Na última quarta-feira (18), os Prefeitos das 7 cidades do Grande ABC Paulista anunciaram a decisão de suspender o transporte público à partir do dia 29/03. A decisão faz parte de uma série de medidas que vêm sendo tomadas na região para conter a transmissão do Novo Coronavírus.
Amanda Bispo, Felipe Galisteo e João Coelho
Unidade Popular Pelo Socialismo
Foto: Reprodução
ABC PAULISTA – Sabemos que a situação de propagação do vírus no Brasil é grave e que para contê-la e salvar vidas são necessárias medidas enérgicas e urgentes. Porém essa medida tomada pelos prefeitos da região não resolve os problemas fundamentais enfrentados pelos trabalhadores.
Em primeiro lugar, a diminuição da frota nos próximos dias deve gerar uma superlotação ainda maior do transporte público, aumentando o risco de contaminação. Depois, com a paralisação completa, os trabalhadores não terão condições de se deslocar ao trabalho. Ao ser questionado sobre essa situação, Gabriel Maranhão (PSDB), prefeito de Rio Grande da Serra e atual presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, afirmou que cada prefeito tomaria as medidas necessárias para os trabalhadores de sua cidade.
Entretanto, não é o que estamos vendo a partir de cada prefeitura. Em pronunciamento público o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), disse que as pessoas têm dez dias para resolver individualmente a forma como irão trabalhar. Atila Jacomussi (PSB), prefeito corrupto da cidade de Mauá, faz propostas irreais para que as empresas disponibilizem transporte fracionado, como Uber, para seus funcionários.
Os prefeitos da região nem consideram a única alternativa que de fato garantiria aos trabalhadores o direito à quarentena e combateria de forma efetiva a propagação do vírus: a suspensão imediata dos postos de trabalho da indústria, do comércio e de qualquer outra atividade que não seja essencial, sem que houvesse demissões ou reduções salariais, além de um plano de emergência para a garantia da sobrevivência dos trabalhadores autônomos e informais.
Em caso de urgência de saúde, como farão as pessoas mais pobres para deslocar-se até os hospitais, quando na maioria das vezes não há unidades de pronto atendimento próximas a elas? Orlando Morando chegou a dizer que em São Bernardo não há ninguém que não tenha condições de chegar até a Unidade de Atendimento de Saúde mais próxima sem utilizar o transporte público. De fato, fica claro que os prefeitos não conhecem a cidade onde vivem e a vida do nosso povo.
Não bastasse a falta de conhecimento sobre a vida do povo no ABC, a região padece com o despreparo, ineficiência e corrupção de seus governantes. Na cidade de Mauá, por exemplo, em meio à pandemia do COVID-19, a população sofre com a falta de atendimento e remédios em hospitais, UPAs e UBS. O município continua sem contrato específico para serviços de saúde após decisão da juíza da 3ª vara cível, que decidiu não dar seu aval no acordo judicial fechado entre Prefeitura e Fundação ABC, que gere a saúde pública da cidade.
Fruto da crise política ocasionada principalmente pelas prisões do prefeito Átila Jacomussi por casos de corrupção, uma dívida gigantesca da prefeitura com a Fundação ABC se instaurou, num impasse que levou à demissão de cerca de 300 funcionários, o que afeta profundamente o atendimento aos pacientes da saúde pública, revelando ainda a terrível face da precarização do serviço terceirizado. A tudo isso se soma outros fatores estruturais bastante graves no ABC, como falta de saneamento nos bairros mais pobres.
Além disso, quando pensamos a situação das mulheres, vemos que os problemas só aumentam. Com essa crise, elas veem recair sobre si o cuidado com as crianças, que estão com as escolas e creches paralisadas. Logo, com a paralisação do transporte terão ainda mais dificuldade de ir trabalhar, serão as primeiras a serem demitidas e a tendência é que não recebam nenhum apoio do poder público de nossa região, tendo em vista o descaso sistemático dessas prefeituras em relação à criação de políticas públicas destinadas às mulheres.
O fato é que os prefeitos da região se recusam a enfrentar o capital privado que continua explorando os trabalhadores em nome do lucro, mesmo em um cenário de pandemia e caos social, onde ir ao trabalho significa sofrer risco de morte e colocar em risco a vida das demais pessoas.
Orlando Morando, em mais uma declaração que mostra sua incoerência, disse que nesse momento é necessário defender a saúde da população e não os princípios econômicos, mas ao mesmo tempo permite que as empresas da cidade continuem obrigando os trabalhadores a se exporem ao risco.
A ATENTO, empresa de telemarketing que teve sua sede em São Bernardo interditada pela vigilância sanitária por expor os trabalhadores à condições propícias à contaminação com o Coronavírus e, mesmo assim, ignorou a interdição e obrigou os trabalhadores a continuarem no posto de trabalho. A prefeitura não tomou nenhuma atitude contra a empresa.
A realidade é que os prefeitos da região são todos financiados pelas grandes empresas, fazem o jogo dos ricos e jamais se posicionarão ao lado dos trabalhadores contra a exploração dos capitalistas. Prova disso é que Orlando Morando, que agora tenta passar como um defensor da saúde do povo, praticou nos últimos dois anos uma política sistemática de despejo e demolição de casas de famílias pobres, famílias essas que hoje estão na rua ou em moradias precárias e, por isso, ainda mais propensas a se contaminar com o CONVID-19.
Outro exemplo desta política genocida é o já citado Átila Jacomussi, que ao ser questionado em evento público se a prefeitura tomaria alguma providência junto à empresa responsável sobre a ausência de água na Casa Helenira Preta, uma ocupação promovida por movimento social para ser um espaço de referência e apoio às mulheres vítimas de violência, reagiu violentamente e fez com que seus seguranças expulsassem do local e ameaçassem fisicamente as mulheres que ali se manifestavam. Ou seja: são governantes que, além de não se importarem com a população mais pobre, perseguem e atacam aqueles que ousam questioná-los através da luta popular.
É necessário nos organizar para salvar vidas e evitar o completo colapso de nosso país. Isso passa por mobilizar os trabalhadores para cobrar medidas realmente efetivas dos governos, que impeçam não apenas a propagação do vírus, mas também o aumento da pobreza de nosso povo nessa situação de crise.