que nunca foram prestados.

No Brasil, a Siemens e a francesa Alston formaram um cartel para fraudar licitações e trens de metrô nos governos do PSDB em São Paulo, gestões de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. Após analisar 16 contratos, o Ministério Público concluiu que esse cartel superfaturou cada obra em 30% e os prejuízos ao povo paulista somente nesses negócios chegaram a R$ 425,1 milhões.

Também houve formação de cartel em contratos de manutenção de trens firmados entre outubro e novembro de 2007 e aditamentos feitos entre os anos de 2013 e 2014 com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). As empresas envolvidas, além da Siemens, foram Alstom, Bombardier, CAF Brasil, Ttrans, MGE-Manutenção de Motores e Geradores Elétricos, Temoinsa,  Tejofran e  Montagens e Projetos Especiais.

As indústrias automobilísticas também receberam bilhões de isenção fiscal, empréstimos com juros pagos pelo Estado e até dinheiro público para pagar salários de trabalhadores que prestavam serviço para essas empresas privadas, caso do Plano de Proteção de Emprego (PPE), que não impediu os milhares de demissões no ABC, mas permitiu que as montadoras continuassem tendo lucros mesmo com a queda na venda de carros.

A maracutaia foi feita por meio de Medidas Provisórias editadas pelo Governo e aprovadas pelo Congresso e que eram apresentadas como necessárias para o desenvolvimento do país. De acordo com E-mails apreendidos pela Polícia Federal, as montadoras gastaram cerca de R$ 36 milhões para garantir a edição da Medida Provisória 471, assinada em 20 de novembro de 2009 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A MP 471 concedia descontos no IPI de carros produzidos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, de 2011 a 2015, e foi aprovada em março no Legislativo quando virou Lei 12.218.

Cláudio Melo Filho, executivo da Odebrecht, revelou que as contribuições que a empresa fez para a campanha do governador Renan Filho (PMDB), na campanha de 2014, foram uma “contrapartida para o forte apoio de seu pai, o senador Renan Calheiros, aprovar a renovação de contratos de energia.” Segundo esse corruptor, “Você aprovava uma coisa no Ministério da Fazenda e aí ia pro Congresso Nacional. Quando o pessoal do Congresso percebia que tinha interesse das empresas por trás, você tinha que assumir um compromisso com eles”.

Ele disse ter pago R$ 22 milhões ao senador Romero Jucá (PMDB RR) e que foram divididos com Renan Calheiros e Eunício Oliveira. Melo Filho ainda narrou como foi a aprovação da Medida Provisória 613 de 2013. O texto dessa MP foi enviado pela presidente Dilma Rousseff e criou o Reiq, um programa que isentou indústrias químicas de pagar impostos na compra de matérias-primas. Como se sabe, a Odebrecht é proprietária da indústria química Braskem, uma das maiores beneficiárias com a lei. Após a aprovação do Reiq, a Odebrecht fez em 2014 um pagamento de R$ 100 milhões de caixa dois para campanha da chapa Dilma-Temer.

Como vemos, o imenso crescimento que a Odebrecht teve nas últimas décadas (em 2015, o faturamento da companhia alcançou R$ 130 bilhões e seu plano era chegar aos R$ 200 bilhões em 2020) não foi fruto da inteligência nem da eficiência da empresa, mas dessa gigantesca rede de corrupção que a empreiteira montou e da exploração dos seus trabalhadores.

O ex-senador Sérgio Machado, presidente da Transpetro por 12 anos, empresa da Petrobras que atua nas operações de importação e exportação de petróleo e derivados, gás e etanol, ao confessar seus crimes declarou que o mesmo esquema de superfaturamento de obras e de propinas vigente na Petrobras atinge vários outros setores do governo, como o Departamento Nacional de Transportes, o Banco do Nordeste, o Banco do Brasil, a Fundação Nacional da Saúde, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Docas, e Furnas.

Portanto, os ricos constroem suas riquezas assaltando os cofres públicos, corrompendo os governantes e seus partidos e explorando os trabalhadores. Na realidade, numa economia capitalista, toda a estrutura do Estado é capturada e dominada pelas empresas privadas.

Mas o Poder Judiciário, que aparentemente está fazendo justiça, compõe igualmente a estrutura do Estado, e favorece o capital privado. Exemplos: o bilionário Eike Batista, acusado de crimes de lavagem de dinheiro para ocultar aproximadamente US$ 100 milhões, foi colocado em liberdade pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o mesmo ocorreu com a mulher e cúmplice do ex-governador do Rio Sergio Cabral, Adriana Ancelmo, que saiu da prisão após três meses de sua detenção.

Por outro lado, não são apenas as grandes indústrias que controlam os partidos burgueses e os governantes em nosso país; os bancos estão também entre os que mais participam desse monstruoso esquema criminoso que tira verbas da saúde pública para enriquecer uma minoria de ricos. Afinal, é por meio deles que o dinheiro sai do país e vai parar em contas na Suíça ou em paraísos fiscais.

Os bancos doaram legalmente para os três principais candidatos em 2014 (Dilma, Aécio e Marina) um total R$ 32 milhões. A Chapa Dilma-Temer recebeu R$ 15.825 milhões; a chapa do PSDB recebeu 10.110 milhões e a do PSB R$ 6 milhões. Terminada as eleições, ocorreu o que todos vimos: altas consecutivas da taxa de juros, a Selic, para 14,25% em 2015, acelerando e agravando a recessão no país, mas beneficiando imensamente os donos dos títulos da dívida pública e dos cartões de crédito que são pagos pelas famílias brasileiras: os banqueiros.

Governo Temer aumenta corrupção 

Com o golpe do impeachment de Dilma, a corrupção não acabou; cresceu.

De acordo com a Receita Federal, no processo de compra do Unibanco pelo Itaú, os acionistas do Unibanco teriam vendido suas ações por cerca de R$ 12 bilhões para a empresa que administra o Itaú, a Itaú Holding. O valor seria inferior ao do mercado. Depois, o Itaú teria comprado essas ações da Itaú holding por um preço mais alto, gerando um enorme ganho de capital, a diferença entre o valor de compra e o de venda. Por essa falcatrua, o Itaú teria que pagar ao Tesouro Nacional mais de R$ 20 bilhões em Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). No entanto, no dia 11 de abril de 2017, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) isentou o Itaú de pagar R$ 25 bilhões de impostos. Detalhe: o presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn,é simplesmente um dos donos do Itaú.

Há capitalismo, há corrupção

No entanto, no último dia 25 de abril, o Banco do Brasil foi obrigado a cancelar a licitação de propaganda vencida pela agencia MultiSolution, pois ficou comprovado que o resultado já estava previamente combinado entre a empresa e a direção do banco. A MultiSolution e outras duas empresas iriam dividir um contrato de mais R$ 2,5 bilhões por 60 meses, quando se sabe que o governo Temer, quando muito, não tem mais de 20 meses. Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou ao Ministério Público a abrir investigações contra sete ministros do governo, acusados de corrupção.

Aos que pedem a volta da ditadura para pôr fim à corrupção, vale ainda lembrar que também naquele período os desvios de recursos públicos eram também constantes. O empresário Ricardo Semler escreveu em artigo publicado na Folha de S. Paulo que sua empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras durante os governos militares: “ Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito. (…) Até em Paris sabia-se dos porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas. (FSP, 21/11/2014)

Pequenos favores

Além de milhões de propina para os atuais partidos, a Odebrecht adotou a política, nas palavras de seu dono, de conceder pequenos favores aos governantes eleitos.

 Em depoimento Justiça, o diretor do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, Hilberto Mascarenhas, revelou que a empreiteira pagava mensalmente a Frei Chico, irmão do ex-presidente Lula um valor de R$ 5 mil. Em entrevista no dia 13 de abril à Rádio Metrópole, de Salvador, Lula não negou os pagamentos; disse que não tinha culpa se a Odebrecht pagava R$ 5 mil por mês ao seu irmão, embora ele não fosse funcionário da empresa.

Por sua vez, o dono da Odebrecht, Emilio Odebrecht, disse em depoimento que a reforma em um sítio em Atibaia (SP) frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva custou à construtora cerca de R$ 700 mil. Segundo ele, foi a ex-primeira-dama Marisa Letícia quem pediu ajuda para concluir as obras, que já estavam em andamento na propriedade. O pedido foi feito em 2010, no último ano do segundo mandato de Lula na Presidência da República. Ele declarou ainda ter falado do assunto com Lula em 30 de dezembro de 2010, penúltimo dia de seu segundo mandato como presidente: “Eu estive com ele lá em Brasília e aí eu disse: ‘Olhe, chefe, o sr. vai ter uma surpresa e nós vamos garantir o prazo naquele programa lá do sítio’. Ele não fez nenhum comentário, mas não botou nenhuma surpresa’.

Emilio Odebrecht também declarou que Lula ajudou sua empresa a ter “relações diferenciadas” com os sindicalistas do setor petroquímico da Bahia e que ajudou a escrever a famosa Carta aos Brasileiros apresentada por Lula nas eleições de 2002. O milionário afirmou que a Odebrecht financiava palestras do ex-presidente Lula em países africanos para que a imagem da empresa ficasse atrelada ao carisma de Lula. Para isso, a empresa custeava o transporte em aviões fretados, hospedagem e demais gastos do ex-presidente e que o valor de cada palestra variava entre US$ 150 mil e US$ 200 mil.

Em nota, o Instituo Lula afirmou que “Lula fez 72 palestras para mais de 40 empresas. Entre elas, Pirelli, Itaú e Infoglobo. Em todas as palestras foram cobrados os mesmos valores. Todas foram realizadas, e a comprovação de tudo relacionado às palestras já está na mão do Ministério Público do Distrito Federal e do Paraná. A imprensa deu a entender que a Odebrecht teria “inventado” essas palestras. Isso não foi dito de forma alguma mesmo nos depoimentos, que indicaram que as palestras eram lícitas e legítimas. E a Odebrecht não foi a primeira empresa, nem a segunda, nem a terceira a contratar palestras de Lula. Microsoft, LG e Ambev, por exemplo, contrataram palestras pelos mesmos valores antes da Odebrecht.” (http://www.lula.com.br)

Tem mais:  além de corromper presidentes, governadores, parlamentares e partidos, a Odebrecht também comprou jornais e revistas da imprensa burguesa. Emílio Odebrecht, também dono da Odebrecht e atual presidente do Conselho de Administração da empresa, confessou que a empreiteira deu apoio financeiro aos meios de comunicação da burguesia, entre eles os jornais Estado de Minas, Estado de São Paulo, A Tarde, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, a revista Carta Capital, e que publicou balanços nos jornais diários e propaganda nas revistas da burguesia unicamente para apoiá-las.

Por sua vez, os atuais partidos políticos não negam que receberam esse milhões, dizem que foram doações legais. Ou seja, confessam que foram financiados pela Odebrecht, por bancos e por outras empresas privadas e defenderam seus interesses; não têm, pois, nenhuma vergonha de serem comprados dessa maneira.

Bem houve tempo que vender e comprar um homem ou uma mulher era um negócio legal, mas isso não tirava desse ato seu caráter indigno, imoral e vergonhoso. Ademais, aqueles que eram verdadeiros revolucionários, em vez de conciliarem com essa legalidade deram sua vida para acabar com a escravidão.

Mas o que tudo isso significa?

Na realidade, todas as empresas privadas praticam fraudes e corrupção nos países capitalistas. Se há capitalismo, há, consequentemente, corrupção. Esta é uma das características deste sistema.

Primeiro, que as empresas privadas, capitalistas, além de explorarem impiedosamente os trabalhadores, pagando salários baixos e desrespeitando os direitos trabalhistas, e de se apropriarem das mercadorias que esses operários produzem, controlam os partidos burgueses e o Estado por meio da corrupção.

Segundo, que a proposta apresentada pela democracia pequeno-burguesa e seus representantes de financiamento público das campanhas, isto é, a proibição de as empresas privadas fazerem doações a partidos e candidatos, é uma grande ingenuidade política ou apenas mero oportunismo.

Sem dúvida, grande parte do dinheiro que a Odebrecht repassou para os atuais partidos não foram doações legais, mas sim por fora, o chamado caixa dois. Ora, o caixa dois já é proibido por lei hoje, e essa proibição não impediu a corrupção eleitoral.  De fato, Mônica Moura, esposa e sócia do marqueteiro João Santana, declarou ter recebido R$ 18 milhões em 2008 numa conta na Suíça. Em 2010, ela disse que recebeu mais R$ 10 milhões da Odebrecht referentes à campanha de Dilma-Temer e ainda afirmou que todas as campanhas que fez tiveram caixa dois: “Quando eu era apenas uma funcionária de outros marqueteiros, sempre trabalhamos com caixa 2, com recursos não contabilizados. Em todas as campanhas”. Assim, não será uma nova lei, proibindo o que já é proibido, que porá fim a essa corrupção.

Depois, há variadas formas de fraudar as campanhas eleitorais na democracia burguesa, como, por exemplo, depósito em contas no exterior e, após alguns anos se aprovam normas para legalizar esse dinheiro. Vejamos um exemplo: segundo diretores da Odebrecht, a empresa doou R$ 23 milhões via caixa dois para a campanha de José Serra (PSDB), em 2010. A campanha era para presidente do Brasil, mas o dinheiro foi depositado numa conta na Suíça em nome de Ronaldo Cezar Coelho, integrante da coordenação da campanha. Porém, após a aprovação da chamada lei da repatriação (Lei 13.428/2017), que permitiu que os empresários que enviaram dinheiro ilegalmente para o exterior pudessem legalizá-lo, o sr. Ronaldo Cezar Coelho, pagou uma pequena multa, e trouxe esse montante de volta ao Brasil, e o dinheiro desse crime virou um capital lícito e honesto.

Ademais, mesmo nos países capitalistas em que existe financiamento público, é uma prática comum o caixa dois ou as doações ilegais para partidos e candidatos, como provam as eleições na França. Portanto, tal proposta não resolve o problema, mas apenas serve para ludibriar as massas de que as eleições burguesas são democráticas e que todos têm as mesmas condições de disputá-las.

Com efeito, os ricos são os donos das gráficas, das fabricas de papel, das Tvs, de grandes jornais e rádios, das chamadas redes sociais e das operadoras de celulares, quando querem censuram ou simplesmente impedem a opinião dos trabalhadores e despejam diariamente mentiras pelos seus poderosos meios de comunicação. São também donos dos prédios, não trabalham e dispõem de todo o tempo para fazer política para os ricos.

Ora, que igualdade existe entre um candidato que é empresário, tem fortunas, terras, compra prefeitos, vereadores e os conhecidos cabos eleitorais e um operário ou camponês que recebe um ou dois salários mínimos e vai disputar um mandato de deputado ou de governador?

Esta é a razão de a imensa maioria dos vitoriosos nas eleições para presidente e governadores, deputados e senadores serem ricos ou financiados por grandes empresários ou igrejas que enganam seus fiéis. Em resumo, trata-se de uma democracia organizada de tal modo que as massas trabalhadoras não possam assumir o governo nem de fato governarem.

Nas últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, os dois principais candidatos DonandTrump, do Partido Republicano, e Hillary Clinton, do Partido Democrata, gastaram em suas campanhas a fortuna de US$ 2,6 bilhões (cerca de R$ 8,3 bilhões), segundo   estimativa do Centro de Políticas Responsáveis (CRP, sigla em inglês); uma ONG que monitora o financiamento político nos EUA.

Mais uma vez perguntamos: que operário pode reunir de 2 a 4 bilhões para concorrer em igualdade de condições com os dois candidatos dos bancos monopólios e bancos norte-americanos ou das poderosas indústrias bélicas e de petróleo dos Estados Unidos?

Aliás, esse mesmo país que se diz a maior democracia do mundo, desencadeia várias guerras no mundo, invade países, massacra povos, depõe governos, joga bombas sobre hospitais e escolas, mata crianças, mulheres. No Afeganistão, os EUA jogaram no dia 13 de abril na região de Nangarhar, a “mãe de todas as bombas” – uma das mais potentes do arsenal norte-americano. Pior:  faz tudo isso dizendo defender a democracia, a liberdade e igualdade! É isso uma verdadeira democracia? Não! Mas é a democracia burguesa.

Em outras palavras, para existir uma verdadeira igualdade entre os partidos e as pessoas é indispensável que os trabalhadores e os pobres sejam também donos das gráficas, das TVs, dos rádios, das indústrias de papel, dos edifícios, dos bancos e que os proletários tenham tempo para fazer política, e não trabalhem 12 horas por dia.  Só depois de a classe operária deixar de ser explorada, ser, portanto, dona dos meios de produção, é que se pode falar em democracia e em igualdade.

Ora, a burguesia, a classe dos patrões, não aceita em hipótese alguma que os operários sejam proprietários das fábricas e que os camponeses sejam donos da terra. Prova disso foi o que ocorreu no dia 3 de maio de 1995: o Exército – com tanques e metralhadoras – invadiu as refinarias e instalações da Petrobras e prendeu os petroleiros que realizavam pacificamente uma greve geral contra a privatização e por melhores salários e, a mando de FHC, milhares de trabalhadores foram arbitrariamente demitidos.

Até mesmo quando existe um governo progressista, imediatamente a classe capitalista se une e articula suas Forças Armadas para dar um golpe. Em janeiro 1964, João Goulart venceu com 82% o plebiscito que aprovou o presidencialismo para que ele implementasse a reforma agrária e as reformas de base no país, entre elas, o fim dos privilégios que as multinacionais norte-americanas tinham. Dois meses depois, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica e a burguesia nacional rentista e não rentista, apoiados pelos Estados Unidos, implantaram a mais feroz ditadura militar da história do país.

Não há mais lugar para ilusões

Desta forma, a proposta de resolver a atual e profunda crise econômica e política que o Brasil vive por meio do voto nas eleições de 2018 não passa de mais um sonho de uma noite verão. Sem dúvida, a experiência das eleições, desde a chamada redemocratização, de 1989 a 2014, mostra que, mesmo aqueles que os trabalhadores pensavam que iriam defender seus interesses e lutariam contra a dominação dos patrões, traíram seus compromissos com as massas populares e se transformaram em fantoches da grande burguesia nacional e internacional. Falam em desenvolvimento econômico, mas a vida demonstra que qualquer desenvolvimento num país capitalista acaba por formar grandes monopólios privados e um poderoso capital financeiro que dominam a economia, desempregam, milhões de trabalhadores e empobrece a imensa maioria da população.

Por tudo isso, os comunistas revolucionários e todos os verdadeiros democratas não podem ter nenhum tipo de ilusão na democracia burguesa e devem se preparar psicologicamente, ideologicamente e materialmente para uma revolução popular e ter claro que a participação nas eleições tem como objetivo desmascarar a demagogia dos políticos burgueses e pequeno-burgueses e conscientizar as massas da necessidade dessa revolução.

Por outro lado, diante do aprofundamento da crise do capitalismo e de suas contradições no Brasil e no mundo, muitos caem no pessimismo, dizem que já temos muitos partidos, e que não precisamos criar nenhum novo partido.  Mas a questão não é que existem muitos partidos, mas sim que os atuais partidos existentes defendem – todos eles – uma só classe, a classe dos banqueiros e dos donos das empresas, a classe capitalista.

De fato, os partidos políticos que estão no Congresso Nacional prestam serviços a um só partido: o partido da Odebrecht e da burguesia. Têm siglas diferentes, líderes diferentes e disputam eleições uns contra os outros, mas representam a mesma classe que explora os trabalhadores: a classe dos patrões.

Portanto, os operários e operárias, os trabalhadores sem-terra e sem-teto, a juventude rebelde, precisam unir forças para forjar nas ruas a unidade popular, construir um partido que tenha como estratégia a revolução e não a conciliação de classes, ou então continuarão sendo manobrados e enganados pelas classes dominantes. É claro que esse partido é um partido revolucionário; portanto, não será financiado por nenhum capitalista, viverá dos centavos que os pobres coletarem e o entregarem, e da luta cotidiana de seus militantes.

Em síntese, não ter ilusões de classe é, também, não ter ilusão na democracia burguesa; é, portanto, tomar partido da revolução e do socialismo.

Lula Falcão, membro do comitê central do PCR e diretor de A Verdade