Isis Mustafa, 26 anos, é estudante de Políticas Públicas na Universidade Federal do ABC e militante da União da Juventude Rebelião (UJR) e do Movimento Correnteza. Atualmente, ocupa a Secretaria Geral da União Nacional dos Estudantes (UNE), que realizará seu 59º Congresso no próximo mês de julho.
Redação
A Verdade – Quais são os principais problemas vividos pelos estudantes nas universidades públicas?
Isis – Apesar da recomposição orçamentária realizada pelo Governo Lula para suprir o rombo deixado por Bolsonaro no caixa das universidades, a medida ainda é tímida e não resolve o problema crônico da falta de verbas. Existem muitas obras da expansão universitária que seguem paralisadas e sem perspectiva de retomada, como o alojamento da UFRJ, por exemplo. Além disso, os estudantes trabalhadores e de famílias pobres, que são maioria nas instituições públicas, estão enfrentando muita dificuldade devido à falta de assistência estudantil. As bolsas são poucas, muitas universidades não possuem moradia e os restaurantes universitários fecharam ou estão muito caros. Na UFPB, o restaurante foi gratuito, por décadas, depois passou a cobrar R$ 10 por refeição e a nova empresa privada que vai assumir o serviço cobrará R$ 14. Um aumento de 40%!
Que medidas são necessárias para resolver esses problemas?
Primeiro, é preciso ter mais verbas para as universidades públicas. Se atingirmos a meta de 10% do PIB para a Educação prevista no Plano Nacional de Educação, daremos um passo importante. Mas, em 2022, somente 2,7% do orçamento federal foi destinado à pasta, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida. Também é preciso ter um programa de retomada das obras paralisadas para estruturar as universidades, além de realizar concursos públicos para repor o quadro técnico e docente das instituições. Atualmente, 70,2% dos estudantes das universidades federais é de baixa renda, por isso precisamos defender o direito desses jovens de concluírem seus cursos. É preciso tornar lei o Plano Nacional de Assistência Estudantil e fortalecê-lo com mais recursos e diretrizes mais duras. Não podemos aceitar que existam universidades em que a refeição custa R$ 16 (UFTM). Infelizmente, o Governo Lula pretende manter o Teto de Gastos com o chamado Arcabouço Fiscal, penalizando a educação para assegurar o escoamento dos recursos públicos para banqueiros e especuladores. Precisamos de uma auditoria da dívida pública e da taxação das grandes fortunas para que o Estado brasileiro tenha mais recursos para investir em Educação, Saúde e Moradia.
Qual é o papel da UNE nessa luta e que avaliação você faz da atual gestão da entidade?
A UNE deve cumprir um papel central nesse processo. Infelizmente, a atual diretoria da UNE é composta, em sua maioria, pela UJS (PCdoB) e seus aliados, que não fazem jus à longa história de lutas da entidade. Este setor se caracteriza pelo imobilismo, fazendo pouco-caso das mobilizações estudantis de rua, apostando todas as nossas pautas nos arranjos institucionais com os inimigos históricos da Educação no Congresso Nacional.
Em julho, acontecerá o 59º Congresso da UNE. Quais são as expectativas de mudança dessa situação?
Esperamos que a juventude que ocupou as ruas nas manifestações pelo Fora Bolsonaro e mobilizou os Centros Acadêmicos seja protagonista neste Congresso da UNE. O Movimento Correnteza vem vanguardeando muitas lutas nos últimos anos, inclusive durante a pandemia, reativando as entidades estudantis de base e levantando bem alto a bandeira da defesa da educação. Precisamos trabalhar arduamente, visitar as universidades públicas e privadas, conversar com os estudantes e convencê-los de que lutar vale a pena. É preciso que a UNE volte a impulsionar as lutas do movimento estudantil. O Brasil só será um país justo quando tivermos um poder popular e construirmos a sociedade socialista.
Que propostas o Correnteza defende para mudar a UNE?
Defendemos que a UNE realize um grande Conselho Nacional de Entidades de Bases (Coneb) para ativar em uma só voz estudantil a defesa desse programa para a educação que eu citei anteriormente. Também precisamos que a UNE use de sua autoridade na sociedade para lutar contra o fascismo. É simbólico, portanto, que seja inaugurada a nova sede da UNE na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, que foi incendiada pela ditadura, em 1964. Apesar de a UNE ter recebido uma indenização, esta sede continua de portas fechadas e com obras paralisadas há anos. Esse local deve ser um espaço de resistência e organização estudantil.
Entrevista publicada na edição impressa nº271 do Jornal A Verdade.