Juliana Alves Alexandre
RIO DE JANEIRO – Neste mês de abril, completam-se 10 anos da tragédia no Morro do Bumba, em Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, quando um deslizamento de terra tirou a vida de 267 pessoas. Até hoje, apenas 48 corpos foram encontrados. Centenas de famílias também perderam suas casas nos morros dos Prazeres, Borel, Andaraí, Cerro Corá, Cosme Velho, Macacos, entre outros. O número de desabrigados ultrapassou os 11 mil em toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Mas será que o problema foram as chuvas ou a falta de planejamento urbano das cidades?
Dados do IBGE demonstram que 16,7% da população fluminense mora em casas que não têm acesso simultâneo aos três serviços de saneamento: coleta direta e indireta de lixo, abastecimento d’água por rede geral e esgotamento sanitário por rede coletora ou pluvial. Em relação à moradia, 13% da população do Estado do Rio de Janeiro reside em locais sem banheiro exclusivo do domicílio, em materiais não duráveis (barracos), em locais superlotados ou sofrem com o preço excessivo dos aluguéis.
Apesar de ser um dos estados da Federação com maior PIB, o Rio de Janeiro concentra quase 7% do déficit habitacional do país, que atualmente ultrapassa os 7,7 milhões de famílias (Pnad 2015).
Mas por que os governos não se antecipam ao problema e tomam medidas de prevenção que evitem novas tragédias como a do Morro do Bumba?
A verdade é que não há vontade política dos governos da burguesia de resolver os problemas do povo pobre. Ao contrário, zombam do nosso sofrimento. Foi o que fez o prefeito do Rio, o bispo Marcelo Crivella, quando culpou a população pelos deslizamentos após as fortes chuvas do começo de março deste ano. “Se as pessoas não jogarem lixo nas encostas, na beira do rio, e não jogarem lixo no bueiro, nós vamos ter muito menos problemas nas chuvas. A culpa é de grande parte da população, que joga lixo nos rios correntemente”, disse.
O prefeito não disse uma palavra, porém, sofre a falta de coleta de lixo em várias comunidades do Rio de Janeiro, a ausência de saneamento básico e a falta d’água na cidade.
Quando a culpa não é do povo, é da chuva, “que este ano veio mais forte”, segundo Crivella. Esse tipo de declaração é cínico e irresponsável, pois todos sabemos que existem formas de prever a aproximação de temporais.
Os governos dos ricos querem, na verdade, esconder do povo que é possível que famílias inteiras não percam tudo aquilo que construíram com muito esforço durante anos com suas próprias mãos; que é possível a garantia de ruas asfaltadas, com serviço de escoamento, tratamento e reaproveitamento destas mesmas águas das chuvas, coleta de lixo, moradia digna e condições decentes de vida. Enfim, é possível uma reforma urbana que garanta o direito à cidade para todos.