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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Projeto de escolas cívico-militares avança durante a pandemia

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ALIENAÇÃO – escolas cívico-militares são baseadas no ensino da obediência cega, pensamento único e subserviência à elite (Foto: Reprodução)

Lucas Marcelino

SÃO PAULO – No período de um ano desde a chegada da Covid-19 ao Brasil, o Governo de Jair Bolsonaro não foi capaz de construir um único hospital público no país para aumentar a quantidade de leitos destinados ao tratamento dos brasileiros que se amontoam nas filas em busca de uma vaga de UTI, no entanto, no mesmo período, implementou 51 escolas cívico-militares ao gasto de R$54 milhões, mesmo com as atividades presenciais das escolas paralisadas em muitos estados. 

A farsa da educação cívico-militar

Há quase três mil anos atrás, a cidade de Esparta organizou o primeiro sistema educacional do ocidente, com algumas características que foram herdadas pelos sistemas de educação do presente. Tratava-se de um sistema controlado pelo Estado, com participação de toda a sociedade na educação das crianças e que tinha como principal objetivo manter a soberania militar da cidade sobre outros povos e territórios, submetidos à conquista através da guerra; para isso o sistema educacional abria mão do ensino das artes, literatura, filosofia e ciência e focava-se em anos de treinamento físico, de manejo de armas e manobras militares.

Plutarco faz um importante resumo desse sistema educacional: “em relação à instrução, eles recebiam apenas exatamente o que era estritamente necessário. Todo o restante de sua educação tinha em vista torná-los sujeitos ao comando, a suportar os trabalhos, a lutar e conquistar”.

As escolas militares de hoje ainda aplicam um modelo parecido com este, usando o homem espartano como sinônimo de bravura, vigor, tenacidade e respeito às leis. Trata-se de um meio para implantar na consciência da população mais pobre um modelo de cidadão submisso, que não luta por seus direitos ou pela verdadeira justiça.

 Educação libertadora para os ricos, militar para os pobres

No início do século XX diversas propostas pedagógicas foram formuladas na busca por desenvolver integralmente o ser humano, ficando conhecidas como “Escola Nova”. A principal inovação foi possibilitar uma educação que, além das qualidades para o trabalho e para os estudos futuros, desenvolvesse o ser humano para a atuação na sociedade, como cidadãos e cidadãs conscientes que pudessem intervir e transformar para melhor a realidade.

Ficaram conhecidos os métodos desenvolvidos por John Dewey, Maria Montessori, Nadejda Krupskaya, Paulo Freire, entre outros(as). Tais métodos são muito admirados pelos grandes pensadores e intelectuais, assim como pela população que teve a oportunidade de experimentá-los, na mesma medida em que são odiados pela elite reacionária e seus regimes autoritários.

No Brasil, escolas inovadoras e diferenciadas são implantadas com mensalidades que vão de R$2 mil a mais de R$10 mil; seu público são os filhos do ricos, que querem uma educação que os prepare para dar continuidade aos negócios da família, com os desafios e inovações que têm surgido na sociedade e na economia com o aprofundamento da crise do sistema capitalista.

Ao mesmo tempo, para os pobres, são implantadas as escolas cívico-militares, enfiadas goela abaixo de governos, prefeituras e comunidades em troca de verbas e apoio político aos responsáveis e sob um falso discurso de melhoria na qualidade de ensino. A preocupação dos defensores de tais escolas com a qualidade é tão falsa que eles ignoram completamente as escolas públicas com maior excelência no Brasil hoje, os Colégios de Aplicação e os Institutos Federais; estes possuem melhores resultados que os colégios militares com menos investimento mas, no entanto, têm tido suas verbas cortadas e são cada vez mais precarizados pelo atual Presidente da República e pelo Ministério da Educação.

Se a educação militar é tão boa, por que não é aplicada aos filhos dos ricos?

As escolas da elite estão incentivando cada vez mais a criatividade, liberdade de pensamento, inovação, liderança e aulas focadas em administração, tecnologia, sociologia, artes e ciências, entre outros conhecimentos importantes para entender e intervir na sociedade e desenvolver tecnologias que gerem mais riqueza.

Já na escola cívico-militar é incentivada a disciplina e a obediência cegas, o autoritarismo, o pensamento único e alinhado ao governo atual. Nada de conhecimento, apenas atitudes que mantenham a ordem social e não permitam o desenvolvimento da consciência política e de uma possível revolta popular.

De fato, hoje, as propostas pedagógicas que surgiram pelo esforço de pensadores e pensadoras em produzir mudanças sociais e criar oportunidades para as classes oprimidas, estão sendo aplicadas para aumentar ainda mais o potencial da burguesia de explorar o povo, enquanto para este último, sobra uma educação alienante, que apenas o ensina a obedecer. Por isso o povo pobre, que adquiriu consciência sendo educado pela própria vida, deve lutar contra a implantação das escolas cívico-militares e pela transformação da educação pública, para que ela seja libertadora e fonte de conhecimento, ajudando na construção da luta pelo socialismo em nosso país.

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