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domingo, 22 de dezembro de 2024

Estudantes se mobilizam contra os cortes na educação

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Lucas Kenji | Porto Alegre


JUVENTUDE – No início deste mês, os estudantes do Brasil inteiro descobriram que as suas bolsas e auxílios estudantis foram bloqueadas, junto com a verba das instituições federais. O ministério da economia de Paulo Guedes decretou, sem aviso prévio, mais esse bloqueio arbitrário sobre o orçamento definido pelo próprio governo.

Na UFPel (Pelotas), na região Sul do RS, estudantes ocuparam o prédio do Campus ICH-2 em protesto contra os bloqueios. Os principais relatos vêm dos estudantes que dependem dos auxílios para custear a moradia na cidade. “Virou uma bola de neve, você ter que tirar dinheiro de outros lugares para pagar os juros do aluguel atrasado. Aí, essa galera ficaria na rua”, explica a estudante Mariana Yu.

“Na FURG (Rio Grande) todos os alunos, tanto de graduação quanto pós-graduação, tiveram suas bolsas cortadas. Além disso, a Universidade não está pagando o RU. No Campus Carreiros, a empresa consegue manter o funcionamento com o seu próprio caixa, mas nos campi de Santa Vitória do Palmar, Santo Antônio da Patrulha e São Lourenço do Sul, não tem alimentação”, relata Vitória Novo.

Em instituições privadas ou comunitárias, os estudantes precisam mobilizar-se para conseguir o mínimo de solidariedade. “Na Universidade de Passo Fundo (UPF) tem estudantes de pós-graduação que ainda não receberam as bolsas, mas a reitoria estava ignorando o que está acontecendo no país. Significa que os estudantes, que usam a bolsa para pagar a mensalidade, teriam que pagar juros. Foi preciso que a APG (Associação de Pós-Graduandos) do curso de História pressionasse a reitoria para conseguir a suspensão dos juros,” explica o estudante Leonardo de Carvalho.

Na Unisinos, que é uma universidade privada, os estudantes já estavam desesperados com a notícia do fechamento de programas de pós-graduação (PPGs) antes mesmo dos bloqueios de verbas. “Desde 2019, discute-se o fechamento de PPGs. No início deste mês, teve uma assembleia legislativa e foram fechados 12 dos 26 PPGs que a Unisinos oferecia. Mas a Unisinos não divulga nada sobre como ou quando isso deve acontecer, não divulga nenhuma data,” relata Hange Martyl.

Ainda, os estudantes dos cursos de saúde precisam preocupar-se não somente com os auxílios que recebem da Universidade, mas também com as verbas da saúde, que também sofrem com bloqueios. “Existe um estoque de suprimentos para trinta dias. Depois disso, se não for devolvida a verba bloqueada, esse material não está garantido,” explica Thairine Farias, que atua no Centro Estudantil de Biomedicina (CEBIOM) da UFRGS.

Segundo o jornal GZH, o Hospital de Clínicas (HCPA) e o Conceição (GHC) em Porto Alegre tiveram R$ 35,4 milhões bloqueados pelo Ministério da Economia de Paulo Guedes. “Se não tiver luz, o Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) não tem como preservar as culturas de seres vivos que estão sendo pesquisadas.”

Thairine analisa que os bloqueios de Paulo Guedes servem para beneficiar as empresas privadas de ensino e de saúde. “Bolsonaro transferiu muitos recursos da saúde pública para as organizações privadas, promovendo dessa forma vários escândalos de corrupção, os esquemas de venda ilegal de vacinas eram apenas um exemplo disso.”

Os estudantes de pós-graduação do Brasil inteiro ficaram sem conseguir pagar seus aluguéis e boletos, pois geralmente o contrato das bolsas exige dedicação exclusiva à pesquisa. Ou seja, esses estudantes não podem ter outra fonte de renda.

“Alguns ficaram sem ter o que comer, dependendo de doações de cestas básicas de professores e colegas. Ficaram também sem dinheiro para a passagem para que pudessem chegar na Universidade. Depois, a maior parte das bolsas foi sendo paga, mas muitas já estavam vencidas. Agora, os estudantes têm que pagar as multas e juros das contas atrasadas e o dinheiro não dá conta,” conta Lucas Beraldo, representante da APG UFRGS.

Em 1995, uma bolsa de mestrado equivalia a sete salários mínimos; mas hoje, devido a longos períodos sem nenhum reajuste, ela vale pouco mais de um salário mínimo. Alguns estudantes, com o intuito de explicitar que a bolsa é necessária para a subsistência, e que muitos são obrigados a abandonar o curso se o dinheiro não chega no início do mês, têm levantado a palavra de ordem “bolsa é salário”.

A verdade é que somos tratados pela universidade ora como trabalhadores, ora como estudantes: com efeito, a principal demanda de longa data dos pós-graduandos na UFRGS é a inclusão na assistência estudantil, na casa de estudante e nos auxílios para alimentação, transporte e saúde. Hoje, não temos direito a nada disso, porque a pós-graduação não está contemplada no PNAES.

Entendendo que a conjuntura presente exige que o movimento estudantil volte às suas bases, o movimento Correnteza passou a última semana organizando plenárias, rodas de conversa, bem como leituras do Jornal A Verdade, em todas as entidades em que atua, como a APG UFRGS, DACOMP (Diretório Acadêmico da Computação) e DAFA (DA da Faculdade de Arquitetura).

O movimento Correnteza exige da reitoria da UFRGS transparência sobre o orçamento e sobre os impactos dos cortes e bloqueios do Governo. O movimento também coloca que as fundações e outras entidades privadas, que usufruem da universidade pública, contribuam com a assistência estudantil caso a UFRGS fique sem verbas.

Além disso, os estudantes construíram a campanha de solidariedade “Natal sem fome e sem cortes”, arrecadando doações e cestas básicas para garantir a subsistência daqueles estudantes mais afetados, trazendo para dentro da universidade a campanha do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) contra a fome.

Aos poucos, os estudantes têm voltado a receber as suas bolsas, demonstrando definitivamente que o Governo Federal tem medo dos estudantes quando estes encontram-se unidos e mobilizados. Mas o bloqueio das verbas das universidades continua. Não sabemos até quando a universidade conseguirá pagar as contas de água e luz ou manter os empregos dos servidores.

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