O apagão das redes de Zuckerberg trouxe – além de instabilidade para aqueles que necessitavam destas ferramentas de trabalho – muita ansiedade para os internautas, acendendo um alerta sobre a necessidade de “desacelerar” e rever o uso que fazemos das chamadas “redes sociais”.
Mayara Gentil e Victor Castro
Rio de Janeiro
JUVENTUDE – Semanas atrás (04/10/2021), o mundo foi pego de surpresa pela queda repentina de três das principais redes sociais da internet. O WhatsApp, Instagram e Facebook ficaram por sete horas fora do ar, retornando lentamente à normalidade por volta das 19h de Brasília. O pane global gerou um prejuízo bilionário para o dono desse monopólio, o norte-americano Mark Zuckerberg, que, em menos de duas semanas, recuperou metade do valor perdido. Contudo, o mesmo não pode ser dito das pessoas que utilizam suas “redes sociais” como fonte de renda.
Não é a primeira vez que ocorre uma queda como essa. Muitas redes e serviços online já sofreram panes em seu funcionamento. Porém, essa foi a primeira vez em que as três redes mencionadas ficaram fora do ar ao mesmo tempo. O incidente é uma oportunidade para debater o monopólio de serviços utilizados por bilhões de pessoas nas mãos de um único indivíduo.
De acordo com o ranking em tempo real de bilionários da Forbes, Zuckerberg perdeu com a pane cerca de US$ 6 bilhões (aproximadamente 33,5 bilhões de reais), “rebaixando” sua fortuna para US$ 116,8 bilhões (653,5 bilhões de reais). Mesmo assim, o dono do Facebook é a sexta pessoa mais rica do planeta.
Diferente de Zuckerberg e de seus amigos bilionários, a maior parte da população tem que trabalhar muito para suprir suas necessidades e gastos básicos; qualquer mínimo prejuízo pode significar uma conta não paga no final do mês. Não é incomum vermos, por exemplo, pessoas que fazem doces e bolos, salgados e lanches por encomenda, artesãos e artistas de diversas áreas que se comunicam com seus clientes por essas redes, utilizando-as para promover seus negócios e ter uma fonte de renda. Com a pandemia, esse cenário se ampliou. O chamado home office foi adotado por inúmeras empresas e pessoas.
Praticamente toda a demanda de serviços dessas pessoas depende das redes do Sr. Zuckerberg. Por isso, o debate sobre o monopólio dos meios de comunicação é tão importante, sejam as grandes mídias de televisão e cinema ou as multinacionais que comandam a internet. Estas últimas, em especial, se mostraram também muito eficientes em influenciar e manipular os debates políticos e ideológicos através de seus algoritmos, promovendo ideias reacionárias e bombardeando seus usuários com conteúdos voltados para as inclinações políticas da extrema direita, como ocorreu nas eleições de Donald Trump, nos EUA, e de Bolsonaro, no Brasil.
Além dos algoritmos, os chamados “bots” (robôs virtuais que simulam ações humanas nas redes sociais) também são utilizados para promover esses grupos ultraconservadores, disseminando mentiras e destruindo a reputação de adversários. Esses algoritmos e bots mantêm conteúdos e pessoas com alto engajamento enquanto diminui o alcance de usuários pequenos, que começaram recentemente e/ou têm poucos recursos. Assim como na vida real, na internet, quem está em cima sobe e quem está em baixo desce.
O apagão das redes de Zuckerberg trouxe – além de instabilidade para aqueles que necessitavam destas ferramentas de trabalho – muita ansiedade para os internautas. Nas redes que continuaram funcionando, algumas das palavras mais vistas eram “ansiedade”, “surtando”, etc. Durante a pandemia, muitos de nós ficamos ainda mais reféns das redes. É uma relação de dependência, tal como um vício.
A professora Lilian Carvalho, coordenadora do Centro de Estudos de Marketing Digital da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que as redes sociais proporcionam uma antecipação do prazer, o que possibilita, neste caso, essa relação de dependência.
A liberação de dopamina é a responsável por isso, pois o estímulo que obtemos através dos vídeos rápidos, por exemplo, fascina e nos faz querer ver mais e mais. A professora defende que, se nos sentimos frustrados e ansiosos com a queda das redes no dia 04/10, é um alerta para desacelerar.
Mas como “desacelerar”? Por onde começar? Entrevistada pelo G1 sobre como “desacelerar”, a Lilian respondeu: “Pensa assim: se tem problema de diabetes, não pode comer açúcar. Para não sofrer com tentação, tira da frente, não compra o produto, porque é muito difícil se conter. Então, é tentar deixar a coisa mais difícil”.
Logo, uma maneira de “desacelerar” é evitar estar sempre com o celular por perto, estabelecer uma rotina limitadora do uso das redes sociais e, em certo casos, simplesmente deixar de usá-las.
De fato, artigo publicado no jornal A Verdade, em abril de 2020, revelou estudo promovido pelas universidades de Nova Iorque e Stanford, nos Estados Unidos, que concluiu que “sair das redes sociais faz bem à saúde”.
A verdade é que o monopólio capitalista dos meios de comunicação nos faz deixar de perceber o quanto seu uso excessivo nos afeta. A queda do WhatsApp, Facebook e Instagram de certo modo nos recorda como estamos com a nossa saúde mental nas mãos dos grandes bilionários. Entre muitas tentativas para “ficar bem”, percebemos que nem mesmo o mínimo se tratando de saúde mental está em nossas mãos no capitalismo.