Vladimir Lênin
Extrato do discurso “As Tarefas das Juventudes Comunistas” em 1920
MOSCOU (RÚSSIA) – Diz-se que a velha escola era uma escola livresca, uma escola de adestramento autoritário, uma escola de ensino memorizador. É verdade, mas tem que se saber distinguir, na velha escola, o que é mau do que é útil. Há que saber escolher o indispensável para o comunismo.
A velha escola era livresca, obrigada a armazenar uma quantidade de conhecimentos inúteis, supérfluos, mortos, que obstruíam o raciocínio e transformavam a geração jovem num exército de funcionários talhados todos pelo mesmo padrão. Mas concluir daí que se pode ser comunista sem haver assimilado o tesouro de conhecimentos acumulados pela humanidade, seria cometer um erro. Enganar-nos-íamos se pensássemos que basta saber os lemas comunistas, as conclusões da ciência comunista, sem ter assimilado a soma de conhecimentos que deram origem à teoria do comunismo.
O marxismo é um exemplo de como o comunismo se enraíza da soma de conhecimentos adquiridos pela humanidade.
Já terão lido e ouvido que a teoria comunista, a ciência comunista, criada principalmente por Marx, que esta doutrina do marxismo deixou de ser obra de um só socialista do século XIX realmente genial, para transformar-se na doutrina de milhões e dezenas de milhões de proletários do mundo inteiro, que se inspiram nessa teoria como base da sua luta contra o capitalismo. E se perguntarem porque é que a doutrina de Marx conquistou milhões e dezenas de milhões de adeptos na classe mais revolucionária, terão uma só resposta: é porque Marx se apoiava numa sólida base de conhecimentos humanos, adquiridos sob o capitalismo.
Ao estudar as leis do desenvolvimento da sociedade humana, Marx compreendeu o caráter inevitável do desenvolvimento do capitalismo que conduz ao comunismo, e – o que é essencial – demonstrou-se baseando-se exclusivamente no estudo mais exato, mais detalhado e mais profundo dessa mesma sociedade capitalista, assimilando plenamente tudo o que a ciência alcançara até então.
Marx analisou tudo o que havia criado a sociedade humana, com espírito crítico, sem desprezar um só ponto. Analisou tudo o que havia criado o pensamento humano, submetendo-o a crítica, e comprovando-o na prática por intermédio do movimento operário; formulou a seguir conclusões que os homens que se encontravam encerrados nos limites estreitos da estrutura burguesa, ou encadeados pelos preconceitos burgueses, não podiam extrair.
Há que recordá-lo quando falamos, por exemplo, da cultura proletária. Se não nos apercebemos de que só se pode conceber essa cultura proletária conhecendo exatamente a cultura que a humanidade criou no decurso da sua evolução e que foi elaborando gradualmente, se não tivermos consciência desse fato, não poderemos esquecer esse problema.
A cultura proletária não surge de fonte desconhecida, não brota do cérebro dos que se chamam especialistas na matéria. Seria absurdo pensá-lo. A cultura proletária origina-se, forçosamente, a partir do desenvolvimento lógico do conjunto de conhecimentos conquistados pela humanidade sob o jugo da sociedade capitalista, da sociedade dos latifundiários e dos burocratas.
Estes são caminhos e os atalhos que encaminharam e continuam encaminhando em direção à cultura proletária, do mesmo modo que a economia política, transformada por Marx, nos mostrou onde haverá de chegar a sociedade humana, indicou-nos o rumo da luta de classes, do desabrochar da revolução proletária.
É frequente ouvirmos, tanto a representantes da juventude quanto a certos defensores dos novos métodos de ensino, atacar a velha escola, dizendo que somente fazia aprender de cor os textos e, então, a isto lhes respondemos que, apesar disso, é preciso tirar dessa velha escola tudo o que tinha de bom.
Não há que imitá-la sobrecarregando a memória dos jovens com um peso desmedido de conhecimentos (90% inúteis) e, aliás, alienados do seu contexto; mas daí não se infere, de modo algum, que possamos contentar-nos com conclusões comunistas e limitar-nos a aprender de memória os lemas respectivos. Deste modo não chegaríamos jamais ao comunismo. Para se chegar a ser comunista, tem que se enriquecer a memória com os conhecimentos de todas as riquezas criadas pela humanidade.
Não queremos um ensino mecânico, mas necessitamos desenvolver e aperfeiçoar a memória de cada estudante dando-lhe fatos essenciais, pois de outra forma o comunismo seria uma extravagância e ficaria reduzido a uma fachada vazia; o comunista seria apenas um fanfarrão, se não compreendesse e assimila todos os conhecimentos adquiridos. Não só vocês devem assimilá-los, como fazê-lo em forma crítica, com o fim de não amontoar no cérebro um fardo inútil, mas de enriquecê-lo com o conhecimento de todos os fatos, sem os quais não é possível ser um homem culto na época em que vivemos.