Lene Correia
Militante da UJR de Caruaru – PE e Diretora da UESC
No último 21 de setembro 2020, o governo do estado de Pernambuco através da secretaria de educação estadual em pronunciamento oficial, anunciou a volta às aulas para o próximo dia 06 de outubro do corrente ano.
Nada disso seria estranho se não estivéssemos vivendo em um contexto social adverso para toda a população, em especial para a classe trabalhadora que a cada dia tem seus direitos ceifados seja pelo governo seja pela situação de agravamento da qualidade de vida. Atualmente, o Brasil é o segundo país no mundo com mais casos do novo covid-19, atingindo atualmente, mais de 138 mil óbitos. O estado de Pernambuco não fica atrás, registrando 8.055 óbitos e mais de 142.488 casos. Apenas esses dados, seriam suficientes para que o novo slogan nacional “ O novo normal” não fosse aceito. Pois que normal pode ser este onde, mais de 138 mil vidas atingida de uma hora para outro. Num rompante!
Sob o manto de que nós, estudantes perderemos todo um ano letivo, tem se colocado sempre a “urgente” necessidade de voltar às aulas. Mesmo que isso venha a custa à vida de milhões de estudantes e de suas famílias. Sabemos que geneticamente, a faixa etária considerada jovem, tende a ser os mais assintomáticos( mesmo diante do também aumento de vítimas desse perfil).
Porém, estes mesmos jovens também, justamente por serem em grande parte assintomáticos tendem a transmitir o vírus para amigos, parentes e todo um ciclo social do qual estão inseridos. Isso resultaria em um aumento gigantesco do número de casos se assemelhando ao contágio de rebanho( quando a população é exposta ao vírus para a partir deste, adquirir a imunidade). Vale ressaltar que tal método de adquirir imunidade é totalmente rechaçado pela comunidade científica e de saúde mundial, como a Organização Mundial da Saúde- OMS.
A busca desenfreada por uma vacina se tornou uma disputa bélica
Nos noticiários vemos como meros telespectadores a corrida desenfreada pela busca da vacina “perfeita” onde os países imperialistas, como Alemanha, China e Estados Unidos estes últimos dois em especial, tem colocado a disputa do mundo, que antes era no setor econômico, bélico hoje também no farmacêutico. Não é de se estranhar que o setor farmacêutico figura entre um dos mais poderosos do mundo em companhia da construção civil, da indústria armamentista entre outras. Pois bem, criou-se uma especial competição, como tudo no sistema capitalista transforma a sua imagem e semelhança, não seria diferente nesse setor também. Onde, mais uma vez, o lucro está acima da vida.
Pois, sabemos que todas as vacinas e suas fórmulas serão logo patenteadas pelos gigantes do setor. Mesmo que todo o conhecimento científico adquirido, resultado de anos e por que não décadas de estudos e pesquisas dentro das universidades públicas e desenvolvidas a partir do ensino prático e pedagógico de professores, estudantes e cientistas. O resultado de tal política excludente, é que o povo em sua imensa maioria não terão acesso as doses das tais vacinas nem tão logo elas comecem a serem produzidas, já sabemos o endereço delas e certamente, não será a favela.
Mais diante de tudo isso, por que o governo de Pernambuco, assim como outros estados, insiste em volta às aulas sem nenhuma garantia de proteção para os estudantes, professores e suas famílias?
Vejamos, recentemente o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco (SINEPE-PE) recorreu várias vezes a justiça, além de toda uma campanha frente a sociedade e ao governo do estado, para haver o retorno as aulas. É sabido também que por trás de tais atitudes está à educação como forma mercantilista, onde muitas, por sua vez, queriam ter continuado a cobrar o valor integral das já abusivas mensalidades como correu em Caruaru, onde o próprio ministério público precisou intervir para que fossem pagos apenas 50% dos valores das mensalidades. Logo isso, foi sem dúvida um prejuízo sem tamanho aos olhos do setor privado educacional.
Por fim, o setor da educação privado segue cada vez mais alinhado com a política do sucateamento da educação pública e da sua consequência privatização. Atualmente existem vários bancos que sob faixadas de ONGs e organizações filantrópicas visam se apoderar desse espaço. Vejamos alguns exemplos, o Instituto Ayrton Senna, Todos pela Educação e a Fundação Leman. Este último pertencente a um dos homens que junto a outros cinco bilionários, detém a riqueza equivalente a 100 mil pessoas no Brasil! Agora, como é possível que alguém tão rico, as custas de tanta exploração, possa agora querer contribuir para essa educação? Para esses 100 mil explorados? A lógica é, quanto mais o estado perder o controle, o modelo baseado ( ainda que não seja o suficiente) de inclusão educacional melhor. Até o ponto que estas instituições ditarão o modelo educacional que iremos ter. Onde apenas quem puder pagar por ele terá acesso.
Basta ver no âmbito do ensino superior, onde recente o projeto Future-se, veio a público. Este, com o intuito de privatizar toda a educação superior e destruir toda a Universidade pública do nosso país. Onde a presidente da Associação Nacional Universidades Privadas – ANUP, é a senhora Elisabeth Guedes, irmã do então, ministro da economia, Paulo Guedes. Mostrando que pir detrás, de toda essa propaganda em prol da educação há todo um financiamento por parte de bancos como o Itaú através da Fundação Itaú Social, o banco Votorantim com o Instituto Votorantim, banco Bradesco e a fundação Bradesco entre outros.
E nós, estudantes da rede pública. Como ficamos?
Atualmente Pernambuco registra de acordo com a edição de 2019 do Censo Escolar, do Ministério da Educação (MEC). Em todo o ensino médio, 335 mil estudantes. A educação básica em Pernambuco tem 2,1 milhões de alunos. Desses, a grande maioria é do ensino público. Onde vale salientar que as escolas, mesmo as de ensino integral não tem preparo para receber estes estudantes a essa “nova rotina“ que nos tem sido imposta. A realidade das escolas é bem gritante, como falta de água potável, bebedouros com ferrugem ou mesmo banheiros e pátios sem pias. Muitas salas de aulas são pequenas e sem ventilação, além de sofrerem com a superlotação, com salas com capacidade para 30 estudantes, chegarem a abrigar 40, 50.
Chamamos a sociedade para tal reflexão, de como é possível em meses ou semanas transformar essa realidade educacional resultado de séculos de um projeto político imposto pelas classes dominantes e por governos, serem resolvidas assim, tão logo? Como garantir que estudantes das comunidades mais distantes, nas zonas rurais ou mesmo as das escolas das grandes periferias tenham acesso a educação, a inclusão e ao saneamento/higiene e antes de tudo a prevenção? Em um país chamado Brasil onde a medicina tem sido paliativa e não preventiva, está em busca do lucro acima da vida, mais uma vez.
Sabemos que um ano letivo é possível recuperar, foi assim em épocas de guerras, pandemias e desastres naturais ao longo da história da humanidade. Porém, também é sabido, que com a pandemia do novo corona vírus mais de 138 mil vidas não voltarão pra suas casas, escolas, universidades e trabalhos. Que 138 mil vidas de pais, mães, filhos e netos não serão mais devolvidas e que toda uma geração está fadada a se esvair também se de fato o governo não passe a cumprir protocolos que tem sido estabelecidos por parte dos órgãos competentes.
Enquanto o governo e seus aliados não pararem de agir com retóricas pífias e negacionistas e passar a adotar medidas realmente cabíveis e de origem de prevenção para que não se contamine, garanta o acesso imediato ao tratamento para aqueles que adoecem. E isso perpassa pela garantia da continuidade do isolamento social, pelo aumento do auxílio emergencial e por sua ampliação como garantia de sobrevida ao povo pobre e trabalhador deste país.! Por isso, cerramos punho bem alto em favor da vida e de sua preservação através da luta diária em defesa da vida e do acesso a educação e a saúde como bandeiras de luta, intrínseca a vida.