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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Greve para Chile contra privatização da educação

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Pela Constituição chilena é terminantemente proibido o lucro na educação. No entanto, as instituições de ensino superior do país são todas pagas, mesmo as instituições públicas, herança da ditadura de Pinochet (1973-1990), levando os estudantes a ficarem endividados antes mesmo de terminarem a faculdade. Ao todo, o Chile tem mais de um milhão de estudantes universitários num país de 17 milhões de habitantes.

É dentro desse cenário que ocorre uma das principais mobilizações dos estudantes chilenos. Ao longo dos últimos três meses, estudantes secundaristas e universitários têm se mobilizado para cobrar mudanças no sistema educacional chileno, na busca de uma educação gratuita e de qualidade, garantindo-a como um direito social humano universal.

“Fim ao lucro” é uma das palavras de ordem mais presentes em faixas, bandeiras e nas ocupações, que já atingem mais de 700 escolas e praticamente todas as principais universidades do país. A ampla participação estudantil tem chamado atenção de todo o mundo, e a postura intransigente do governo Sebastián Piñera transformou a bandeira da educação pública num grande enfrentamento político entre o governo e o povo chileno.

Nos dias 24 e 25 de agosto, foi convocada uma greve geral pelas centrais sindicais em apoio às reivindicações de educação pública e gratuita e contra a política econômica. Um milhão de pessoas foram às ruas convocadas por um total de 82 organizações sindicais, estudantis, de professores e de direitos humanos. No aeroporto de Santiago, os trabalhadores aderiram à paralisação, que aconteceu ainda na saúde, na distribuidora de energia Chilectra e na maioria dos serviços públicos como correios, previdência social e bibliotecas, entre outros órgãos. Como expressão dessa luta, 33 jovens decretaram greve de fome, na tentativa de sensibilizar o governo para as negociações.

As manifestações estudantis desencadearam um rico processo de união e mobilização de todo o povo, e isso já tem criado efeito na própria imagem do governo, que, pouco mais de um ano depois de tomar posse, tem um índice de aprovação de apenas 26%. Mas, demonstrando todo o seu desprezo com as reivindicações populares, o governo de Piñera tem mobilizado um grande aparato repressivo e entrado em choque com os estudantes, mesmo fora das manifestações, perseguindo-os em especial nos bairros pobres de Santiago. Várias são as cenas de agressão e violência protagonizadas pela polícia chilena, deixando cada vez mais claro o caráter de classe do Estado e seus interesses e mais de 1.000 estudantes estão presos.

No dia 26 de agosto, em Santiago, um jovem de 16 años, Manuel Gutiérrez, foi assassinado pela policía chilena quando participava de uma manifestação. Segundo uma testemunha, um policial realizou três disparos, dos quais um foi no peito de Manuel. Merina Reinoso, mãe do adolescente, também confirmou o crime “as pessoas que estavam com meu filho são testemunhas de que foram os policiais quem dispararam”.

Falando a imprensa, a líder estudantil Camila Vallejo, de 23 anos, ameaçada de morte recentemente, disse que os protestos vão continuar até que o governo atenda às exigências dos estudantes. “Já não nos serve este modelo neoliberal, que tem por finalidade o lucro e o negócio de uns poucos. Nós cremos que é necessário avançar para um sistema igualitário e de uma projeto para educação que possa pensar um país novo. Queremos um país livre, justo, democrático e igualitário. E para isso necessitamos de uma educação de qualidade para todos”, afirmou a dirigente da Federação dos Estudantes da Universidade Chilena (FECH).

O “inverno chileno” promovido pela juventude do país é mais uma prova da disposição de luta da juventude, e de que os efeitos da crise – que aumentam o desemprego e exigem dos governos o corte dos investimentos nas áreas sociais – só serão vencidos com a mobilização popular, para que se possa, de uma vez por todas, dar um basta ao regime do lucro e da exploração e construir uma educação pública e gratuita para todos e um mundo justo e sem opressão.

União da Juventude Rebelião (UJR)

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