O racismo institucional que se enraizou em todos os níveis da educação brasileira precisa ser combatido todos os dias, nos corredores de nossa universidade – e institucionalmente nas comissões, conselhos e coordenações de cursos. Desde fevereiro de 2017 exigimos a instalação de uma comissão de ações afirmativas no curso de pós-graduação em administração da UFRGS. Hoje, somos cerca de 400 alunos. Desses alunos, cerca de 90% são brancos, e 10% são auto-declarados negros, indígenas, ou pardos. Também somos compostos por uma renda média elevada (10 salários mínimos) e de jovens (80% de nossos alunos estão entre as idades de 23 e 35 anos).
Esse elitismo tem que acabar! No mês de julho o relatório final da comissão de ações afirmativas ficará pronto, e nele consta uma pesquisa ampla de programas de cotas em diversas universidades do Brasil e na UFRGS.
Julho de 2017 é uma data histórica para os programas de pós-graduação, pois a USP se tornou – vergonhosamente – a última universidade pública a instituir seu programa de cotas (detalhe: apenas na graduação). Outras universidades, como a Federal de Goiás, a Federal de São Carlos, a Estadual do Rio de Janeiro e a Federal da Bahia já possuem programas de cotas raciais em todos os seus cursos de pós-graduação. A UFRGS, no entanto, caminha em passos vergonhosamente lentos. Como as instâncias superiores da universidade se recusam a estabelecer critérios para toda a universidade, alguns cursos isolados estão precisando tomar iniciativas e instaurar suas próprias cotas.
Atualmente, na UFRGS, os programas de pós-graduação em Antropologia, de Sociologia, de História, e de Educação já possuem reservas de vagas. Alguns incluem mais categorias vulneráveis (como refugiados, pessoas trans, e pessoas com necessidades especiais) – e as reservas variam de cerca de 20% até 35% das vagas. Enquanto não podemos forçar as instâncias superiores a instituir uma política em toda a universidade, alguns alunos estão se organizando e fazendo a mudança por conta própria.
Em agosto, a luta promete se intensificar. Nosso objetivo é que o edital de seleção de alunos/as ainda nesse ano já reserve vagas para nossas colegas negras e colegas negros, indígenas, trans e portadores de necessidades especiais. E não descansaremos até que essa torre de marfim acadêmica caia dando espaço para a população quem tem mais dificuldade de acessar a educação superior em nosso país.
Nosso relatório aponta a necessidade de reservas de vagas em todas as subáreas, mais reservas para refugiados e pessoas com necessidades especiais. Vamos lutar até o fim e enviar esse relatório para o conselho da unidade o mais rápido possível. Também já iniciamos o árduo trabalho de articulação com os movimentos negros estudantis, para que marquem presença e ajudem a garantir uma política de acesso ampla à população negra.
O Programa de Ações Afirmativas implantadas nas Universidades Brasileiras, por meio do sistema de reserva de vagas, é uma das maiores ações de inclusão e valorização da diversidade na atualidade. As cotas sociais e raciais como síntese desse programa, modificaram os processos de ingresso nas Universidades Públicas Federais, o que tem permitido mudanças no perfil socioeconômico dos estudantes universitários no ensino superior federal.
Existe, portanto um objetivo de efetivar a inclusão no ensino superior público de estudantes que historicamente não possuíam tal possibilidade por conta do racismo, do elitismo, e da exclusão – presentes em todas as esferas sociais, inclusive nas que a burguesia considera tão caras como as instituições de ensino superior.
Pelo fim do aparelhamento burguês e racista nas universidades!
Paulo Dalpian e Henrique Corrêa Vieira,
pós-graduandos em Administração pela UFRGS
Parabéns pela iniciativa e firça na luta! Todo o meu apoio!!