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domingo, 24 de novembro de 2024

A saída para a crise está no povo

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Por Felipe Annunziata
Rio de Janeiro

Com a chegada da pandemia de coronavírus, o governo do fascista Bolsonaro se empenha dia após dia numa política genocida de favorecer a todo custo a expansão da Covid-19 para não precisar paralisar a economia. Essa estratégia é bem clara e serve apenas para garantir as taxas de lucros da alta burguesia e do capital financeiro.

No entanto, a própria burguesia brasileira e internacional não tem claro se é esse o caminho a se tomar. Há burgueses que pensam que a única forma de salvar a economia é evitando um caos político e social sem precedentes que uma pandemia com milhões de mortos poderia causar; um outro lado pensa que o povo não faz parte dessa equação e que qualquer redução na produção significa um dano irreversível ao sistema. Essa divisão fica evidente no fato de que, ao mesmo tempo que vemos empresários bolsonaristas de carteirinha defenderem o fim da quarentena, vemos outros setores da classe dominante recusar essa estratégia e fortalecer o isolamento social.

Essa divisão se reflete também nas altas cúpulas do poder institucional do país. Por isso, vemos o Ministério da Saúde colocar em prática medidas que favorecem o combate à pandemia, enquanto o Ministério da Economia embarreira todas as medidas econômicas que venham em auxílio do povo pobre, o que na prática inviabiliza a quarentena para, pelo menos, 80% da população.

Com esse cenário conjuntural têm surgido inúmeros debates dentro da esquerda sobre o “Fora Bolsonaro”. Muitos defendem o impeachment, enquanto outros acreditam que a pressão social tem que ser para ele renunciar, já que um impedimento no meio da quarentena teria dificuldades de se concretizar. Há aqueles ainda que acham que não deve haver nem um nem outro, apenas que deve se ter o desgaste do governo com essa palavra de ordem, sem necessariamente derrubá-lo.

Isso tem feito com que setores da esquerda socialdemocrata tentem buscar a todo custo uma saída conciliatória. Em todas elas a alternativa é uma só: a manutenção de Bolsonaro como um presidente “figurativo” ou mesmo – acreditem! – o apelo para que o vice-presidente, o general fascista Hamilton Mourão, assuma e garanta alguma “estabilidade” para o país até as eleições de 2022, quando, supostamente, alguma liderança de esquerda teria a capacidade redentora de tirar os neoliberais do poder. Quer dizer, para esses setores o fascismo precisa ser derrotado sem tirar os fascistas do poder.

Mandetta faz mal à saúde

Uma das mais novas demonstrações dessa política é adesão de alguns setores e parlamentares à palavra de ordem “Fica Mandetta”. A mídia burguesa, de ideologia neoliberal, tem procurado evidenciar o racha dentro do governo, tentando mostrar que o ministro Henrique Mandetta é parte de uma fração “racional”, “moderada”, “democrata” do governo.

Muitos têm se enganado com a figura do ministro da saúde. Embora tenha se lembrado do seu diploma de médico e escutado os cientistas, Mandetta é um dos responsáveis pelo programa de desmonte do SUS do governo Bolsonaro. Foi sob o guarda-chuva de Mandeta que os médicos cubanos foram linchados moralmente, o que forçou o rompimento do acordo que tínhamos com Cuba que garantia cinco mil médicos em vários recantos do Brasil.

Foi no seu mandato como ministro que houve o corte de 2 bilhões do orçamento do SUS. Mandetta também fortaleceu como pode os planos de saúde, aproveitando a pandemia de coronavírus para liberar 10 bilhões de reais para o setor privado da saúde enquanto que para o SUS o ministério liberou 5 bilhões. Vale lembrar que, ao passo que os planos de saúde atendem apenas 20% da população, o SUS é responsável pelos 80% restantes.

Conciliação não é o caminho

Mas não é apenas o ministro da Saúde que esses setores da esquerda consideram seus “aliados táticos” no enfrentamento ao fascismo. Sobram elogios ao presidente da Câmara e amigo dos banqueiros Rodrigo Maia (DEM), ou mesmo aos governadores de direita como Wilson Witzel (PSC) e João Dória (PSDB). Embora esses personagens tenham aderido à fração da burguesia que defende o isolamento, não mudaram em nada sua postura neoliberal e anti-povo.

Witzel continua defendendo a privatização da água, colocando à venda a companhia estadual de água e esgoto (CEDAE) como condição para enfrentar a pandemia. Já Dória tem defendido que a polícia force os moradores de favela a irem para casa, mostrando que a quarentena para os pobres é na base da bala e do cassetete.

Rodrigo Maia na Câmara tem aprovado todas as medidas possíveis para ajudar os banqueiros. Exemplo disso é a tal PEC do “Orçamento de Guerra”, aprovada semana passada, em que autoriza o governo a dar dinheiro à vontade aos bancos em meio à pandemia.

São esses os aliados para derrotar o fascismo? Será que é numa votação do Congresso ou numa carta defendendo a troca do fascista titular pelo fascista reserva que derrubaremos Bolsonaro e o fascismo?

A saída é muito clara e este jornal tem procurado estampá-la diariamente em suas páginas online e impressas. A saída é a organização do povo. Só a luta do povo pode derrubar Bolsonaro e o fascismo. Essa luta não pode se limitar a tirar Bolsonaro para colocar Mourão ou o advogado dos banqueiros que ocupa a presidência da Câmara dos Deputados no lugar. A luta é para derrotar o fascismo e construir um governo popular.

Embriões desse poder popular se expressam na luta do povo para se defender da pandemia, criando organismos para garantir o apoio e a estrutura possível para sobreviver. É o caso das redes de solidariedade, como a que o Movimento de Luta nos Bairros (MLB) e outros movimentos têm feito, os gabinetes de crise que se formam nas favelas e associações de moradores, ou mesmo nas greves pela vida que inúmeras categorias protagonizam. É daí, e não dos gabinetes, que sairá a solução da crise.

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