Ex-capitão será o primeiro presidente desde a criação do Real a terminar gestão com salário mínimo valendo menos do que quando iniciou o governo
HERON BARROSO
Rio de Janeiro (RJ)
Os trabalhadores brasileiros não têm nenhum motivo para ficarem satisfeitos com o governo do fascista e adorador da ditadura Jair Bolsonaro (PL). Desde que o ex-capitão chegou à Presidência, uma série de direitos trabalhistas, como a aposentadoria, foram destruídos e as condições de vida da imensa maioria do povo pioraram.
Enquanto a família do presidente e os generais que mandam em seu governo compram mansões e enriquecem às custas dos esquemas de rachadinhas, superfaturamento na compra de vacinas, corrupção nos ministérios e dinheiro público usado para comprar leite condensado e Viagra, a população sofre com a inflação fora de controle, os preços dos alimentos, dos combustíveis, do aluguel, do gás e da luz crescendo sem parar e um arrocho salarial que há muito não se via no Brasil.
De fato, há três anos, o salário mínimo não é reajustado acima da inflação, prejudicando milhões de trabalhadores e aposentados, especialmente os mais pobres. Dessa forma, Bolsonaro será o primeiro presidente da República a terminar o mandato com um salário mínimo com menor poder de compra do que quando iniciou o governo, desde o Plano Real, em 1994. Nesses 28 anos, nem mesmo FHC ou Michel Temer entregaram um salário mínimo mais desvalorizado que o falso Messias.
Ao todo, a perda será de pelo menos 1,7%. Ou seja, descontada a inflação, o piso cairá de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37, entre dezembro de 2018 e dezembro de 2022. Isso se a inflação não continuar subindo ainda mais, como apontam as previsões. Nesse caso, as perdas serão ainda maiores.
Mas, enquanto congela o salário dos trabalhadores, Bolsonaro é generoso quando o assunto é seu próprio salário. No ano passado, o ex-capitão autorizou um reajuste de até 69% para si próprio e para membros do alto escalão de seu governo. Com isso, ele passou a receber R$ 41,6 mil para “trabalhar” menos de quatro horas por dia, sem contar o que esbanja com o cartão corporativo da Presidência, mantido sob sigilo.
Em apenas 35 dias, de 1º de abril a 5 de maio deste ano, Bolsonaro gastou R$ 4,2 milhões fazendo motociatas, passeando de lancha e pregando um novo golpe militar no Brasil. Esse valor equivale a mais de 3.500 salários mínimos. Em outras palavras, enquanto para os investimentos em saúde, moradia e educação o governo defende teto de gastos e “responsabilidade fiscal”, para bancar as mordomias do presidente o céu é o limite.
Salário de fome
O salário mínimo é um direito previsto na Constituição, mas nenhum governo jamais estabeleceu um valor digno para os trabalhadores, pois a prioridade para eles são os lucros da burguesia e dos banqueiros.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o valor ideal do mínimo nacional deveria ser de R$ 6.754,33 (em abril). É mais que cinco vezes o valor atual, de R$ 1.212,00. Esse seria o necessário para sustentar com dignidade uma família de quatro pessoas, considerando gastos com moradia, transporte, alimentação, saúde, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência.
Porém, o Governo Bolsonaro nega essa dignidade à maioria dos trabalhadores brasileiros, apesar de serem eles quem realmente constroem toda a riqueza do país.
Atualmente, 33,8 milhões de pessoas recebem até R$ 1.212,00, cerca de 36% da população. Esse é o maior contingente já registrado pelo IBGE desde 2012. São milhões de trabalhadores, boa parte deles no mercado informal ou subempregados, para quem, muitas vezes, o dinheiro conseguido ao longo do mês não chega sequer ao valor do mínimo.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral, do IBGE, 21,9 milhões de trabalhadores tiveram renda entre meio e um salário mínimo no trimestre encerrado em dezembro de 2021. Outros 9,6 milhões receberam até meio salário mínimo e 2,2 milhões não receberam absolutamente nada. Nas principais regiões metropolitanas do país, 23,6% da população vive em lares cuja renda média per capita do trabalho é de até um quarto do salário mínimo, ou seja, cerca de R$ 300,00. Como sobreviver dessa forma?
Para piorar, a disparada da inflação, que levou o preço dos alimentos que fazem parte da cesta básica subir 21,46% nos últimos 12 meses, acabou com o poder de compra dos trabalhadores.
Essa situação tem levado milhões de pessoas a sobreviverem fazendo bicos, recolhendo material reciclado nas ruas ou pedindo dinheiro nos sinais, apesar de o Brasil ser um dos países mais ricos do mundo. “Eu só ganho o suficiente para não morrer de fome mesmo. O dinheirinho é para comprar uma mistura e o leite da minha filha”, explica Joel Batista do Nascimento, que trabalha catando latinhas no Rio de Janeiro.
Reajustes abaixo da inflação
Outra expressão do arrocho salarial promovido por Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, é revelada pelo levantamento do projeto Salariômetro, da Fipe, que aponta que 90,5% das negociações salariais ficaram abaixo da inflação oficial em 2021. Em outras palavras, isso significa que apenas 9,5% das negociações resultaram em ganho real para os trabalhadores. Dessa forma, os grandes patrões aumentam seus lucros e ficam mais ricos.
De fato, como denunciou A Verdade em sua edição de novembro do ano passado, em apenas três meses, as grandes empresas lucraram 1.000%. A alta dos preços e a redução dos salários são consequências diretas da Reforma Trabalhista e da desastrosa política econômica do Governo Bolsonaro, que tem como objetivo transformar a vida dos ricos em um paraíso e a dos pobres em um inferno.
Mas, além disso, o que está por trás da crise é o fato de o Brasil ser um país dominado por uma minoria de ricos capitalistas, banqueiros e especuladores nacionais e internacionais, que exploram nossas riquezas, roubam os cofres públicos e jogam na fome e no desemprego a maioria do povo.
Contra tudo isso devem os trabalhadores se unir e lutar, fazer greves e arrancar dos patrões reajustes salariais que efetivamente tragam ganhos reais, impedindo que o preço da crise seja pago apenas por quem vive do próprio trabalho. Como muito bem disse Leonardo Péricles, pré-candidato à Presidência da República pela Unidade Popular (UP), para o povo ser feliz de verdade “é preciso lutar por uma revolução que ponha fim à escravidão assalariada do capitalismo”, hoje defendida a ferro e fogo por Bolsonaro e seus generais.